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Brasil tem 1º caso da ômicron XE; o que já se sabe sobre a nova variante

Subvariante BA.2 da cepa ômicron do coronavírus - iStock
Subvariante BA.2 da cepa ômicron do coronavírus Imagem: iStock

Felipe Oliveira

Colaboração para o UOL

08/04/2022 13h28

O Brasil registrou na quinta-feira (7) o primeiro caso de covid-19 provocado pela variante XE, híbrida das cepas ômicron BA.1 e BA.2 do coronavírus, que, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), parece ser quase 10% mais transmissível que a BA.2.

No mundo, o primeiro caso da XE foi registrado no Reino Unido em 19 de janeiro. O último boletim divulgado pelo país europeu aponta que já são 637 casos confirmados. Mas, por enquanto, não há motivo para preocupação.

O Ministério da Saúde disse, em nota, que mantém o constante monitoramento da covid-19 e reforça a importância do esquema vacinal completo "para garantir a máxima proteção contra o vírus e evitar o avanço de novas variantes no país".

Como se formou a nova variante?

A XE é uma recombinação de duas cepas da ômicron, a BA.1 e a BA.2 —ou seja, quando duas cepas trocam material genético formando uma nova variante.

Isso não significa que um indivíduo que seja infectado com a XE a partir de agora esteja com duas cepas dentro do organismo, nem que "monstrinhos" foram criados, conforme explicou o virologista da rede Dasa e pesquisador do Laboratório de Virologia do Instituto de Medicina Tropical, da Faculdade de Medicina da USP, José Eduardo Levi, à Folha.

Em dezembro do ano passado, pesquisadores brasileiros já haviam observado sinais de recombinação envolvendo a ômicron. Eles analisaram dados de 146 genomas da variante coletados em Hong Kong, Botsuana, África do Sul, Canadá, Austrália, Itália, Bélgica, Israel, Áustria, Inglaterra e Alemanha.

"Um aumento na circulação do vírus aumenta as chances de um mesmo indivíduo se infectar por diferentes variantes e, portanto, gerar essa troca de material genético entre as variantes", disse Danilo Rosa Nunes, pesquisador da EPM-Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo).

É mais perigosa?

Ainda não existem dados concretos para comprovar que a transmissão da XE é maior que a ômicron comum, que fez os casos voltarem a disparar ao redor do mundo. O que a OMS diz até o momento é que a cepa tem potencial para ser até 9,8% mais transmissível.

"Essa combinação em particular, XE, mostrou uma taxa de crescimento variável e ainda não podemos confirmar se ele tem uma verdadeira vantagem de crescimento", alertou, em um pronunciamento, Susan Hopkins, assessora médica chefe da UKHSA (Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido).

Dois terços dos entrevistados recentemente infectados com a variante ômicron afirmaram já terem tido covid anteriormente, segundo dados de um estudo com milhares de voluntários na Inglaterra. - PA Media - PA Media
Com a nova variante XE, o uso de máscaras pode ser repensado
Imagem: PA Media

O ideal, portanto, é se proteger da melhor forma possível para evitar que a situação se grave e acompanhar a evolução de casos, mantendo a vigilância genômica do vírus.

O uso de máscaras pode ser repensado. "Ter a coragem de, se for evidenciado o aumento abrupto de casos, voltar atrás (na flexibilização da proteção facial", disse Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale e coordenador da Rede Corona-ômica, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, ao jornal.

Devo me preocupar?

O importante neste momento é saber que não se deve nem subestimar e nem superestimar o potencial de uma nova variante.

As recombinações não apareceram exclusivamente agora e uma delas, inclusive, chegou a causar preocupação por ser uma fusão das variantes delta e ômicron, sendo apelidada de "deltacron".

Mas esse tipo de recombinação é esperado pelos especialistas em meio a uma intensa circulação de variantes.

Em fevereiro deste ano, Maria Van Kerkhove, epidemiologista e líder técnica da OMS para covid-19, já havia dito não querer "assustar as pessoas com a ideia de recombinação". "Talvez comecemos a ver recombinações. Isso pode acontecer, mas pode ser um reflexo de uma melhor vigilância", disse ela na época.

Segundo Spilki, uma mesma variante pode fazer estragos em um lugar e não em outros. Isso por que o comportamento e a situação vacinal podem influenciar no aumento do número de casos. "Hoje todas essas variantes têm um campo muito fértil para se disseminar", disse, lembrando que as medidas de proteção básicas contra a covid-19 foram afrouxadas no país inteiro.

O especialista afirmou que isso não significa que veremos um novo aumento no número de mortes pela doença, porque a maioria da população já está vacinada.

Contudo, ele não descarta o aumento no número de casos, alta na ocupação de leitos e até mesmo maior afastamento do trabalho, como o visto com a ômicron a partir do fim do ano passado.