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É verdade que tomar vitamina B12 faz bem para a memória?

Priscila Barbosa
Imagem: Priscila Barbosa

Janaína Silva

Colaboração para VivaBem

02/02/2022 04h00Atualizada em 04/02/2022 15h13

Já pode ter acontecido com você. Ao esquecer algo corriqueiro, logo aparece alguém sugerindo tomar vitamina B12. Apesar de fazer parte de diversas funções metabólicas, que incluem algumas para o bom desempenho do sistema nervoso, não existe indicação médica da suplementação do nutriente para resolver problemas de memória. É preciso verificar outros sintomas, a alimentação e, também, seus níveis por meio de exames de sangue (hemograma) e bioquímicos específicos.

"Associar o esquecimento corriqueiro à falta da substância é quase uma crendice popular, afinal a memória está relacionada a outros fatores como ansiedade e até a exaustão pela qual todos estão passando devido à pandemia", esclarece Mário Kehdi Carra, médico endocrinologista e diretor do Departamento de Obesidade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).

A B12, conhecida também como cobalamina, está envolvida em uma série de funções do nosso organismo. "Ela participa de reações metabólicas relacionadas ao bom funcionamento do sistema nervoso, cardiovascular, celular, atuando na síntese do DNA e na produção de células do sangue, entre outras", explica Mayara Bernardo, nutricionista especialista em nutrição clínica e em nefrologia e preceptora do programa de residência de nutrição clínica do HC-UFPE (Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco).

Ela não é produzida no organismo, mas, sim, absorvida no processo digestivo, mais exatamente no duodeno, após passar pelo estômago, quando alimentos de origem animal, como carnes, produtos lácteos e ovos são consumidos. As vísceras, como fígado e rim bovinos, apresentam altos índices de cobalamina.

Sinais que o corpo dá

Anemia, fraqueza, fadiga muscular, aumento do risco de doenças cardiovasculares, neuropatias —dormência e formigamento em pernas e braços—, perda de memória, eventual confusão mental, aftas na boca, inflamação sistêmica e irritabilidade são sintomas da baixa absorção da vitamina B12 pelo organismo.

"Entretanto, por serem comuns a outras doenças, é necessário investigar de forma mais ampla. A hipovitaminose é mais comum em idosos e vegetarianos estritos, cuja dieta exclui todos os produtos de origem animal. Pessoas submetidas à cirurgia bariátrica também costumam apresentar deficiência do nutriente", afirma Regina H. M. Pereira, nutricionista e diretora científica do departamento de nutrição da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo).

A redução do suco gástrico no estômago, o uso de medicamentos para o controle do diabetes, para o estômago e antiácidos, o alcoolismo e as alterações genéticas contribuem para a baixa assimilação.

Quando existe a baixa absorção

Quando o diagnóstico é positivo para níveis abaixo do recomendado, é preciso rever a alimentação, primeiramente, para depois fazer a suplementação; mesmo porque há no mercado produtos fortificados que garantem as necessidades da B12 no organismo, segundo os especialistas.

Outro aspecto importante é que existem discussões científicas sobre os atuais valores de referência, nada ainda conclusivo.

Se necessária, a suplementação é feita via oral, sublingual ou intramuscular. A indicação e a dosagem para a correção da deficiência é individual.

Perigos da suplementação

Tomar vitaminas por conta própria, apesar do fácil acesso a elas, é perigoso e pode ser prejudicial à saúde.

Megadoses da B12 —acima de 1mg/dia— resultam em surtos de acne, rosácea —doença de pele que causa vermelhidão e inchaços com pus no rosto—, piora da nefropatia em pacientes diabéticos com comprometimento renal, risco elevado de infarto agudo e, até, danos ao fígado.