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Ex-BBB Rodrigo Mussi tem traumatismo craniano; entenda o quadro

Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Bruna Alves

Do VivaBem, em São Paulo

01/04/2022 13h35

O ex-BBB Rodrigo Mussi segue internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital das Clínicas (SP), após sofrer um acidente de carro. Nas redes sociais, a equipe do empresário disse que ele teve um traumatismo craniano, problema caracterizado por uma pancada ou batida forte na cabeça que atinge o cérebro. Ele também teve duas fraturas expostas e outras menores.

O traumatismo craniano é um quadro classificado em três graus diferentes: leve, moderado e grave, de acordo com o impacto que causou o trauma. No caso do mais grave, o risco de morte é iminente, conforme explica Marcelo Valadares, neurocirurgião, médico do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e pesquisador da disciplina de neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

"O cérebro é um órgão muito sensível, por isso um traumatismo craniano pode levar a morte cerebral. Isso é comum em acidentes de trânsito graves envolvendo motos quando a pessoa é arremessada, atropelamentos, coisas que geram grande impacto e energia na cabeça, porque o cérebro não é feito para suportar isso", relata o especialista.

Um traumatismo leve ocorre, por exemplo, quando uma pessoa cai, bate a cabeça ou leva uma bolada, mas não perde a consciência, não lesiona o cérebro e fica tudo bem.

"Se não desmaiou, a gente sabe que se trata de um caso leve, que não quebrou e não sangrou nada. Então, não haverá qualquer problema", diz Valadares.

Já em casos moderados e graves, há sempre a perda da consciência, um claro indicativo de que o cérebro foi lesionado. Algumas situações são comuns nesses quadros como fratura no crânio, lacerações ou cortes na pele e sangramentos (fora ou dentro do cérebro, dentro do crânio, debaixo da pele). A definição do grau de uma lesão depende da avaliação neurológica do paciente.

Como é feito o tratamento?

O paciente que sobrevive a um traumatismo craniano grave deve seguir com o tratamento junto a fisioterapeutas e fonoaudiólogas, por exemplo, entre outros especialistas, de acordo com suas necessidades individuais.

Vale dizer que o paciente pode se recuperar completamente, ou, parcialmente, mas, nesse caso, ele pode ficar com as mais variadas sequelas.

Valadares lembra, no entanto, que as sequelas, em si, só podem ser diagnosticas depois de um ano do trauma, pois, durante esse período, ainda é possível que o cérebro se recupere.

"A partir do momento que nós achamos que aquela lesão não vai mais se recuperar, daí sim chamamos de sequela, já que é inoperável", diz Valadares, ressaltando que durante os primeiros dias, semanas e até meses não é possível afirmar como o paciente vai ficar após o trauma.

Sempre é necessário fazer uma cirurgia?

Não. O paciente é operado em casos de traumatismo em situações específicas como:

  • Fraturas complexas que precisam ser corrigidas;
  • Quando há sangramentos graves que se não forem removidos podem levar à morte (sendo esse o motivo mais comum para a cirurgia);
  • E ainda para implantar monitores de pressão, que monitoram inchaços na região nos dias seguintes.

"A maior parte dos pacientes que têm traumatismo craniano grave têm sangramentos dentro do crânio ou do cérebro. Esses são casos que precisam de operação e, às vezes, o paciente fica em coma induzido, ou não, por alguns dias em uma UTI", descreve Valadares.

Quais as possíveis sequelas de um traumatismo craniano?

  • Não sair do coma: isso ocorre quando a pessoa tem tantas lesões cerebrais que não consegue mais recobrar a consciência;
  • Sequelas físicas: há casos em que ela recupera a consciência, mas não consegue falar, se movimentar adequadamente ou se alimentar;
  • Sequelas cognitivas: dificuldade de memória e raciocínio.

Para Valadares, é difícil (não impossível) um paciente ter uma grave lesão cerebral e não ficar com nenhuma sequela. "O paciente que tem um traumatismo craniano grave, muitas vezes, sofre com algum tipo de sequela, seja ela motora ou cognitiva. E, às vezes, ele nunca se recupera completamente", diz.

Valadares cita, ainda, outro ponto importante: há casos em que o traumatismo é leve, mas acontece de forma tão recorrente que, com o tempo, o cérebro é lesionado e as sequelas acabam surgindo.

"Boxeadores, por exemplo, que levam pancada na cabeça o tempo todo, muitas pessoas, mesmo que nunca tenham desmaiado, acumulam lesões tão pequenas no cérebro que com o passar dos anos acabam tendo problemas. Isso é muito frequente", alerta Valadares.

Vale dizer que o traumatismo cranioencefálico é considerado a maior causa de morte e incapacidade em todo mundo, principalmente entre adultos jovens, de acordo com uma revisão de estudos. No Brasil, estima-se que mais de um milhão de pessoas vivam com sequelas neurológicas decorrentes do quadro.

Casos de fratura exposta também pode ser grave

A fratura exposta ocorre quando o osso entra em contato com o ambiente externo, ou seja, ele rompe a pele e fica aparente. "Trata-se de uma emergência ortopédica cirúrgica", afirma Marcos Paulo de Souza, médico ortopedista, vice-presidente da SBOT-RS (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia - Regional Rio Grande do Sul) e gestor da traumatologia do Hospital Mãe de Deus.

E, além do osso ela também atinge os chamados tecidos moles que envolvem o osso. "Por isso é um caso grave. A fratura exposta pode fazer lesão na pele, músculo, vasos e nervos, alerta o vice-presidente da SBOT-RS.

A gravidade do quadro depende do trauma, que pode acontecer devido a um acidente doméstico, como cair de um banco ou escada, até graves acidentes.

E assim como o traumatismo, fraturas expostas também são classificadas por grau: um, dois e três. Quanto maior o grau, maior a gravidade da fratura e do risco de lesões associadas.

"Além disso, se esse paciente com essa fratura exposta entra em contato com terra, grama ou areia, por exemplo, ainda no local do acidente, o risco de contaminação desse osso é muito grande", explica Souza. Às vezes até a própria roupa da pessoa contamina esse meio da fratura", completa.

E além do risco de infecção, ainda há o risco de perda de tecido, de músculo, e até do membro fraturado. "Porque pode ser uma lesão que a gente não consegue reparar e conservar o membro, por isso às vezes tem que amputar. Mas tudo depende do grau da lesão", conclui o vice-presidente da SBOT-RS.

O tempo de recuperação depende da complexidade do quadro e da quantidade de cirurgias de restauração que serão necessárias.