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BBB 22: vitiligo pode 'evoluir' para albinismo, como sugeriu Natália?

Natália, do BBB 22, tem vitiligo - Reprodução/Globoplay
Natália, do BBB 22, tem vitiligo Imagem: Reprodução/Globoplay

Camila Mazzotto

Colaboração para VivaBem

21/01/2022 10h41

Foi aos 9 anos que Natália Deodato, participante do BBB 22, descobriu que tinha vitiligo. Ao entrar no reality show aos 22 anos, a primeira participante com a condição em duas décadas de programa está trazendo maior visibilidade à doença autoimune que afeta 1% da população mundial e mais de 1 milhão de brasileiros, segundo a SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), mas a sister acabou causando incômodo aos internautas que também têm a condição na última terça-feira (18).

Questionada pelo brother Luciano Estevan se seria possível "ir do vitiligo ao albinismo", a integrante do grupo Pipoca respondeu que "sim" e que algumas pessoas cujo vitiligo teria "consumido" —ou seja, se espalhado ao longo de todo o corpo— poderiam, inclusive, ser consideradas "albinas".

A mineira se referiu aos albinos entre aspas, mas sua fala pode ter causado confusão no público leigo: afinal, é possível que uma pessoa com vitiligo possa, de fato, "progredir" para o albinismo? Há alguma relação entre as duas condições?

Embora tanto o vitiligo quanto o albinismo sejam distúrbios que afetam a pele, eles não são a mesma coisa e têm mecanismos de ação distintos. "Não é possível evoluir de uma doença para a outra, uma vez que a genética delas é diferente", explica Patrícia Paludo, dermatologista da Clínica de Vitiligo, no Rio de Janeiro, e médica do ambulatório de vitiligo do Instituto de Dermatologia Prof. Rubem David Azulay, da Santa Casa do Rio de Janeiro.

Enquanto o vitiligo é uma doença poligênica, isto é, relacionada a diversos genes, o albinismo oculocutâneo —o tipo mais comum— é um distúrbio genético de herança autossômica recessiva, o que significa que depende dos alelos vindos do pai e da mãe de um indivíduo para se manifestar. O estresse também é um dos gatilhos do vitiligo, acrescenta Paludo.

Mas essa não é a única diferença entre as duas condições. Nos pacientes com vitiligo, o que acontece é que o sistema imunológico "ataca" a produção dos melanócitos, células que produzem o pigmento responsável por dar cor à pele, a melanina. Daí vêm as manchas brancas pelo corpo, resultado da despigmentação.

Entre os albinos, porém, a situação é outra: os melanócitos existem, mas são incapazes de produzir a substância que pigmenta a pele.

"Por causa de um ataque autoimune, os pacientes com vitiligo perdem os melanócitos e eles desaparecem. Ao contrário dos pacientes com albinismo, que podem ter um número normal de melanócitos, mas a produção de melanina é diminuída ou ausente. Ou seja, um não tem melanócitos e o outro tem, mas eles não funcionam direito", resume Caio Cesar Silva de Castro, dermatologista e assessor do departamento de Biologia Molecular, Genética e Imunologia da SBD.

Vitiligo universal não é sinônimo de albinismo

De acordo com a SBD, há seis tipos de vitiligo. Se as manchas claras se manifestarem em somente uma parte do corpo de forma unilateral, trata-se do vitiligo segmentar. Já no tipo focal, há poucas lesões distribuídas em uma área específica do corpo. Como indica o nome, no vitiligo mucosal as manchas estão concentradas apenas nas mucosas, como lábios e região genital.

Lesões espalhadas nos dedos e em volta da boca, dos olhos, do ânus e dos genitais, por sua vez, correspondem ao tipo acrofacial. No vitiligo mais comum, as manchas aparecem em diversas áreas do corpo, como tórax, pernas, abdome, braços e pescoço, a exemplo da sister Natália.

Mas há um tipo considerado muito raro, que pode acometer mais de 80% do corpo: é o vitiligo universal —e é por isso que ele pode ser confundido com o albinismo, como fez Natália. Trata-se de um quadro autoimune intenso que descolore quase todo o pigmento, explica Castro. "A semelhança do vitiligo universal com o albinismo é o fato de ambas as doenças ocasionarem clareamento total da pele", acrescenta Paludo.

Ao contrário do vitiligo, no entanto, o albinismo não é só caracterizado pela pele branco leitosa. "No albinismo clássico, também há alteração na cor dos olhos. Já no vitiligo, é possível ter inflamação da úvea [camada vascular média dos olhos], mas a cor dos olhos não muda", diz Castro, que também é chefe de ambulatório de vitiligo da Santa Casa de Curitiba.

A coloração do cabelo e dos pelos é igualmente alterada no albinismo mais comum, o que é mais difícil de acontecer entre quem tem vitiligo.

Além disso, pacientes albinos têm maior propensão à fotossensibilidade e a desenvolver problemas oftalmológicos ao longo da vida. Albinos também têm maior risco de ter câncer de pele em relação às pessoas com vitiligo.

Isso acontece porque, como o organismo de quem tem vitiligo se vê sem melanócitos, o corpo acaba criando um "mecanismo de compensação", define Castro: faz com que a pele "engrosse" e produza uma substância chamada P53, proteína anticancerígena —o mesmo não é observado entre os albinos.

"Mas os dois têm maior risco de queimadura e envelhecimento da pele", alerta o médico dermatologista da SBD, ressaltando a importância dos cuidados com o sol em ambos os casos. Há tratamento para o vitiligo, para o albinismo, porém, as opções são mais restritas.

Enquanto o albinismo está presente desde o nascimento, o vitiligo pode ser diagnosticado em qualquer momento da vida. Mas as duas doenças, além de estarem associadas à produção de melanina, têm uma coisa em comum: não são contagiosas.