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Remédios e Tratamentos

Um guia dos principais medicamentos que você usa


Lorazepam age rápido nos sintomas da ansiedade, mas pode causar dependência

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Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

15/03/2022 04h00

Resumo da notícia

  • O medicamento tem ação rápida, o que pode durar por 8 horas
  • Como também é sedativo, o fármaco ajuda no controle da insônia decorrente da ansiedade
  • O tratamento com esse medicamento deve ocorrer pelo menor período de tempo possível
  • Apesar de ser eficaz, o perfil de seus efeitos colaterais requer constante vigilância médica

Disponível no mercado desde 1977, o lorazepam é um benzodiazepínico indicado para o tratamento da ansiedade e dos sintomas dos distúrbios a ela relacionados.

O que é lorazepam?

Trata-se de um ansiolítico do grupo dos benzodiazepínicos. Esses medicamentos são capazes de agir no SNC (Sistema Nervoso Central) e, assim, possuem propriedades ansiolíticas, sedativas, relaxantes, anticonvulsivantes, além de efeitos amnésicos.

Devido às suas características, ele só pode ser comercializado sob receita médica, que é retida.

Em quais situações ele deve ser usado?

Dada a utilização desse fármaco desde a década de 1970, seus efeitos são bastante conhecidos. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e por tempo adequado.

A medicação pode ser indicada para aliviar sintomas relacionados às seguintes condições (de forma isolada ou associada a outros fármacos):

  • Controle ou alívio (a curto prazo) dos transtornos de ansiedade e seus sintomas
  • Transtornos de ansiedade relacionados a outras condições (estados psicóticos e depressão)

O lorazepam pode ainda ser utilizado como medicação pré-operatória, no alívio de sintomas de abstinência alcoólica, em pacientes agitados, insônia, prevenção de náusea e vômito antes da quimioterapia, imobilidade motora psicogênica (catatonia) e até dor lombar. Parte dessas indicações não consta da bula, por isso são chamadas de off-label.

Entenda como ele funciona

Marcelo Polacow, farmacêutico, farmacologista e presidente do CRF-SP, explica que após a administração do medicamento por via oral, ele será metabolizado pela via hepática e excretado pela via renal.

Quanto ao mecanismo de ação, ele age potencializando o efeito inibitório de um componente calmante que compõe a química do seu cérebro, ou seja, o ácido gama-aminobutírico (GABA), o que leva ao controle dos sintomas relacionados à ansiedade.

"A depender da apresentação utilizada, espera-se que esse efeito já ocorra em 15-20 minutos ou entre 1 e 2 horas, o que pode durar de 6 a 8 horas, embora esse tempo de resposta seja individual", completa Polacow.

Por que ele pode causar dependência?

Todos os medicamentos da classe dos benzodiazepínicos, o que inclui o lorazepam, devem ser usados pelo menor tempo possível. O ideal seriam 3 meses, no máximo, embora alguns quadros possam exigir período maior de tratamento.

Essa advertência se deve ao fato de que esses fármacos possuem um importante efeito adverso: o risco de dependência. Quanto maiores forem o tempo de uso e a dose utilizada, maiores serão a tolerância à medicação, assim como os sintomas da sua retirada.

Para evitar esse efeito, quando a terapia é mais longa, as doses devem ser reduzidas aos poucos, sob orientação e acompanhamento do profissional da saúde. A interrupção por conta própria deve ser evitada, porque poderia ter como efeito a chamada síndrome de abstinência, ou seja, a manifestação de sintomas como tremores, cólicas, vômitos, sudorese, insônia e até convulsões.

Conheça as apresentações disponíveis

Lorax® é a marca de referência do lorazepam. Mas você pode encontrar as versões genéricas. Confira as apresentações e doses disponíveis:

  • Comprimidos - 1 mg ou 2 mg

O esquema de doses é sempre personalizado. Evite aumentá-lo, reduzi-lo ou mesmo automedicar-se durante uma crise sem orientação do médico.

Quais são as vantagens e desvantagens desse medicamento?

Os especialistas ouvidos pelo VivaBem concordam que o lorazepam tem suas vantagens e, entre elas, se destaca o fato de ele ser um medicamento cujos efeitos são bastante conhecidos e estudados, o que confere segurança ao seu uso.

Além disso, ele possui apresentações diferentes, o que facilita a sua administração em momentos nos quais é preciso garantir alívio imediato ao paciente.

"Por outro lado, o perfil de efeitos colaterais, como o risco de dependência, a perda de memória, depressão e até Alzheimer, principalmente quando o tratamento é prolongado, impõe restrições a seu uso a depender do perfil de cada paciente", adverte Fábio Gomes de Matos e Souza, professor de psiquiatria da UFC.

Saiba quais são as contraindicações

Ele não pode ser usado por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenham tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.
Fique também atento na presença das seguintes condições:

  • Ter menos de 12 anos
  • Gravidez
  • Amamentação
  • Glaucoma
  • Doenças dos rins, fígado
  • Comprometimento respiratório (DPOC, apneia do sono)
  • Predisposição para o desenvolvimento de dependências
  • Convulsões

Crianças e idosos podem usá-lo?

O lorazepam é contraindicado para menores de 12 anos de idade e os médicos devem ponderar os riscos e benefícios do uso do medicamento nessa população, já que nessa fase da vida o cérebro ainda está em desenvolvimento e o medicamento poderia atrapalhar esse processo de alguma forma.

Já entre os idosos, a administração é possível, mas deve ser cautelosa. O fármaco é depressor do SNC, o que leva à sonolência e à tontura, fatores relacionados a quedas.

Além disso, o uso por mais tempo do lorazepam tem sido conectado não só à perda de memória, mas ao aumento do risco para o Alzheimer. Quando ele é a única opção para esse grupo, as regras de ouro são doses mais baixas, constante monitoramento, e tempo de tratamento reduzido.

Estou grávida e pretendo amamentar. Posso usar lorazepam?

Esse medicamento só deve ser utilizado por gestantes e lactantes após criteriosa avaliação médica. Como não existem estudos que garantam a total segurança do medicamento nesses grupos, somente o médico pode considerar os riscos e benefícios da medicação para você e seu bebê. Caso o profissional considere que o uso do fármaco é seguro, o monitoramento deve ser constante.

De modo geral, a literatura médica sobre o medicamento adverte que o lorazepam não deve ser a primeira linha de tratamento para os sintomas da ansiedade e outros distúrbios psiquiátricos nos primeiros três meses de gestação.

Qual é a melhor forma de consumi-lo?

A orientação é de que ele seja ingerido com água, acompanhado ou não de refeições.

Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?

Não. O importante é que o lorazepam seja administrado na forma indicada pelo médico.

O que faço quando esquecer de tomar o remédio?

Tome-o assim que lembrar e reinicie o esquema de uso do medicamento. É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a dose que foi esquecida. Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.

Quais são os possíveis efeitos colaterais?

Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando usado em doses adequadas e pelo menor tempo possível.

Apesar disso, os efeitos colaterais mais comuns são cansaço, sonolência e sedação. Algumas pessoas poderão observar algumas das seguintes manifestações:

Comuns

  • Confusão
  • Depressão
  • Fraqueza muscular
  • Mudança no caminhar e coordenação
  • Tontura

Menos comuns

Interações medicamentosas

Algumas medicações não combinam com o lorazepam. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito.

Avise o médico, o farmacêutico ou dentista, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas, que são apenas alguns exemplos dessas possíveis interações. Confira:

  • Outros benzodiazepínicos (como o diazepam, oxazepam)
  • Antidepressivos (amitriptilina, imipramina, nortriptilina)
  • Opioides (tramadol, hidrocodona)
  • Anti-histamínicos (difenidramina)
  • Anti-hipertensivos (diltiazem)
  • Antibióticos (rifampicina)
  • Anticoncepcionais (orais)
  • Anticonvulsivos (pregabalina, valproato)
  • Medicamentos para insuficiência cardíaca congestiva (digoxina)
  • Medicamentos para tratamento do Parkinson (levodopa)
  • Relaxantes musculares (ciclobenzaprina)
  • Pílulas para dormir (zolpidem)
  • Inibidores da bomba de prótons (omeprazol)

Até o momento há pouca informação sobre a interação com fitoterápicos, mas avise seu médico caso esteja fazendo uso de valeriana ou passiflora, que podem aumentar a sedação, ou mesmo qualquer tipo de suplementos.

Fique atento à interação com o álcool

O uso do lorazepam junto a bebidas alcoólicas pode potencializar os efeitos colaterais do medicamento. Tontura, fadiga, sonolência e dificuldade para respirar são algumas das possíveis manifestações.

Interação com exames laboratoriais

Quando o lorazepam é associado com fármacos utilizados no tratamento da malária e outras doenças infecciosas, como a pirimetamina, ele poderá ter o efeito de alterar testes de função hepática (do fígado). Antes de se submeter e esse tipo de exame, informe ao médico e ao pessoal do laboratório o uso do lorazepam.

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

  • Observe a validade do medicamento indicado no cartucho. Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você o armazena;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta;
  • Em caso de cápsulas, não as abra para colocar o conteúdo em água, alimentos ou mesmo para descartar. Sempre use a cápsula íntegra;
  • No caso de suspensões orais, agite bem o frasco antes de usar. E sempre limpe o copo dosador antes e após o uso. E armazene junto ao frasco do medicamento, para evitar misturar com outros medicamentos;
  • Prefira comprar remédios nas doses justas para o uso indicado para evitar sobras;
  • Respeite o limite da dosagem diária indicada na bula;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos. A ideia é dificultar o acesso às crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia em São Paulo); Fábio Gomes de Matos e Souza, médico psiquiatra e professor titular de psiquiatria da UFC (Universidade Federal do Ceará), integrante do corpo clínico do HUWC (Hospital Universitário Walter Cantídio), que integra a Rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Marcelo Polacow, farmacêutico, mestre e doutor em farmacologia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e presidente do CRF-SP. Revisão técnica: Amouni Mourad.

Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); Ghiasi N, Bhansali RK, Marwaha R. Lorazepam. [Atualizado em 2022 Feb 7]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK532890/.