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Alteração genética é associada ao risco de aborto espontâneo, diz estudo

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Imagem: iStock

Bruna Alves

Do VivaBem, em São Paulo

02/04/2022 15h40

Uma pesquisa publicada na revista científica Scientific Reports, da Nature, mostrou que alterações em dois genes podem estar associadas a casos de aborto espontâneo antes de três meses de gestação.

Os autores, dentre eles pesquisadores da Igenomix Foundation, na Itália, acreditam que a descoberta possa ajudar casais que sofrem repetidamente com abortos espontâneos, sem nenhuma explicação.

Os indivíduos saudáveis apresentam 46 cromossomos, mas essa condição pode ser alterada quando há aneuploidias (aumento ou diminuição do número de cromossomos).

Dependendo do tipo de aneuploidia cromossômica, o bebê pode nascer com síndrome de Down ou trissomia 21, síndrome de Turner, síndrome de Klinefelter, dentre outras. As alterações cromossômicas são a causa de 50% a 70% das perdas gestacionais. No entanto, há casos que ocorrem o aborto espontâneo em mulheres saudáveis, com embriões euploides (cromossomicamente saudável).

Algumas dessas razões podem ser alterações hormonais e infecções bacterianas ou virais. Mas outra explicação diz respeito a uma alteração no gene, não no cromossomo— e foi justamente esse o ponto investigado pela pesquisa e que permitiu associar as alterações genéticas nos genes STAG2 e TLE4 com maior risco de perda gestacional precoce.

"São informações que podem ser relevantes para aconselhamento genético e gerenciamento de risco, podendo assim ajudar casais com histórico de perdas gestacionais precoces", explica Taccyanna Mikulski Ali, bióloga molecular e coordenadora de análises de pré-natal da Igenomix Brasil.

Como o estudo foi realizado

Foi sequenciado o genoma de 46 embriões euploides abortados de mães adultas saudáveis para entender a suscetibilidade genética ao aborto não causado por aneuploidias cromossômicas.

A análise contemplou 439 variantes únicas em 399 genes, incluindo genes conhecidos por estarem associados a perdas espontâneas.

Entre os genes priorizados nas análises, foram encontrados o STAG2 e o TLE4. O STAG2 tem a função de codificar a subunidade do complexo coesina (quando inativada, a coesina se mostrou letal em camundongos). Já o TLE4 interage fisicamente com uma região do cromossomo 9, associada a abortos espontâneos.

As pacientes que tiveram as perdas incluídas no estudo são em sua maioria de origem europeia (87%), com idade media de 36,7 anos, na data da coleta. O ácido fólico foi utilizado por 71% das mães, sem diferença entre os casos iniciais e recorrentes.

Ao todo, a partir dos registros médicos disponíveis, os autores observaram que as mães dos embriões estavam na faixa de indivíduos adultos saudáveis.

Na amostra, a idade gestacional dos embriões ao término da gestação, calculada como o intervalo entre a data da interrupção da gestação e a data da última menstruação, variou de 7,14 a 19,43 semanas. Entre os 46 embriões, 21 foram classificados como casos de abortos recorrentes.

Os próximos passos

As possíveis estratégias para acompanhar e validar os resultados obtidos, de acordo com os autores, será a replicação em uma coorte diferente e maior, assim como a realização de ensaios experimentais sobre propriedades moleculares e celulares dos genes.