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Remédios e Tratamentos

Um guia dos principais medicamentos que você usa


Paroxetina é antidepressivo que também alivia a ansiedade

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Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

29/03/2022 04h00

Resumo da notícia

  • Para além de quadros depressivos, o fármaco é indicado em outras condições psiquiátricas
  • Ele atua no equilíbrio do humor por promover maior disponibilidade de serotonina
  • Entre os possíveis efeitos colaterais estão o aumento ou a perda de peso
  • O fármaco não tem indicação para tratar crianças e adolescentes menores de 18 anos

No mercado desde o início da década de 1990, a paroxetina é indicada no tratamento de quadros de depressão maior, além de outros quadros psiquiátricos.

O que é paroxetina?

Trata-se de um antidepressivo que pertence à classe dos Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (ISRS), apresentado na forma de cloridrato.

Devido às suas características, o medicamento deve ser comercializado com a apresentação da receita médica, que está sujeita a controle especial (2 vias).

Em quais situações a paroxetina deve ser usada?

Dada a utilização desse fármaco desde a década de 1990, seus efeitos são bastante conhecidos. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e por tempo adequado, conforme orientação médica ou do farmacêutico.

A paroxetina é utilizada, na maioria das vezes, para o tratamento de quadros psiquiátricos como os descritos abaixo:

  • Depressão maior (inclusive na depressão resistente);
  • Comportamento obsessivo ou compulsivo não controlado;
  • Ataques de pânico (até nos casos de pavor de lugares abertos, também conhecido como agorafobia);
  • Ansiedade generalizada, inclusive nas situações em que se exige contato social;
  • Ansiedade seguida de eventos traumáticos.

A literatura sobre a medicação também esclarece que ela tem sido utilizada no tratamento da TPM (Tensão Pré-Menstrual) e dos fogachos em mulheres na menopausa, e também na ejaculação precoce, depressão pós-parto, ansiedade de separação, distimia, entre outras condições. Como esses usos não constam da bula, eles são chamados de off-label.

Entenda como funciona a paroxetina

Ao ser administrado pela via oral, o medicamento é absorvido pelo trato gastrointestinal e distribuído por todo o corpo, incluindo o SNC (Sistema Nervoso Central). O fármaco é metabolizado pelo fígado e excretado pela urina e fezes.

Quanto ao seu mecanismo de ação, a paroxetina aumenta a disponibilidade da serotonina (5-hidroxitriptamina ou 5-HT) —um neurotransmissor relacionado ao humor e à ansiedade— e o faz impedindo a sua recaptação pré-sináptica, ou seja, aquela promovida pelas células encarregadas de gerar e liberar sinais entre os neurotransmissores.

Espera-se que o fármaco comece a fazer efeito em um período de 2, 4 até 6 semanas. As explicações são de Leonardo Régis Leira Pereira, professor do Departamento de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto.

Conheça as apresentações disponíveis

Aropax® e Pondera® são exemplos de marcas de referência da paroxetina. Mas você pode encontrar as versões genéricas.

Confira as apresentações disponíveis:

  • Comprimidos revestidos - 10 mg, 15 mg , 20 mg, 25 mg, 30 mg e 40 mg
  • Comprimidos revestidos de liberação prolongada - 12,5 e 25 mg

As doses são sempre personalizadas porque devem se basear nos sintomas de cada pessoa e na tolerância individual da dosagem prescrita pelo médico ou outro profissional da área da saúde.

Por quanto tempo vou utilizar a paroxetina?

Quando já observada a repetição dos quadros para os quais a paroxetina é indicada, ela pode ser utilizada por tempo indeterminado e/ou até que se alcance o alívio sustentado dos sintomas.

Apesar disso, a depender do perfil de tolerância aos eventuais efeitos colaterais, o medicamento poderá ser substituído por outro, mais favorável ao paciente.

Saiba por que evitar de parar o medicamento por conta própria

A paroxetina não causa síndrome de abstinência, mas pode gerar síndrome de retirada. Assim, o tratamento só deve ser descontinuado com a orientação de seu médico e de forma gradual.

A razão para isso é que, como o medicamento age no corpo todo, quando ele é retirado de uma vez, o organismo não tem tempo de se adaptar. A consequência é a manifestação de sintomas desagradáveis como alterações do ritmo cardíaco, desconforto gastrointestinal, insônia, inquietação —considerados efeitos rebote da falta do medicamento.

Quais são as vantagens e desvantagens da paroxetina?

Na opinião do psiquiatra Emerson Arcoverde Nunes, a maior vantagem da paroxetina é que ela confere alívio parcial dos sintomas da ansiedade quando esta está associada à depressão, podendo até levar à retirada de medicamentos acessórios —como os indicados no combate à insônia, por exemplo.

"Por outro lado, a maior desvantagem é a limitação do uso do fármaco, seja pela impossibilidade de sua indicação para determinadas populações, seja pelas várias e importantes interações medicamentosas", destaca Nunes.

Conheça as contraindicações

O remédio não pode ser usado por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenha tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.

Fique também atento na presença das seguintes condições, que deverão ser noticiadas ao médico ou farmacêutico antes do início do uso do medicamento:

  • Idade inferior a 18 anos
  • Gravidez
  • Amamentação
  • Ter ou ter tido recentemente problemas no coração (como o infarto)
  • Baixas taxas de sódio no sangue
  • Glaucoma
  • Problemas de coagulação
  • Convulsões
  • Problemas ósseos (osteoporose)
  • Problemas nos rins ou fígado
  • Uso de determinados medicamentos

Crianças e idosos podem usar paroxetina?

O uso da paroxetina é contraindicado para crianças e adolescentes com idades inferiores a 18 anos porque existem poucos estudos que confirmam a segurança do uso dela nesse grupo.

Quanto aos idosos, embora não existam restrições de uso do fármaco entre eles, na maioria das vezes os médicos preferem usar outras medicações da mesma classe que tenham perfil de segurança mais adequado para esses pacientes, principalmente quando eles têm idade superior a 65 anos.

A paroxetina também deve ser evitada nesse último grupo quando já estejam presentes perdas cognitivas, já que elas poderiam ser potencializadas.

Estou grávida e pretendo amamentar. Posso usar paroxetina?

Na maioria das vezes, esse medicamento não é indicado para grávidas ou mulheres que estejam amamentando. Caso você descubra que está grávida durante o tratamento com esse fármaco, informe ao seu médico tão logo seja possível.

A literatura sobre a paroxetina já relatou que pode haver risco de problemas para o feto e para o bebê, inclusive com antecipação do parto.

Diante dessas situações, cabe ao seu médico avaliar os riscos e benefícios da continuidade do uso da medicação para você.

Qual é a melhor forma de tomar a paroxetina?

A sugestão é que o comprimido seja ingerido inteiro com água. O fabricante sugere que a paroxetina seja utilizada junto à alimentação. Assim, é importante pedir informações ao seu médico sobre a melhor forma de usá-lo, no seu caso.

Como regra geral, o comprimido não deve ser partido, exceção feita à prévia orientação médica nesse sentido.

Lembre-se que o esquema de doses é sempre personalizado. Evite aumentá-lo, reduzi-lo ou mesmo automedicar-se. Sem a orientação e o monitoramento de um especialista, o risco de efeitos colaterais aumenta.

Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?

Não. O importante é que o paroxetina seja administrada na forma indicada pelo seu médico.

O que faço quando esquecer de tomar o remédio?

Aguarde o horário da próxima dose, e tome o remédio normalmente, conforme orientação médica e do farmacêutico.

É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a dose que foi esquecida. Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.

Quais são os possíveis efeitos colaterais?

Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando usado em doses adequadas.

Apesar disso, os efeitos colaterais mais comuns são enjoo, mudanças na função sexual normal (dificuldade de ereção ou ejaculação precoce/dificuldade de chegar ao orgasmo e alteração no desejo —entre as mulheres), dor de cabeça, fraqueza ou cansaço, dificuldade para dormir.

Algumas pessoas poderão também apresentar alguma(s) das seguintes manifestações:

  • Tontura
  • Dificuldade de concentração
  • Nervosismo
  • Mudanças na memória
  • Confusão
  • Diarreia
  • Constipação
  • Gases
  • Azia
  • Alterações no paladar
  • Alterações na fertilidade masculina
  • Redução do apetite
  • Aumento ou perda de peso
  • Boca seca
  • Dor muscular, ossos, nas costas ou em qualquer outra parte do corpo
  • Sensibilidade nas articulações

Além desses exemplos, a paroxetina pode causar outros efeitos colaterais. Fale com o médico ou farmacêutico caso observe algum sintoma estranho durante o uso desse medicamento.

Interações medicamentosas

Algumas medicações não combinam com a paroxetina. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito.

Avise o médico, o farmacêutico ou o dentista, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas, que são apenas alguns exemplos dessas possíveis interações. Confira:

  • Outros Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina - ISRS (como a fluoxetina)
  • Inibidores da Monoamina Oxidase - IMAOs (fenelzina)
  • Antibióticos de amplo espectro (linezolida)
  • Medicamentos para tratar Parkinson (selegilina)
  • Antipsicóticos (tioridazina)
  • Anticoagulantes (varfarina)
  • Antidepressivos (amitripilina)
  • Anti-histamínicos (loratadina)
  • Anti-inflamatórios não esteroidais - AINES (ibuprofeno)
  • Antiagregantes plaquetários (clopidogrel)
  • Medicamentos para tratar arritmia (digoxina, metropolol)
  • Anticonvulsivante (fenobarbital)
  • Opioides (tramadol)
  • Medicamentos para tratamento de câncer de mama (tamoxifeno)

É importante informar o médico ou o farmacêutico sobre o eventual uso de suplementos como o triptofano, bem como fitoterárpicos, especialmente a Erva-de-São João (Hypericum perforatum), durante o tratamento com a paroxetina. Esses itens também podem interferir na efeito desejado da paroxetina.

Posso tomar bebidas alcoólicas?

É recomendado não consumir esse tipo de bebida que poderia sobrecarregar o fígado —encarregado da metabolização da paroxetina— o que é indesejável. Durante o tratamento, prefira abster-se do consumo de álcool.

A paroxetina pode alterar resultados de exames laboratoriais?

Embora seja raro, podem ocorrer elevação ou alterações de resultados de exames que avaliam as enzimas hepáticas como, por exemplo, as transaminases e o tempo de protrombina.

De acordo com o farmacêutico Aníbal de Freitas Santos Júnior, docente da Uneb, o mesmo pode ocorrer com níveis de eletrólitos, contagem de plaquetas, de glóbulos brancos ou vermelhos, e até na pesquisa de sangue oculto nas fezes.

"Além disso, como a paroxetina tem potencial interação com a varfarina, pode ocorrer aumento de sangramento e/ou outras alterações hematológicas", esclarece o especialista.

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

  • Observe a validade do medicamento indicado no cartucho. Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você o armazena;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta;
  • Em caso de cápsulas, não as abra para colocar o conteúdo em água, alimentos ou mesmo para descartar. Sempre use a cápsula íntegra;
  • No caso de suspensões orais, agite bem o frasco antes de usar. E sempre limpe o copo dosador antes e após o uso. E armazene junto ao frasco do medicamento, para evitar misturar com outros medicamentos;
  • Prefira comprar remédios nas doses justas para o uso indicado para evitar sobras;
  • Respeite o limite da dosagem diária indicada na bula;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos. A ideia é dificultar o acesso às crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Aníbal de Freitas Santos Júnior, farmacêutico e docente pleno da Uneb (Universidade do Estado da Bahia); Emerson Arcoverde Nunes, médico psiquiatra do (Hospital Universitário Onofre Lopes) da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), que integra a rede Ebserh, coordenador da residência médica em psiquiatria, além de docente da mesma instituição; Leonardo Régis Leira Pereira, professor associado do Departamento de Ciências Farmacêuticas da FCFRP-USP (Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo). Revisão técnica: Aníbal de Freitas Santos Júnior.

Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); Shrestha P, Fariba KA, Abdijadid S. Paroxetine. [Atualizado em 2021 Dez 9]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK526022/.