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Tem como diferenciar plantas comestíveis de convencionais ou venenosas?

Doce de monguba, uma PANC - Angela Almeida
Doce de monguba, uma PANC Imagem: Angela Almeida

Bruna Alves

Do VivaBem, em São Paulo

03/02/2022 04h00

Embora pouco aproveitadas na culinária popular brasileira, muitas PANC (plantas alimentícias não convencionais) são nativas e apresentam valor nutricional igual ou superior às hortaliças, raízes, tubérculos e frutas que estamos habituados a comer.

Elas possuem uma ou mais partes comestíveis, como a raiz, bulbo, talo, rizoma, tubérculo, folhas, brotos, flores, frutos, sementes, e podem ser encontradas em qualquer região do país. "Muitas PANC são espontâneas, ou seja, nascem, crescem e se reproduzem facilmente, mesmo sem serem cultivadas. Assim, é muito comum encontrar algumas crescendo pelas calçadas nas cidades, em meio aos jardins ou hortas", diz Manuela Mika Jomori, nutricionista, professora do Departamento de Nutrição da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e coordenadora do projeto Nutrição é na Cozinha!.

Jomori explica que muitas delas são conhecidas como "daninhas", "matos", "invasoras", "infestantes", "inços" e até "nocivas", por não precisarem, necessariamente, ser cultivadas, o que contribui para que não sejam reconhecidas como alimento.

Infelizmente não há uma fórmula específica para diferenciar uma PANC, é preciso conhecer suas características como formato da folha, caule, flores. Uma planta comestível pode ser muito parecida com uma planta não comestível ou tóxica. Algumas também precisam de um preparo específico, como cocção longa para se tornarem comestíveis.

"A taioba é um bom exemplo disso. Existem espécies comestíveis, não comestíveis e tóxicas que podem se tornar comestíveis após longo processo de fervura", comenta Jomori. O que diferencia uma da outra são pequenos detalhes nas folhas ou coloração.

A dica é: na dúvida, não coma e busque informações com especialistas confiáveis. Há livros de identificação e até aplicativos que ajudam nessa tarefa de descobrir se a planta é comestível (ou qual parte dela é).

Quais os principais benefícios?

Em primeiro lugar está a diversidade. Quanto mais diverso o prato for, mais chances de termos uma alimentação adequada e, consequentemente, saúde, já que garante diferentes tipos de nutrientes.

Rafaela Karen Fabri, nutricionista e professora do INU (Instituto de Nutrição) da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), ainda que não precisa da utilização de agrotóxicos, pois são plantas normalmente espontâneas e/ou mais fáceis de serem cultivadas.

"Assim, consistem em opções de consumo mais saudáveis e sustentáveis, pois além de serem ricas em nutrientes, não prejudicam o meio ambiente", diz.

A nutricionista também ressalta que elas podem servir como uma alternativa culinária de baixo custo. "Por exemplo, o uso do 'coração' da bananeira, do miolo ou medula do caule do mamoeiro não requer investimentos para aquisição de novos alimentos", explica.

No entanto, não é comum encontrar PANC em supermercados tradicionais. Normalmente, elas são vendidas em feiras (agroecológicas) ou encontradas hortas comunitárias, mas depende da região. Algumas pessoas ainda podem ter no jardim de casa e nem perceberem.

Como incluir na dieta?

Há diversas formas de preparar as PANC. A seguir, Michelle Jacob, pesquisadora, doutora em ciências sociais, professora do Departamento de Nutrição da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), chefe do LabNutrir (Laboratório Horta Comunitária Nutrir) e autora, ao lado de Nilson Cintra, do livro que foi finalista do prêmio Jabuti, em 2021, "Culinária Selvagem", ensina algumas receitas para incluir as PANC nas principais refeições.

Do ora-pro-nóbis podem ser consumidos as folhas, os frutos e as flores - Angela Almeida - Angela Almeida
Do ora-pro-nóbis podem ser consumidos as folhas, os frutos e as flores
Imagem: Angela Almeida

Café da manhã: pão de ora-pro-nóbis

Ingredientes:

  • 2 1/2 xícaras (chá) de farinha de trigo
  • 2 gemas
  • 1/4 de xícara (chá) de água
  • 1/3 de xícara (chá) de leite
  • 1 pitada de sal
  • 1 colher (sopa) rasa de açúcar demerara
  • 1 colher (sobremesa) de fermento biológico seco
  • 1 colher (sopa) de manteiga
  • 1 colher (sobremesa) de grãos de coentro
  • 1 xícara (chá) de folhas de ora-pro-nóbis

Modo de preparo:

  1. Bata as folhas frescas de ora-pro-nóbis com a água no liquidificador e reserve;
  2. Junte os ingredientes secos em uma bacia e misture bem. Acrescente os demais ingredientes, as folhas batidas e sove a massa por cerca de 15 minutos até ficar elástica;
  3. Adicione os grãos de coentro moídos no pilão e o sal e sove um pouco mais;
  4. Modele o pão e deixe a massa crescer por 30 minutos;
  5. Unte uma assadeira com óleo e deposite a massa. Pincele um pouco de azeite e asse em forno médio até o pão ficar levemente dourado.

Rendimento: 8 porções.

Tempo de preparo: 90 minutos.

O bredo é uma espécie nativa do Caribe - Angela Almeida - Angela Almeida
O bredo é uma espécie nativa do Caribe
Imagem: Angela Almeida

Almoço: nhoque de banana verde com folhas de bredo

Ingredientes:

  • 10 unidades de banana verde
  • 1 colher (sopa) de amido de milho
  • 2 1/2 colheres (café) de sal
  • 1 colher (sopa) de azeite de oliva
  • 2 colheres (sopa) de amido de milho para polvilhar
  • 1 ramo grande de folhas de bredo
  • 1 colher (sopa) rasa de azeite de oliva para refogar o bredo

Modo de preparo

  1. Lave as bananas e o bredo;
  2. Prepare a biomassa da banana verde: coloque-as com casca em uma panela de pressão e deixe cozinhar por cerca de 20 minutos ou até que elas se rachem. Retire a casca e leve a um processador, temperando com o sal. Bata até que se forme uma massa e reserve;
  3. Em uma bancada higienizada, polvilhe amido e coloque a biomassa para esfriar;
  4. Refogue as folhas de bredo picadas e adicione-as à biomassa. Misture os outros ingredientes da massa e coloque amido de milho até dar o ponto;
  5. Faça um rolinho da massa e corte o tamanho desejado. Repita o processo até finalizar a massa;
  6. Em uma frigideira, coloque azeite, salteie os nhoques e ajuste os temperos. Sirva com molho de sua preferência.

Rendimento: 4 porções.

Tempo de preparo: 90 minutos.

Monguba também é conhecido como castanheira, mamorana, falso cacau, cacau selvagem e guinea chestnut - Angela Almeida - Angela Almeida
Monguba também é conhecido como castanheira, mamorana, falso cacau, cacau selvagem e guinea chestnut
Imagem: Angela Almeida

Sobremesa: tartelete com farinha de monguba

Ingredientes:

  • 1 xícara (chá) de farinha de aveia
  • 1/2 xícara (chá) do resíduo do leite monguba ou da farinha de monguba
  • 4 colheres (sopa) de óleo de coco
  • 4 colheres (sopa) de açúcar demerara
  • 1 pitada de sal
  • 1/4 xícara (chá) de água ou leite de monguba

Modo de preparo:

  1. Em um recipiente, coloque todos os secos primeiro, depois acrescente os líquidos e observe se a massa ficou homogênea;
  2. Espalhe a massa no fundo e nas laterais das forminhas de fundo falso untadas com óleo;
  3. Leve ao forno, em fogo baixo, por 5 a 10 minutos ou até dourar;
  4. Quando esfriar, coloque o recheio que preferir e, se desejar, derreta chocolate para cobrir o recheio;
  5. Para decorar, coloque a farinha da monguba por cima.

Leite de monguba

Ingredientes:

  • 1 xícara (chá) de sementes de monguba sem pele
  • 500 ml de água

Modo de preparo:

  1. Bata os ingredientes no liquidificador
  2. Coe e reserve o bagaço, que poderá ser utilizado em outras preparações
  3. Leve o leite ao fogo para ferver por 5 minutos e deixe esfriar

Farinha de monguba

Ingrediente:

  • Mongubas

Modo de preparo

  1. Colha os frutos rachados naturalmente e selecione as sementes fechadas. Lave-as e leve ao forno por 5 minutos ou até elas pipocarem. Deixe esfriarem;
  2. Descasque-as e, em seguida, bata-as no processador no modo pulsar, para que se forme uma farinha granulada. Caso queira uma farinha mais fina, use moinho de grãos.

Rendimento: Rendimento: 4 porções

Tempo de preparo: 30 minutos

O cariru  é uma erva nativa - Angela Almeida - Angela Almeida
O cariru é uma erva nativa
Imagem: Angela Almeida

Jantar: cariru ao coco

Ingredientes:

  • 4 maços de cariru
  • 2 xícaras (chá) de água
  • 3 colheres (sopa) de azeite
  • 2 dentes de alhos
  • 1 cebola
  • 1/2 xícara (chá) de coentro
  • 2 tomates
  • 1/2 colher (chá) de urucum ou colorau
  • 3 xícaras (chá) de leite de coco
  • 2 xícaras (chá) de água
  • Sal e pimenta-do-reino a gosto

Modo de preparo:

  1. Lave o cariru, o coentro e os tomates;
  2. Pique a cebola, o tomate e o coentro, pile o alho e o urucum, separe as folhas do cariru e branqueie-as;
  3. Em uma panela, refogue o alho e a cebola e acrescente o tomate, o urucum e a água;
  4. Cozinhe por 15 minutos e acrescente o cariru;
  5. Adicione o leite de coco e deixe cozinhar por 10 minutos. Finalize com o sal, a pimenta-do-reino e o coentro.

Rendimento: 2 porções.

Tempo de preparo: 30 minutos.