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Água quente e sal ajudam mesmo a desinchar os pés?

Priscila Barbosa
Imagem: Priscila Barbosa

Cecilia Felippe Nery

Colaboração para VivaBem

16/03/2022 04h00

Os inchaços nos pés costumam incomodar bastante e geralmente estão relacionados à retenção de líquidos, à falta de circulação ou ao sedentarismo. Para aliviar o incômodo e, assim, desinchar, uma das alternativas mais pensadas pelas pessoas é mergulhar os pés em água quente misturada com sal.

No entanto, o inchaço dos pés —e das pernas— causado pela má circulação do sangue ou qualquer outra condição não irá diminuir com água quente e sal. "Em caso de dor, a água quente pode até dar um alívio momentâneo, mas o uso do sal é um mito e não tem nenhum papel em desinchar os pés", assegura André Echaime Vallentsits Estenssoro, cirurgião vascular.

Antes de mais nada, é importante entender a origem, ou seja, a fisiopatologia do inchaço e a fase em que se encontra. Em linhas gerais, o calor não é recomendado para situações agudas, por exemplo, de um pós-trauma.

"O calor promove vasodilatação e pode ocasionar o aumento do processo inflamatório e inchaço. Por outro lado, em situações crônicas, com o edema já instalado, o calor pode ser uma alternativa para mobilizar e reduzir o inchaço", explica Wouber Hérickson de Brito Vieira, fisioterapeuta.

"Pela lógica científica, alternar a imersão em água quente e fria, seria mais efetivo para diminuir o inchaço", sugere Alexandre Cavagis, bioquímico. O gelo é, habitualmente, mais efetivo para o inchaço nos pés do que o calor, sendo ideal proceder a alternação.

José Antonio Veiga Sanhudo, médico ortopedista e traumatologista, lembra ainda que em casos de hematoma pós-trauma, por exemplo, o calor pode ajudar na vasodilatação e reabsorção do extravasamento de sangue local. De fato, a água quente pode diminuir a dor em razão do aumento circulatório local e consequente sensação de relaxamento muscular ou tecidual.

É importante ressaltar que o sal também não tem papel nenhum para desinchar. "Algumas pessoas podem acreditar que isso afete de alguma maneira, mas, do ponto de vista químico, o sal dissolvido não interfere no inchaço de forma alguma", afirma Cavagis.

Ele explica que o sal fica em contato externo com a pele. Se fosse para tratar alguma ferida externa, por exemplo, até poderia ter algum efeito. Porém, como o inchaço está relacionado a problemas de circulação, que são internos, não há como o sal contribuir para o alívio no inchaço.

Por que os pés incham?

Relacionado geralmente a alterações normais da circulação sanguínea, sobretudo nas pessoas que fazem longas caminhadas ou que ficam muito tempo em pé, o inchaço não é sinal de problemas graves. No entanto, se o edema persistir por mais de um ou dois dias, e apresentar dor, vermelhidão ou dificuldade de locomoção, o problema pode ser outro e é preciso diagnosticar para tratar.

Quando persistente, pés inchados podem estar relacionados a doenças do coração, do fígado, dos rins, das articulações, problemas ortopédicos (lesões articulares, tendinosas ou ligamentares), traumas ou, principalmente, da circulação, como por exemplo linfedema, varizes ou trombose.

Se o edema persistir, é necessário consultar um médico especialista, como recomenda Estenssoro: "Todas as vezes que o inchaço for constante e estiver associado a outros sintomas, o médico deverá ser procurado para uma avaliação clínica e, em algumas situações, a realização de exames, como o ecodoppler. Isto leva a um diagnóstico correto e a indicação do melhor tratamento", orienta.

Tratamentos

Para desinchar os pés é necessário levar em conta a causa. No caso da má circulação, em especial da doença venosa crônica e das varizes, deve ser feita uma avaliação pelo angiologista e cirurgião vascular, por exemplo, que definirão a melhor abordagem.

"O uso de meias de compressão, elevação do membro e, por vezes, drenagens linfáticas podem ser indicados. A prática de atividade física sempre será bem-vinda e é muito útil em diminuir os inchaços e dores nas pernas", assegura Estenssoro.

Para situações agudas, uma boa alternativa é o resfriamento (compressas de água fria) associado à compressão e elevação do membro. Já em situações crônicas envolvendo o déficit de mobilidade/rigidez tecidual, o calor é a melhor indicação.

"Quer seja em situação aguda ou crônica a melhor alternativa é associar o movimento articular, tendo em vista minimizar a rigidez e facilitar o bombeamento de líquidos", assinala Vieira.

Prevenção

Assim como em todas as questões ligadas à saúde, a prevenção é o melhor remédio. Por isso, independente da causa, manter atividade física regular, procurar se movimentar após longos períodos sentado ou em pé e o uso de meias de compressão (caso não haja contraindicação), são medidas que auxiliam na prevenção do inchaço.

De acordo com Estenssoro, no caso do inchaço por má circulação venosa e varizes, existem algumas medicações venotônicas que fortalecem as veias e podem ser indicadas.

Em alguns casos, procedimentos cirúrgicos ou feitos no consultório são necessários para eliminar a origem do problema e dos sintomas. "Vale ressaltar que o uso de diuréticos, sem prescrição médica, pode ser maléfico, e não deve ser feito como automedicação", adverte Estenssoro.

Fontes: Alexandre Cavagis, bioquímico e professor da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos; André Echaime Vallentsits Estenssoro, cirurgião vascular e coordenador do Núcleo Avançado de Vascular e Endovascular do Hospital Sírio-Libanês (SP); José Antonio Veiga Sanhudo, médico ortopedista e traumatologista, membro titular da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia); Wouber Hérickson de Brito Vieira, doutor em fisioterapia pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), professor do Departamento de Fisioterapia da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).