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Solidão, roupas e peso: veja sinais de transtorno alimentar em adolescentes

No início, os sinais dos distúrbios são sutis - iStock
No início, os sinais dos distúrbios são sutis Imagem: iStock

Sarah Alves

Do VivaBem, em São Paulo

14/03/2022 04h00

Anorexia, bulimia, compulsão alimentar são alguns tipos de transtorno alimentar, ou TA, distúrbios caracterizados por comportamentos destrutivos com a comida e que causam prejuízos à saúde e às relações pessoais. Comuns em adolescentes, segundo o Ministério da Saúde, 10% de jovens podem ter a condição —em comparação, 4,7% da população em geral têm o quadro.

Isso desperta atenção sobre a necessidade de pais e cuidadores identificarem os primeiros sinais da doença. No início, os comportamentos são sutis e cautelosos, justamente para não levantar suspeitas. E, em meio às intensas jornadas de trabalho dos responsáveis, é comum deixar passar indícios de que algo está errado.

"Esses jovens são inteligentes e enganam a família porque querem alcançar as metas que se propuseram", conta a psicóloga Alicia Weisz Cobelo, do PROTAD (Programa de Atendimento, Ensino e Pesquisa em Transtornos Alimentares na Infância e Adolescência) do IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

A nutricionista Camyla de Carvalho Guedine, coordenadora do Genca (Grupo de Estudo em Nutrição e Comportamento do Acre), explica que os transtornos são condições psiquiátricas caracterizadas por alterações de hábito alimentar e que causam prejuízo à pessoa. "Comportamentos alimentares inadequados acontecem porque se quer controlar peso e forma corporal. Às vezes é difícil de identificar, por isso é preciso prestar atenção na alimentação em diversos ângulos", explica Guedine, também professora da UFAC (Universidade Federal do Acre).

Em jovens, os mais comuns são:

  • Anorexia nervosa: necessidade de manter um peso abaixo do padrão e visão distorcida do corpo;
  • Compulsão alimentar: ingestão de grande quantidade de alimentos de uma vez e com frequência;
  • Bulimia: quadros de compulsão, seguidos por medidas para perder peso, como vomitar;
  • Tare (Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo): pode ser mais comum em crianças e se caracteriza por não comer certo grupo de alimentos, causando forte restrição alimentar.

O Tare pode, em algumas pessoas, preceder transtornos alimentares no futuro, explica a psicóloga Alicia Weisz Cobelo. Crianças com alta restrição alimentar também sofrem com deficiência nutricional, que leva a outros problemas de saúde e prejuízos ao desenvolvimento.

"Os transtornos alimentares são mais comuns em adolescentes, mas podem acontecer em qualquer momento na infância. A seletividade, como a do Tare, é uma queixa muito frequente nessa fase. Pode passar batido, porque ninguém é obrigado a gostar de tudo, mas é importante procurar ajuda médica para avaliar como a criança vem se desenvolvendo", alerta a pediatra Georgette Beatriz de Paula, do Grupo Sabin.

Quais são os alertas de que algo está errado

O corpo dá sinais de que há algo estranho acontecendo. Adolescentes que deixam de menstruar, por exemplo, podem estar em dietas muito restritivas. Os indícios, no entanto, variam dependendo do transtorno.

Os primeiros alertas são as mudanças de comportamento, que podem começar com ações que passam desapercebidas, como checar constantemente o rótulo de produtos, praticar muita atividade física e preferir fazer as refeições no quarto —assim fica mais fácil descartar a comida ou vomitar após as refeições, por exemplo.

Também é comum deixar de ingerir alimentos dos quais gostava, por causa do teor calórico, além de negar a fome e tomar mais água, como tentativa de afastar o apetite.

Com o tempo, excessos começam a acontecer. É comum se isolar para evitar situações relacionadas à comida: festas, aniversários e passeios com colegas. Indícios físicos, como queda de cabelo, perda ou ganho de peso sem causa biológica também surgem.

Outros sinais relacionados a transtornos alimentares são:

  • Optar apenas por roupas folgadas para esconder alterações de peso;
  • Pular refeições para poder comer na próxima;
  • Comer escondido ou em horários pouco comuns, como de madrugada;
  • Frequentemente ir ao banheiro após comer (muitas pessoas podem vomitar depois das refeições);
  • Pesar-se várias vezes ao dia;
  • Purgar: combinação de comportamentos para tentar compensar os alimentos ingeridos, como vomitar e o uso de laxantes.

O que fazer ao identificar sinais de transtorno alimentar?

O transtorno alimentar não tem uma causa padrão. Para os distúrbios, contribuem fatores genéticos, psicológicos, além da influência da mídia na relação com o corpo e a relação familiar, explica a psicóloga Alicia Weisz Cobelo. Por esse motivo, o tratamento é multidisciplinar, com médicos, nutricionistas, psiquiatras e psicólogos.

Ao identificar um sinal de alerta ou um conjunto deles, a recomendação é buscar um especialista em TA para avaliar o quadro, independente da especialidade.

Já na recuperação, o engajamento da família é um diferencial, sobretudo se é ela que cuida das refeições em casa. Em alguns casos, inclusive, pode ser recomendada terapia familiar para lidar com a situação.

Por isso, outro alerta das especialistas é que os pais e cuidadores fortaleçam a relação dos filhos com a comida desde a infância. "É recomendado começar a comer em casa, levar a criança às compras no mercado para ela ter esse aprendizado dos alimentos, além de adotar um tipo de comunicação que não leva em conta apenas a valorização corporal", orienta a nutricionista Camyla de Carvalho Guedine.