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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Pessoa madura é aquela que sabe se frustrar e aprende com adversidades

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Sarah Alves

Do VivaBem, em São Paulo

29/04/2022 04h00

Não há como negar: a maturidade é uma qualidade valorizada e almejada. No entanto, ao contrário do que muitos podem pensar, ser maduro não é viver longe de adversidades, mas aprender a lidar com os problemas e frustrações da melhor forma.

O conceito de maturidade foca no autodesenvolvimento, sobre se reconhecer nas situações e ter consciência de si, além de se isolar dos julgamentos alheios.

"A maturidade é importantíssima até no sentido de saber que não pesa desagradar, você não age pensando em ter que agradar o outro. E isso não é tomar decisões por conta de um individualismo, mas por não ter amarras", comenta a psicóloga Gilcinéia Santos, doutora pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

Idade não é determinante

Um pilar da maturidade depende do sentido de "resposta à vida", ou seja, o quanto a pessoa aprende com as situações —mesmo que não de forma imediata. Por isso, a idade cronológica não é garantia de evolução nesse sentido.

Pessoas jovens que assumiram responsabilidades antes da hora podem amadurecer mais rápido do que quem é mais velho, por exemplo. Mas isso também tem seu peso: no futuro, é comum que elas repensem as etapas que pularam e, em casos de muita pressão pelas obrigações, isso pode evoluir para problemas emocionais, como quadros de ansiedade e depressão. "A imaturidade acontece quando há reação desproporcional a respeito das situações com manejo emocional", diz o psicólogo Marco Aurélio Fernandes, professor da Faculdade Pitágoras São Luís (MA).

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Segundo o psicanalista alemão Erik Erikson (1902-1994), autor da Teoria do Desenvolvimento Psicossocial, o ser humano tem oito estágios na vida, sendo que o sétimo é a mais atrelado à maturidade. A fase, entre os 41 e 65 anos, é descrita como um período de preencher lacunas, priorizando ações empáticas.

"Erikson diz que o indivíduo pode, neste momento, deixar de voltar para si e passa a investir nos outros. Preocupar-se com qualidade das amizades, se conhecer, saber o que dá conta de fazer", descreve a psicóloga Gilcinéia Santos. "A maturidade é um momento privilegiado da pessoa saber quem ela é, a capacidade de se desenvolver mais ainda e escolher aonde vai canalizar a sua potencialidade", completa.

Frustrar-se faz parte

Outro ponto que envolve a maturidade é a capacidade de aprender a se frustrar, o que nem sempre é fácil e normalmente envolve a expectativa sobre algo ou si mesmo. "Se você tem uma expectativa muito além do seu potencial, seja social, acadêmico, profissional, isso leva à frustração. É importante fazer uma avaliação realista da demanda e do seu potencial", afirma o psiquiatra Pedro Ferreira, professor da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).

Ferreira explica que a equação ainda compreende algo essencial: o nível de resiliência —bastante influenciado por agentes externos, como os ensinamentos dos pais.

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A relação com cuidadores precisa equilibrar amparo e estímulo, para que os pequenos desenvolvam seus talentos e personalidade sem pressões por expectativas de terceiros. Dar espaço para a independência é necessário, porque crianças muito protegidas podem acreditar que só enfrentaram os problemas por terem apoio e crescem com a sensação de que não conseguem administrar as adversidades sozinhas.

O que diz o cérebro

No cérebro, o córtex pré-frontal é o responsável por regular as estratégias de comportamento, controlar o emocional e manter a foco. "Em um indivíduo maduro, o córtex pré-frontal prioriza as necessidades de agir, de tomar decisões. Ele precisa planejar, ter um julgamento capaz de discernir o essencial do acessório e, por fim, executar dentro de um tempo previamente estabelecido, sem procrastinar", diz o psiquiatra Pedro Ferreira.

Procrastinar faz parte em alguns casos, mas passa do ponto quando está atrelado ao fato de postergar um trabalho por se autossabotar e o temor de falhar, e se frustra. A dica, explica o psiquiatra, é elencar prioridades do que pode ser deixado para depois e realizar cada passo com calma.

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O mundo não vai parar

Segundo os especialistas, para trabalhar a maturidade ainda é importante dedicar tempo a si. Adotar a postura de ser essencial para as coisas, como no trabalho, pode gerar frustração. Minimizar sentimentos de rancor e arrependimentos pelo que ficou no passado são formas de viver com menos remorso, sem a sensação de que a vida deve algo a você por tanto esforço e investimento.

Isso lembra a importância em manter uma rotina equilibrada, com tempo de descanso e atividades além do trabalho. Saber em que direcionar a atenção é um caminho para tomar decisões mais assertivas para você e todos ao seu redor.

"Para nossa construção, devemos treinar o autoconhecimento, trabalhar a aceitação, cultivar pensamentos positivos e tentar ter uma vida equilibrada com o lazer, para não ficarmos só no dever, porque não vamos ter energia para lidar com um problema quando ele aparecer", diz a psicóloga Raquel Martins dos Santos.