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Skincare caseiro: mitos e verdades sobre receitas com alimentos para pele

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Imagem: iStock

Fabiana Gonçalves

Colaboração para o VivaBem

09/03/2022 04h00

Entra ano e sai ano e sempre aparecem receitinhas caseiras e milagrosas nas redes que dizem salvar a sua pele ou seu cabelo. O atrativo é usar ingredientes naturais ou à base de alimentos para se autodeterminar como inofensivas, e vão desde as clássicas chá de camomila para aliviar as olheiras até passar limão no rosto para clarear a pele.

De acordo com especialistas, é preciso tomar muito cuidado com receitas caseiras, primeiro porque o alimento pode atuar como coadjuvante, um complemento, mas não vai agir como um tratamento por si só. Apesar de as receitas caseiras serem geralmente seguras, elas não estão livres de riscos e não se destinam a tratar doenças. Nesse caso, o ideal é procurar um médico.

Para não cair em armadilhas, ouvimos a opinião de quatro especialistas no assunto que desmistificaram as principais receitas com alimentos usados para beleza. Confira a seguir o que pode —e o que não deve— ser feito.

Fazer compressas de chá de camomila ajuda a aliviar as olheiras: verdade

A camomila tem propriedades calmantes sobre a pele e, quando realizamos as compressas frias, a baixa temperatura causa vasoconstrição, ou seja, diminui a circulação de sangue temporariamente no local, promovendo diminuição de inchaço e a vermelhidão, com uma melhora imediata e temporária das olheiras.

Mas ele não tem nenhum efeito clareador direto e não atua na remoção de pigmentos, no caso das manchas escuras sob os olhos.

Limão clareia a pele: mito

O limão, de fato, possui inúmeros benefícios, como a melhora da digestão, da imunidade e absorção de ferro. No entanto, para a pele, pode ser perigoso. Isso porque os ácidos que a fruta contém podem queimar a pele e causar fitofotodermatose, deixando-a extremamente manchada com a exposição solar. Logo, todas as frutas cítricas são contraindicadas para qualquer tipo de procedimento na derme.

mão segurando cenoura - This Is Zun/ Pexels - This Is Zun/ Pexels
Comer cenoura realmente facilita o aspecto dourado na pele bronzeada
Imagem: This Is Zun/ Pexels

Comer alimentos alaranjados ajuda a acelerar o bronze, proteger a pele e colaborar para o efeito durar mais tempo: verdade

Muitos alimentos amarelos e alaranjados, como cenoura, abóbora, mamão, são ricos em betacaroteno. Ele é um pigmento da família dos carotenoides, sendo derivado da vitamina A, e fica impregnado na pele, o que dá ao bronzeado um aspecto dourado e duradouro.

Porém, o maior benefício dos alimentos ricos em carotenoides é o seu efeito fotoprotetor oral. Ou seja, se forem consumidos com regularidade antes e durante o período de maior exposição, podem ajudar a aumentar a dose eritematosa mínima, que é o tempo necessário para a pele ficar vermelha, após a exposição solar.

Mas os médicos alertam: o ideal é não se bronzear ou, se o fizer, que seja de forma lenta e gradual, e nunca acelerar o bronzeamento, ficando com o corpo exposto nos horários de maior incidência de sol (das 10h às 16h).

Usar água de arroz ajuda no tratamento de vermelhidão de sol: verdade

A água usada para lavar o arroz é rica em compostos hidratantes e antioxidantes, com propriedades que ajudam a proteger a pele dos raios solares, combater inflamações e irritações. Por isso acalma a pele, protege da poluição e auxilia no controle da hiperpigmentação.

Um dos ativos presentes nela que apresenta essas atividades benéficas é o inositol, que promove o crescimento das células e estimula o fluxo sanguíneo.

A água de arroz é obtida a partir do cozimento do grão, que libera sais minerais, vitaminas do complexo B e compostos fenólicos. O ideal é usar um arroz integral ou colorido (vermelho e negro), de preferência orgânico.

Fazer uma máscara à base de creme de abacate com mel ajuda a hidratar o cabelo: verdade

O abacate é rico em óleos vegetais, com ação hidratante, e em antioxidantes, e por isso diminui a ação de radicais livres contra a poluição, os raios solares e o estresse. Ele promove uma melhor nutrição para os fios, ajudando a recuperar a vitalidade do cabelo.

O mel é rico em sais minerais, aminoácidos e alfa-hidroxiácidos. Ele também proporciona benefícios para os fios porosos e quebradiços, reparando-os e reconstruindo-os, uma vez que é um ativo com alta carga de proteínas, responsável por recuperar e fortalecer o cabelo. Além disso, assim como o abacate, o mel é muito nutritivo, funcionando como um poderoso umectante, capaz de manter a umidade do fio, proporcionando maciez para o cabelo. Os açúcares contidos no mel também colaboram para a hidratação.

Experimente essa receita:

Bata no liquidificador 1 a 2 col. (sopa) de abacate (dependendo do volume do cabelo) + 1 col. (sopa) de mel puro + 1 col. (sopa) de óleo vegetal (coco, jojoba ou argan) + 1 colher (sopa) de gel de babosa. Aplique nos fios e deixar agir por 30 minutos. Depois lave o cabelo normalmente, como de costume.

Colocar fatias de pepino nos olhos ajuda a amenizar as bolsas sob os olhos: verdade

O pepino é rico em antioxidantes como flavonoides, ácido ascórbico (vitamina C) e ácido fólico, que retardam o envelhecimento precoce da pele. Ele tem 96% de água na sua composição, por isso ajuda na hidratação da pele. Quando aplicado gelado, promove a vasoconstrição, que é a diminuição dos vasos sanguíneos no local, tendo como consequência a redução do inchaço e o clareamento da pele. Mas esse efeito é passageiro.

Óleo de coco - iStock - iStock
Óleo de coco hidrata e nutre os fios do cabelo
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Usar óleo de coco nos fios acaba com o ressecamento do cabelo: verdade

O óleo de coco promove nutrição para os fios. Ele é rico em vitaminas A, D, E e K e em ácidos graxos, que conseguem penetrar profundamente na cutícula do fio, aumentando o brilho, a nutrição e a maciez dos cabelos. Ele pode ser aplicado como um pré-xampu: aplique apenas do comprimento em direção às pontas e deixe agir por alguns minutos. Em seguida, lave o cabelo normalmente.

Comer tomate protege a pele dos raios solares: em partes

O tomate é um alimento rico em licopeno, que tem atividade antioxidante e fotoprotetora oral. Ele ajuda a proteger a pele contra os danos causados pela radiação ultravioleta, uma vez que deixa a pele menos sensível aos danos solares, uma das principais causas do envelhecimento precoce.

Porém, o composto bioativo é melhor absorvido quando combinado com gorduras saudáveis, como azeite de oliva, e o processo de cozimento aumenta a sua concentração em praticamente 10 vezes. Só para se ter uma ideia, 100 g de tomates vermelhos crus têm, em média, 2,5 mg de licopeno, enquanto 100 g de molho de tomate caseiro, com azeite de oliva, tem mais de 20 mg de licopeno biodisponível.

No entanto, o tomate nunca vai substituir o uso de filtro solar. Logo, ele pode ser consumido dentro da rotina alimentar, mas na hora de se expor ao sol, o uso de protetor solar é fundamental.

Esfoliar a pele com sal grosso elimina as células mortas: mito

Realizar uma esfoliação da pele uma a duas vezes por semana ajuda na renovação celular e elimina as células mortas. Porém, essa esfoliação deve ser feita com movimentos suaves, delicados e grânulos não muito grossos. O sal grosso apresenta grânulos maiores e pode agredir áreas de pele fina, descamando-a. Logo, o sal grosso não é indicado para este fim.

Usar borra de café no rosto clareia a pele: mito

A borra de café pode ser usada para fazer esfoliação e, dessa forma, ajudar a remover células mortas e deixar a pele mais suave e macia. O café contém cafeína, um estimulante da pele, e pode causar uma certa vasoconstrição, ou seja, diminuir os vasinhos da pele e, portanto, diminuir inchaço. Ele também possui propriedades antioxidantes, emolientes e hidratantes, auxiliando na remoção de impurezas da pele e diminuindo a oleosidade. Porém, ele não ajuda eliminar manchas, uma vez que a esfoliação é muito superficial.

Comer sementes e oleaginosas ajudam no fortalecimento de unhas e cabelos: verdade

A biotina, também conhecida como vitamina B7, ajuda muito no fortalecimento de unhas e cabelos. Ela é encontrada nas oleaginosas como amendoim, castanha-do-pará, castanha de caju e em todas as sementes.

Fontes: Abdo Salomão Jr., doutor em dermatologia pela USP (Universidade de São Paulo), sócio da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia); Gabriel Monteiro de Castro, médico pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), especialista em dermatologia pela SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia); Marcella Garcez, médica nutróloga, mestre em ciências da saúde pela Escola de Medicina da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), diretora da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná; Patrícia Mafra, dermatologista, graduada em medicina pela FCM-MG (Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais).