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24% dos adolescentes com obesidade não reconhecem que têm a doença

Dois terços dos adolescentes com obesidade acham que é sua a responsabilidade de perder peso - iStock
Dois terços dos adolescentes com obesidade acham que é sua a responsabilidade de perder peso Imagem: iStock

Luiza Vidal

De VivaBem, em Maastricht (Holanda)*

05/05/2022 08h24

Doença crônica, a obesidade é um problema sério de saúde e que exige tratamento constante ao longo da vida. O excesso de peso, inclusive, parece ser ainda mais preocupante quando focamos nos mais jovens. Para muitos adolescentes, falar sobre o assunto com os pais ou médicos pode ser difícil.

De acordo com uma pesquisa global divulgada nesta quinta-feira (5), no Congresso Europeu de Obesidade, em Maastricht, na Holanda, um em cada três adolescentes se sente incapaz de falar com seus pais sobre o tema e, por isso, muitos recorrem às mídias sociais para encontrar conselhos —o que pode ser muito perigoso, já que muitos conteúdos não se apoiam em evidências científicas.

Para Jason Halford, autor principal do estudo, professor e diretor da Faculdade de Psicologia da Universidade de Leeds, na Inglaterra, e presidente da EASO (na sigla traduzida em português, Associação Europeia para Estudo da Obesidade), a adolescência é um período de muitas mudanças físicas e emocionais e, com isso, esse grupo tende a guardar para si os maiores desconfortos da vida.

"Os adolescentes não dividem suas preocupações sobre o peso com os pais, principalmente se não tiveram resultados bem-sucedidos com a perda de peso. O problema é que eles acabam recorrendo às redes sociais. A procura pelo médico fica em 5º lugar", contou o pesquisador, durante entrevista à imprensa no congresso.

Para os adolescentes que vivem com obesidade, as fontes de informação mais populares sobre estilo de vida saudável, controle e perda de peso foram o YouTube (34%), seguido pelas redes sociais (28%), família e amigos (25%), plataformas de busca (25%) e médicos (24%).

Como o estudo foi feito

O levantamento ACTION teens incluiu 5.275 adolescentes de 12 a 17 anos que vivem com obesidade, 5.389 pais/cuidadores e 2.323 profissionais de saúde. Os países incluídos foram Austrália, Arábia Saudita, Colômbia, Coreia do Sul, Espanha, Itália, México, Reino Unido, Taiwan e Turquia.

A pesquisa foi apoiada pela empresa Novo Nordisk, em colaboração com um grupo de especialistas internacionais, como a EASO e a EPCO (Coalizão Irlandesa para Pessoas que vivem com Obesidade).

Os dados foram coletados de forma online, no ano passado, com perguntas incluindo atitudes em relação à obesidade e seu impacto, número de tentativas de perder peso e motivações/barreiras para a perda de peso. Confira os principais achados abaixo:

Obesidade não reconhecida

Para fechar o diagnóstico da obesidade, além do IMC (índice de massa corporal), os médicos utilizam outras medidas como o percentual de gordura corporal e o exame de bioimpedância.

No entanto, um achado da pesquisa apontou que um quarto (24%) desses jovens não reconhece que têm obesidade. Inclusive, os próprios pais —um em cada três— desconhecem a doença nos adolescentes.

E isso pode ocorrer por diversos fatores, segundo Amélio Godoy Matos, endocrinologista e professor da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro). "Às vezes, é uma falta de consciência de que existe uma doença chamada obesidade", explica o médico, que não tem vínculo com o estudo.

"Em segundo lugar, os próprios pais negam frequentemente, eles não aceitam o diagnóstico. E isso é muito comum", conta Matos.

Obesidade infantil - torwai/iStock - torwai/iStock
Imagem: torwai/iStock

O problema é que a obesidade não reconhecida prejudica o diagnóstico e, consequentemente, um tratamento adequado. Com isso, essa pessoa, principalmente sendo adolescente, aumenta o risco de ter problemas cardiovasculares, metabólicos, nas articulações, além do desenvolvimento de diversos tipos de cânceres.

Diversos estudos mostram que crianças com obesidade têm maior risco de morte no início da fase adulta, em relação as que não são. Só no Brasil, uma em cada 10 crianças brasileiras de até 5 anos está com o peso acima do ideal: são 7% com sobrepeso e 3% já com obesidade, segundo dados do Ministério da Saúde.

Adolescentes não estão em sintonia com profissionais de saúde e pais

Um ponto que chama atenção no estudo é que as principais motivações e barreiras para perder peso para os jovens são diferentes das apresentadas principalmente pelos médicos.

Em relação à motivação para perderem peso, os adolescentes citaram: desejo de estar mais em forma/em forma (40%), insatisfação com o peso (37%) e desejo de ser mais confiante (35%).

Os cuidadores pontuaram quase as mesmas respostas. Já os profissionais de saúde destacaram: desejo por mais confiança/autoestima (69%), melhora na vida social e popularidade (69%) e desejo de parecer com colegas de sua idade (65%).

Sobre as barreiras para perder peso, os jovens falaram em: não conseguir controlar a fome (38%), falta de motivação (34%) e gostar de comer alimentos não saudáveis (32%). Por outro lado, os médicos citaram: hábitos alimentares não saudáveis (93%), falta de exercício (92%) e vontade de comer alimentos não saudáveis (91%).

"Os médicos parecem acreditar que adolescentes com obesidade não estão muito motivados [para cuidar da obesidade] e nem ao menos estão tentando, só que eles estão, mas não parecem encontrar muito suporte para isso", diz o endocrinologista Ricardo Mendonza, um dos autores do estudo, e também diretor médico da Novo Nordisk, farmacêutica patrocinadora da pesquisa.

Dois terços dos adolescentes com obesidade acham que é sua a responsabilidade de perder peso

O estudo também mostrou que a maioria sente que depende deles mudar seu status de peso, com uma proporção maior de adolescentes (65%) do que os pais ou cuidadores (37%) e dos profissionais da saúde (27%) —mostrando que perder peso era responsabilidade exclusiva dos pacientes, o que não é verdade, já que o tratamento da obesidade envolve diversos fatores, como mudanças no estilo de vida, acompanhamento médico, entre outros.

Criança com sobrepeso comendo salada; obesidade infantil - iStock - iStock
Imagem: iStock

Enquanto mais da metade (58%) dos jovens tentou perder peso no ano passado, 75% deste grupo tinha alguma ou forte probabilidade de tentar fazê-lo nos próximos 6 meses.

Alguns pais relataram que os adolescentes tentaram perder peso no ano passado (41%) e que estes tinham alguma ou forte probabilidade de tentar fazê-lo nos próximos 6 meses (63%). Já os médicos indicaram que 38% dos seus pacientes fizeram uma tentativa séria de perder peso no ano passado.

Como melhorar este cenário?

Jason Halford acredita que a partir dos achados é possível melhorar a conduta com adolescentes que têm obesidade. "Em primeiro lugar, criar uma melhor comunicação entre os adolescentes, os cuidadores deles e os profissionais de saúde", disse. O professor também citou o suporte educacional, focado nas necessidades e desafios dos pacientes, para pais e médicos.

Por fim, Mendonza, outro autor do levantamento, acredita que o próximo passo, de fato, é levar esses dados para os órgãos públicos de saúde dos países, além de ONGs, associações de pacientes, escolas, entre outras entidades envolvidas.

*A repórter viajou a convite da Novo Nordisk.