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Paxlovid: como funciona o remédio contra covid incorporado ao SUS

Paxlovid, a pílula da Pfizer contra a covid-19 - Reuters
Paxlovid, a pílula da Pfizer contra a covid-19 Imagem: Reuters

Do VivaBem, em São Paulo

09/05/2022 12h24

Na última sexta-feira (6), o Ministério da Saúde anunciou a incorporação do medicamento paxlovid, pílula contra a covid-19 da Pfizer. O remédio, aprovado para uso emergencial pela Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) em 30 de março, é o primeiro no SUS (Sistema Único de Saúde) contra a doença nas formas leve e moderada e para quem tem alto risco de complicações. Ele tem o objetivo de prevenir internações, complicações e mortes.

Composto pelos antivirais nirmatrelvir e ritonavir, o paxlovid é de uso adulto e com venda sob prescrição médica. A Anvisa vetou que pacientes hospitalizados iniciem o tratamento com o remédio, assim como não recomenda o uso para grávidas e pacientes com insuficiência renal grave ou com falha renal.

Paxlovid: o que é e como funciona o remédio

O que é o paxlovid?

Trata-se de um antiviral, classe de medicamentos indicada para o tratamento de infecções causadas por vírus, no caso, o Sars-Cov-2, coronavírus que provoca a covid-19. O remédio foi desenvolvido pela Pfizer.

Como o paxlovid funciona?

Os vírus possuem enzimas que ajudam no ciclo de sua replicação. Uma delas se chama protease e é responsável pelo amadurecimento do vírus. Quando não amadurece, ele é incapaz de se multiplicar. O paxlovid, então, promove a inibição da protease do novo coronavírus, que foi batizada de Sars-CoV-2- 3CL, impedindo que ele complete seu ciclo de vida.

Como foi desenvolvido o paxlovid?

Eduardo Sprinz, infectologista e professor de medicina da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), explica que os vários tipos de coronavírus vêm causando resfriados em seres humanos há quase meio século e, portanto, os cientistas já haviam identificado as principais enzimas e proteínas desses vírus.

Eles sabiam também que a protease é essencial para outros vírus, como o HIV. Contra este, já existe um antirretroviral inibidor da protease. Assim, quando apareceu um coronavírus letal, pesquisadores do mundo inteiro empreenderam uma colaboração para o desenvolvimento de vacinas e tratamentos. Foi a partir dessas iniciativas que se desenvolveu uma molécula considerando a característica estrutural da protease do Sars-Cov-2.

"A diferença fundamental, em comparação aos antivirais disponíveis, é que essa substância é a primeira desse tipo. Se ela for aprovada e autorizada, estaremos diante de um marco histórico na medicina. Afinal, será o primeiro antiviral oral de sua classe especialmente desenhado para ser um inibidor de protease (3CL) do SARS-Cov-2", observa Sprinz.

Qual a eficácia do paxlovid?

Como a covid-19 é uma infecção respiratória aguda, o estudo da Pfizer EPIC-HR EPIC-HR (sigla em inglês para "Avaliação do Inibidor de Protease Para a Covid-19 em Pacientes de Alto Risco"), mostra que quanto mais rápido for feito o tratamento, maior é a chance de sucesso.

Segundo os cientistas, quando usado nos primeiros três a cinco dias de manifestação dos sintomas da doença, o medicamento pode reduzir a gravidade da infecção, evitar 9 de cada 10 internações.

Na pesquisa, a estratégia terapêutica foi colocada em prática da seguinte forma: após o teste molecular para confirmar a presença do vírus no organismo, as pessoas tinham de ser tratadas no período de três a cinco dias [janela de oportunidade] dos primeiros sinais e sintomas ou conhecimento de contato com o vírus. O tempo de tratamento foi de cinco dias após o início, e o esquema de doses era de duas pílulas do paxlovid, mais um comprimido de outro fármaco, o ritonavir, duas vezes ao dia (de 12 em 12 horas).

Essa terapia foi eficaz na redução do risco de hospitalização ou morte em 89% entre pessoas com risco para o desenvolvimento de doença grave.

O ritonavir foi sintetizado para o tratamento do vírus HIV. Ao longo dos anos, percebeu-se que ele tinha uma característica específica —permitia que algumas substâncias permanecessem mais tempo no organismo ou aumentassem os níveis de circulação delas na corrente sanguínea.

A explicação é de Monica Gomes, infectologista do Hospital das Clínicas da UFPR (Universidade Federal do Paraná). "É preciso saber que, no estudo, o ritonavir não tem efeito antiviral, mas ajuda o paxlovid a ser melhor aproveitado pelo organismo. Em pacientes com HIV, a dificuldade era a tolerância a esse medicamento. Mas a terapia proposta no EPIC-HR prevê cinco dias de tratamento, o que não deve trazer efeitos indesejados, nem mesmo as temidas interações medicamentosas", acrescenta a médica.

*Com informações de reportagem publicada em 23/11/21.