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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Apps de saúde nas empresas ajudam, mas dependem de uso dos funcionários

Halfpoint/iStock
Imagem: Halfpoint/iStock

Luiza Vidal

Do VivaBem, em São Paulo

10/01/2022 04h00

"Cuide de sua alimentação", "Tenha um sono reparador", "Planeje o seu dia na noite anterior". Essas frases fazem parte de uma das plataformas criadas para incentivar uma vida mais saudável. Até aí, nada de novo. É fácil encontrar aplicativos que acompanham a qualidade do sono ou que fazem a contagem de passos dados em determinado dia, certo?

Mas diversas empresas têm apostado nessas plataformas para cuidar da saúde dos funcionários —indo um pouco além da clássica ginástica laboral, por exemplo.

Uma delas é a plataforma criada pela healthtech HSPW, Healthy & Safe Place To Work, que tem foco na saúde física, mental e financeira, além de abranger dicas de sono, nutrição e sexualidade. É um "pacote completo".

Usei-a por alguns dias e achei interessante que, quanto mais eu respondia às perguntas, mais dados e informações sobre minha saúde apareciam. Para isso, a empresa utiliza uma metodologia científica, que une inteligência artificial e algoritmos.

aplicativo HSPW - Divulgação - Divulgação
Aplicativo da HSPW analisa todos os âmbitos da saúde do funcionário
Imagem: Divulgação

A partir deste "raio-X", o aplicativo oferece dicas, vídeos com especialistas, além de acesso aos profissionais de saúde. De acordo com Nestor Sequeiros, CEO da HSPW, a plataforma surge com a ideia de entender a saúde das pessoas em tempo real.

"Podemos dizer que, até agora, as soluções estão mais focadas de forma reativa do que preventiva. Geralmente, as pessoas procuram serviços médicos quando é 'tarde demais', sem entender qual era a raiz do problema", afirma.

De acordo com Sequeiros, o aplicativo já conta com mais de 2.000 usuários de diversas empresas do país. Desta forma, as companhias conseguem reduzir gastos com os planos de saúde, além de pensar em estratégias a partir dos dados dos funcionários. Isso, é claro, sempre dentro das normas da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais).

Um exemplo: se a empresa começa a ter números altos de funcionários com burnout, ela pode pensar em formas de abordar e tratar o problema de forma preventiva.

Cultura da saúde dentro das empresas

É fundamental que essa cultura seja incentivada. A equipe de Recursos Humanos, principalmente, precisa fazer com que os funcionários engajem com a tecnologia. Não basta apenas oferecer, é preciso incentivar os colaboradores a todo instante.

Uma empresa que realiza esse tipo de iniciativa é a Alice, uma gestora de saúde que, além de oferecer os serviços em hospitais e laboratórios, possui um time de especialistas disponíveis para ajudar os clientes.

Durante a pandemia, notando a dificuldade da prática de exercícios físicos com frequência por parte dos funcionários, a empresa decidiu criar a campanha "Saia do Sofá". Os funcionários deveriam fazer exercícios por 20 dias, durante um mês, por pelo menos 5 minutos.

Depois, a pessoa entrava no Slack —app de mensagens para empresas— e fazia um "check-in", mostrando que havia feito o exercício, compartilhando fotos na academia, caminhada com cachorro, ioga, entre outros. No fim, todo mundo que venceu o desafio ganhou uma camiseta da empresa.

Funcionários da Alice compartilham o que fizeram de atividade física pelo Slack - Divulgação - Divulgação
Funcionários da Alice compartilham o que fizeram de atividade física pelo Slack
Imagem: Divulgação

De acordo com Sarita Vollnhofer, responsável pelo RH da Alice, a ideia fez tanto sucesso que virou um movimento entre as pessoas.

"Elas se engajaram e criaram conexões, principalmente durante o home office. Os depoimentos pelo Slack funcionaram muito bem, encorajando outras pessoas a participarem", explica. "Se a gente deseja um mundo mais saudável, nós, como equipe, também precisamos ser um time saudável."

Redução de fatores de risco

Mais um exemplo é o Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP) que, após implantar um programa focado na qualidade de vida dos colaboradores, registrou queda nos níveis de fatores de riscos à saúde entre os profissionais, nos últimos dez anos.

Tabagismo e hipertensão, por exemplo, foram reduzidos em 43% e 42% respectivamente, enquanto a dislipidemia (elevação do colesterol ou gordura no sangue) teve queda expressiva de 46%. O estresse também foi reduzido em 19%.

De acordo com Leonardo Piovesan, gerente médico do Programa Saúde Integral, os resultados são reflexos de cuidados com a saúde de forma integrada, com médico de família, enfermeiros, psicólogos e nutricionistas.

"Nesse formato, cerca de 90% dos casos são conduzidos pelo médico da família. E essa alta taxa de resolução da atenção primária evita que o paciente passe por vários médicos e faça exames repetidos, não onera o sistema como um todo e, o mais importante: permite um melhor cuidado com o paciente", explica.

Tecnologia: os prós e os contras

Para Alexandre Pimenta, médico e cirurgião geral de Minas Gerais, responsável técnico pela AmorSaúde, rede de clínicas parceira do Grupo Cartão de Todos, esses aplicativos —dentro ou fora das empresas— oferecem uma "autogestão".

"Nós temos esse hábito de terceirizar muito a saúde ou para o Estado ou ao plano de saúde. Esses apps acabam gerando uma responsabilidade nas pessoas, prevenindo doenças. Eles orientam e dão dicas, mas a escolha é do paciente, se ele vai aderir ou não", diz.

Além disso, Pimenta acredita que essas tecnologias servem para oferecer dados que, às vezes, a pessoa nem imaginava, como a qualidade do sono e da alimentação, além da falta de atividade física.

"A ideia é que o paciente leve essas informações quando for ao médico. Esse encontro com o profissional da saúde será muito mais valioso", afirma.

Para Rosylane Rocha, presidente da Anamt (Associação Nacional de Medicina do Trabalho), o emprego das novas tecnologias na assistência ao paciente deve ser sempre reconhecido como aliado, sem comprometer a relação médico-paciente, que deverá ser presencial.

"O atendimento presencial é nosso padrão-ouro, durante o qual há o emprego da semiologia médica [sinais e sintomas] e o contato com o paciente. A medicina não é um negócio que se vende online, ela difere das demais prestações de serviço. Afinal, lidamos com vidas", explica a médica.

Rocha conta que o uso dos recursos tecnológicos na assistência médica são uma excelente aliada na intermediação. "Mas nunca como fonte principal de informações ou de conhecimento, que deve ser sempre o médico, em consulta —seja presencial ou, em casos excepcionais como a pandemia, por telemedicina", diz.

As empresas, inclusive, devem manter as ginásticas laborais, por exemplo, que auxiliam na questão de postura e ergonomia. Além disso, o que se oferece de alimentação dentro da instituição é algo a ser pensando, segundo Pimenta.

alongamento durante o trabalho - iStock - iStock
Imagem: iStock

"Pessoas com diabetes, hipertensão, por exemplo, necessitam de alimentos específicos e não conseguem, em algumas situações, buscar em casa. Então, a empresa precisa pensar nisso também. Já ouvi de pacientes, com doenças descontroladas, que não encontram opções de alimentos nas empresas", diz.

Por fim, é fundamental oferecer acompanhamento psicológico aos funcionários, principalmente neste contexto de pandemia, que tem aumentado os casos de burnout entre os funcionários.

Pensando exatamente na saúde mental, a plataforma OrienteMe surgiu com o objetivo de oferecer terapia online. Hoje, ampliou um novo atendimento para as empresas que oferecem o serviço aos funcionários: a nutrição.

A plataforma faz um mapeamento do grau de risco, oferece atendimento aos colaboradores de forma personalizada, com profissionais de saúde. Há ainda uma biblioteca com conteúdos em vídeos, textos ou podcast.

app OrienteMe - Divulgação - Divulgação
Plataforma OrienteMe surgiu como proposta de terapia online e, hoje, oferece acompanhamento nutricional para funcionários
Imagem: Divulgação

"Nossa missão é fazer com que as pessoas se conectem com uma vida mais saudável. Não é aquela mudança do dia para a noite. São hábitos que transformam a vida", explica Daniela Chohfi, responsável pelo marketing e cofundadora da OrienteMe.

Empresas mais preocupadas com a saúde dos funcionários

É o que demonstra um levantamento da It'sSeg, corretora de seguros especializada em gestão de benefícios. O resultado mostra que houve aumento de 17% no número de palestras realizadas sobre saúde e qualidade de vida nas empresas por ela atendidas, saltando de 211 eventos em 2019 para 248 entre julho de 2020 e junho de 2021 —período da pandemia.

Ainda segundo o levantamento, houve maior interação de colaboradores nos eventos promovidos de julho de 2020 a junho de 2021 no formato online comparado às sessões realizadas presencialmente em 2019. Esse é um ponto importante, segundo Danilo Nakandakare, superintendente médico de gestão de saúde da It'sSeg. "A maior barreira desses apps, das plataformas online, é o engajamento dos usuários".

Por isso, na visão do especialista, as empresas devem ter essa cultura muito presente entre os funcionários. "Caso contrário, não será possível disseminar a utilização de todos os benefícios que a empresa está promovendo", explica.