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Carnaval 'cancelado': quais os riscos de realizar a festa na pandemia?

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Imagem: iStock

Danielle Sanches

Do VivaBem, em São Paulo

26/11/2021 13h04

Mais um fim de ano chegando, o segundo desde que a pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) foi decretada pela OMS (Organização Mundial da Saúde), e as festas de fim de ano novamente estão com a realização em suspenso pelo receio de que uma nova onda da doença seja patrocinada pelas comemorações.

A mais recente polêmica é com o Carnaval 2022, que segue indefinido nas principais capitais brasileiras porque a maioria das prefeituras optou por deixar a decisão para dezembro e acompanhar os índices de transmissão. No interior de São Paulo, um dos locais em que a folia do Rei Momo é mais tradicional, ao menos 70 municípios já cancelaram as festividades por receio de aumentar os casos de covid-19.

Quem defende a realização da festa argumenta que, além dos índices de vacinação estarem altos, os blocos e desfiles serão realizados em ambiente aberto, o que, teoricamente, reduziria o risco de contaminação. Mas a questão não é tão simples assim.

"O novo coronavírus é transmitido principalmente por via respiratória, então, de fato, ambientes abertos representam menos risco", afirma a infectologista Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. "No entanto, uma festa como Carnaval ou Réveillon, por exemplo, cria uma aglomeração muito grande em que o distanciamento social não é possível, e isso faz com que os riscos de transmissão sejam altos", afirma.

Na prática, o que acontece é que a proximidade com as pessoas em festas com grandes públicos e aglomerações aumenta e muito a possibilidade de contato com secreções respiratórias —especialmente em uma festa como carnaval, em que o público gosta de cantar e ter contatos mais próximos, como beijos e abraços. "Do ponto de vista sanitário, é um grande risco, infelizmente."

Há, ainda, outra questão a se considerar. A partir de janeiro de 2022, um grande número de indivíduos completará mais de cinco meses com a segunda dose da vacina, o que pode reduzir a resposta imunológica do organismo frente ao patógeno. "Sabemos que a imunogenicidade das vacinas atuais acaba sendo reduzida após esse período, e nem todo mundo recebeu a terceira aplicação para reativar a proteção", afirma Raquel Muarrek, infectologista da Rede D'or e da Medicina Interna Personalizada (MIP).

As duas especialistas concordam que eventos desse porte seriam menos perigosos se o uso de máscara continuasse obrigatório. "Não usar o acessório seria possível apenas em locais em que é viável manter uma distância segura", explica Richtmann.

E o Natal?

Pois é, muita gente também está dizendo que, se é possível encontrar a família no Natal, não tem sentido em cancelar o Carnaval —mas, novamente, a questão não é tão simples.

Para começar, o número de pessoas que costumam se reunir é imensamente menor do que o aglomerado de pessoas que encontramos nas ruas acompanhando os blocos, por exemplo. "Com menos pessoas e ainda, dentro de um círculo familiar próximo, conseguimos ter mais controle sobre quem se vacinou, combinar fazer uma testagem antes do encontro", afirma Ritchmann. "É diferente de pensar em uma festa com milhões de pessoas com quem nunca tive contato, não sei se tomou ou não vacina", avalia.

A concentração menor de pessoas e a distância entre elas é também a justificativa para manter restaurantes e bares abertos, o que reduz a transmissão mesmo nos momentos em que ficamos sem máscara para comer e beber.

Estádios de futebol, por outro lado, têm um risco um pouco maior por conta do público numeroso, mas ainda assim, menor do que grandes eventos já que o controle de vacinados e a circulação de pessoas internamente é menor. "Além disso, não há o costume de manter contato íntimo nesse tipo de evento, o que reduz as chances de contato com secreções contaminadas", avalia Ritchmann.

Por fim, as baladas são ambiente de alto risco, mesmo que o público seja menor, por ter a combinação de distanciamento reduzido, ambiente fechado e alta chance de contato íntimo.

Para Muarrek, é importante ter em mente que, embora estejamos em um bom momento, a pandemia ainda não terminou. "Basta ver o que está acontecendo na Europa. Estamos muito bem, mas a batalha ainda não terminou", alerta.