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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Dor de ouvido recorrente não é normal e deve ser investigada; saiba mais

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Imagem: iStock

Janaína Silva

Colaboração para VivaBem

29/04/2022 04h00

Dor, otorreia —secreção purulenta—, febre, diminuição auditiva, tontura, sensação de ouvido tampado —plenitude aural—, vermelhidão local, sangramento e até perfuração timpânica estão entre os sintomas provocados pelas otites.

"Não são simultâneos, mas, de acordo com a localização e o tipo da inflamação, a intensidade e formas de apresentação variam", explica Márcio Salmito, médico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.

As otites são doenças diferentes —externas, médias ou internas— que se manifestam de forma aguda ou crônica, exigindo cuidados distintos. "Uma otite aguda, por exemplo, costuma ser medicada com gotas locais. A média precisa de comprimidos e não melhoraria nada com gotas tópicas", ressalta Salmito.

Segundo a frequência e a gravidade das manifestações, os tratamentos são diversos e incluem medicamentos e também procedimentos cirúrgicos. Por isso, diante de sintomas de dor de ouvido, secreção ou outro indício de otite, a recomendação é buscar atendimento médico para o correto diagnóstico.

"É muito importante o acompanhamento das otites com otorrinolaringologista para o diagnóstico precoce, evitando a evolução cirúrgica", aconselham Ícaro Grandesso, Rayza Gaspar dos Santos e Saramira Cardoso Bohadana, médicos do Sabará Hospital Infantil, em São Paulo.

Investigando as origens do problema

Criança na piscina com boia - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

As causas vão de banhos de piscina, resfriado, gripe, covid-19 a fatores alérgicos. Malformações craniofaciais, doenças autoimunes, que se manifestam na via aérea superior e ouvidos, e patologias crônicas, como fibrose cística e discinesia ciliar, apesar de raras, não são descartadas.

"É importante pesquisar um eventual motivo e fatores de riscos que possam ser tratados, como uma rinite ou sinusite crônica e hipertrofia de adenoides. Extinguir a causa é sempre melhor", enfatiza o médico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Tipos e tratamentos

Existem três tipos de otite de acordo com o local no qual se desenvolvem.

A externa é uma inflamação gerada por bactérias da pele local. Ocorre mais no verão, quando os indivíduos mantêm as orelhas molhadas por muito tempo em banhos de piscina. A terapêutica consiste no uso de gotas otológicas contendo antibióticos.

"A medicação sistêmica é reservada aos pacientes com sintomas graves. É fundamental a realização de limpeza otológica por profissional capacitado e a proteção local durante contato com a água no banho", orienta a equipe médica do Sabará Hospital Infantil.

A otite média é a inflamação na parte mais interna, onde estão localizados o tímpano e os ossinhos do ouvido —martelo, bigorna e estribo. Essa área não se comunica diretamente com a de fora, apenas pelo nariz.

Ela ocorre após uma infecção na via aérea superior, com aumento de produção de secreção, meio propício à proliferação de algumas bactérias, como a Streptococcus pneumoniae. Esse acúmulo de secreção provoca o abaulamento de membrana timpânica e leva à dor.

Já a otite interna recebe, também, o nome de labirintite infecciosa e é raríssima. "É uma infecção na região mais interior de todas, conhecida como labirinto. Afeta a cóclea e o vestíbulo e chega a causar surdez definitiva. Geralmente, é uma complicação de uma otite média não tratada ou de uma meningite", descreve Salmito.

Indicação cirúrgica e tubos de ventilação

água no ouvido; cera; dor de ouvido; orelha;  - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

As situações em que a orelha média fica preenchida totalmente por secreção por meses ou anos podem ser sanadas com procedimentos que realizam a aspiração da secreção ou por meio de uma perfuração no tímpano para drenagem, isolada ou pela introdução de tubo de ventilação a fim de evitar a recorrência da doença. O procedimento é chamado de timpanotomia.

Os tubos de ventilação são indicados para a otite crônica secretora que não foi curada com medicamentos e têm duração de meses, e são expulsos de maneira natural. O procedimento é rápido e praticamente indolor, feito em consultório, para drenar a secreção e restaurar a audição.

O dispositivo de ventilação mantém a comunicação entre a orelha média e a externa. Deve ser realizada a proteção no momento do banho e não são aconselhados o uso de piscinas e mergulho enquanto o tubo persistir.

Segundo Bezerra, em muitos casos não é necessário aguardar três meses, tempo que se espera para confirmar o avanço da doença, para a cirurgia. "Pela audiometria é possível prever a evolução e se a cirurgia precoce é mais indicada."

Há também situações em que grandes perfurações no tímpano requerem cirurgia. Quando a mastoide (osso atrás da orelha) é afetada é preciso realizar uma limpeza dessa estrutura.

Mais frequente no público infantil

Dor de ouvido - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

A otite média é bem mais comum em crianças por conta da anatomia da via aérea superior que ainda está em fase de desenvolvimento. A comunicação entre o nariz e ouvido se dá por uma estrutura tubular chamada tuba auditiva. À medida que se cresce, ela fica mais verticalizada e dificulta a passagem dos microrganismos do nariz para o ouvido.

"70% das crianças de até cinco anos apresenta uma otite por ano; na faixa de 5 a 14 anos, a incidência de uma otite anual cai para 20% e acima dos 14 anos, a taxa passa para 3%", elucida Thiago Bezerra, otorrinolaringologista médico no HC (Hospital das Clínicas) da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), ligado à rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares).

De acordo com ele, durante a pandemia e o distanciamento social, houve uma queda do número de crianças que tiveram otite, pela redução à exposição e contágio de outras viroses e resfriados. O tratamento consiste no uso de uso de antibióticos e corticoides.

Aguda x crônica

No momento agudo, há consequências como dor, desconforto, mal-estar e provável progressão para as estruturas vizinhas, como o osso da mastoide e o labirinto.

Com a repetição ou cronicidade, há um comprometimento da capacidade de ouvir e o risco de ocorrer uma perfuração do tímpano, que possibilita a entrada de bactérias no interior da orelha média e ocasiona a infecção crônica.

A duração da otite recorrente é de semanas, meses ou anos devido a motivos genéticos ou por outras enfermidades, como sinusites crônicas e crescimentos (hiperplasia) de estruturas que obstruem a tuba auditiva, como a adenoide nas crianças, alterações anatomofuncionais, por exemplo, malformações craniofaciais, trauma local, sequelas de otite média aguda, entre outras.

Complicações

Homem com dor de ouvido, otite - iStock - iStock
Imagem: iStock

Quando as otites não são tratadas corretamente, há o risco de evoluírem de forma crítica. A otite externa pode desenvolver celulite —infecção ocasionada por bactérias que provoca vermelhidão, inchaço e dor local— e abscesso (bolsa de pus).

"Na média, existem afetações otológicas e sistêmicas, desencadeando otite crônica serosa, perfuração timpânica, mastoidite, abscesso subperiosteal, perda auditiva, complicações intracranianas e sepse", lista a equipe médica do Sabará.

A otite média crônica pode evoluir com retração da membrana timpânica, hipoacusia, que é a diminuição da audição, e colesteatoma, que consiste em uma lesão com produção exacerbada de queratina, em formato cístico.

Em crianças, é preciso observar questões relativas à aprendizagem nos casos crônicos, devido à perda auditiva.

Fontes: Ícaro Grandesso, otorrinolaringologista pediátrico da equipe de via aérea do Sabará Hospital Infantil (SP); Márcio Salmito, médico responsável pelo serviço de otoneurologia na Unidade Campo Belo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP); Rayza Gaspar dos Santos, otorrinolaringologista pediátrica da equipe de via aérea do Sabará Hospital Infantil (SP); Saramira Cardoso Bohadana, médica e coordenadora do programa Aerodigestivo do Sabará Hospital Infantil (SP) e Thiago Bezerra, otorrinolaringologista, professor na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e médico no HC (Hospital das Clínicas) da UFPE ligado à rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares).