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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Quer cuidar da sua saúde mental? Veja 7 sugestões para fortalecer a mente

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Imagem: Getty Images

Luciana Borges

Colaboração para o VivaBem

19/11/2021 04h00

A pandemia colocou, definitivamente, os cuidados com a saúde mental em alta. Questões como confinamento, distanciamento social, medo da contaminação e volta progressiva à vida social vêm exigindo atenção e, não à toa, os profissionais da área sentem a demanda nos consultórios. Uma pesquisa recente do Instituto Ipsos para o Fórum Econômico Mundial comprovou esse interesse: 53% dos brasileiros notaram que houve um agravamento de sua saúde mental em pesquisa realizada entre abril de 2020 e abril de 2021.

Pensando em como ajudar a proteger mais a mente do estresse do dia a dia e de olho na retomada pós-vacinação contra a covid-19, três especialistas focados em áreas distintas da saúde mental sugerem cuidados-chave para encontrar o equilíbrio, desacelerar e fortalecer a mente. Acompanhe os insights abaixo:

1. Olhe para si

"Angústia e ansiedade têm a ver com possibilidades em aberto", explica Wimer Bottura, psiquiatra e psicoterapeuta, presidente da ABMP (Associação Brasileira de Medicina Psicossomática), que aponta o excesso de alternativas ou possibilidades dos tempos atuais como um dos maiores inimigos da paz mental das pessoas. "A gente tem tolerância a um determinado número de situações abertas em nossa vida, até porque ninguém tem a vida 'fechadinha' em tudo", diz ele. "Mas o fato é que há situações que envolvem sentimentos como culpa, revolta, vingança, ciúmes, e que enquanto estão sem resolução geram sofrimento. Então, seria necessário olhar para si mesmo antes de tudo, ter consciência do que está passando", fala Bottura.

2. Ouça e seja ouvido

Outra sugestão proposta pelo psiquiatra para manter a mente protegida é focar na escuta, ou seja, em ouvir e ser ouvido por alguém: "As pessoas precisam se escutar e hoje elas não fazem isso. Elas até esperam o outro acabar de falar, mas a escuta é processar a informação que vem do outro lado e interagir com ela", explica. "Hoje sabemos que o transtorno mental nada mais é do que um transtorno bioquímico do organismo, ao qual todos nós estamos sujeitos".

3. Comunique-se melhor

De acordo com o médico, umas das grandes causas de estresse mental é o ruído de comunicação, seja entre familiares, seja entre casais ou no âmbito profissional. "A grande maioria dos problemas é fruto de erros nessa área. Particularmente, acho que é um dos maiores problemas que temos ainda hoje a enfrentar", revela. "O descuido com a saúde mental é, em essência, um descuido das relações, como as pessoas não saberem dizer não àquilo que as oprime ou desagrada, por exemplo".

Mulher com refluxo, azia, queimação, dor no peito, ansiedade, estresse - iStock - iStock
Imagem: iStock

4. Cuide de corpo e mente como um todo

De acordo com o especialista, não é possível diferenciar as doenças psicossomáticas daquelas que, em teoria, não estariam relacionadas com a mente. Essa é uma crença ultrapassada. "Toda doença, mesmo com muitos caracteres orgânicos, concretos, têm fortes componentes emocionais na sua determinação", diz Bottura. "Ou esse problema de saúde já é de caráter mental ou acaba tendo repercussão na psique da pessoa", explica o médico. Segundo ele, tudo que era relacionado com emoção ou sentimento costumava ser colocado abaixo, como algo de pessoas fracas, o que não é verdade. "A nossa negligência com as emoções, com o tempo, cobra seu preço", diz.

5. Não ignore as emoções

De acordo com Bottura, o medo nos avisa do perigo, enquanto a raiva é uma maneira de nos defender dele, seja fugindo, seja enfrentando o 'inimigo'. Hoje, porém, o significado de enfrentar é dialogar. "Se resolve o conflito pela conversa", reforça o psiquiatra. Ele ressalta, no entanto, que ignorar esses sentimentos pode levar a transtornos mentais.

6. Conheça os seus limites

"Aprendemos a nos comunicar e a trabalhar de novas maneiras e até a estar no 'convívio social' de forma distinta desde que chegou a covid-19", diz a psicanalista Anna Carolina Lementy, que também é jornalista e pesquisadora de análise do discurso pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Segundo ela, isso não substituiu as relações presenciais, mas as pessoas se adaptaram, o que trouxe diversas questões de como nos apresentamos para o outro virtual e pessoalmente. O problema é que a virtualização fez com que achássemos que o corpo não tem limites, que é possível ouvir um podcast enquanto se participa de uma reunião, por exemplo, acumulando ações, tarefas, e isso impacta nossa subjetividade.

"Tem muita gente agora sofrendo com o retorno aos compromissos presenciais porque voltamos a 'pagar' essa presença com a moeda do corpo, que é algo limitado". O desafio agora, segundo Lementy, é absorver outra vez as barreiras e as demandas da interação: "Precisaremos delimitar certos limites que a pandemia camuflou. Sugiro começar a pensar como a pessoa irá se colocar no mundo de novo —e que isso não precisa ser igual a como era feito antes". Também é interessante notar que não é possível dar conta de tudo, e encontrar um intervalo no trabalho para cuidar da família ou do que você vai jantar, por exemplo. "A partir de agora, eu diria que é preciso considerar, de verdade, o que é importante para a nossa vida", diz.

raiva e ansiedade - iStock - iStock
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7. Cuidados para crianças e adolescentes

Crianças e adolescentes voltaram para a sala de aula e para o convívio social já em outra fase da vida, segundo Gabriela Luxo, psicóloga mestre e doutora em distúrbios do desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Isso significa que eles retornaram até com uma nova aparência, porque cresceram. No caso dos mais velhos, alguns estão no auge das mudanças físicas e da busca por identidade de grupo.

Sair do ambiente onde aprenderam a ter controle de tudo pode gerar impacto na saúde mental: "Eles estavam acostumados a viver atrás das câmeras e, de certa forma, dosar o quanto apareciam diante delas para os outros —fossem amigos, professores ou colegas. Caso se sentissem muito expostos, podiam dar uma desculpa qualquer como problema na internet durante uma aula ou não responder ao celular. Era possível se fechar em seu mundo", afirma a psicóloga. Já ao regressar para a comunicação ao vivo, essas habilidades de "aparece-esconde" que acabaram virando marca do período da pandemia não são mais possíveis.

Por isso mesmo, principalmente no momento da volta às aulas, é preciso a participação ativa dos pais. "Eles devem observar se a criança ou o adolescente passa muito tempo fechado no quarto, se está mais retraído, agressivo, ou até grosseiro em suas atitudes, isso pode ser sinal de sofrimento", indica Luxo.

Outra recomendação da especialista é colocar a escola como "parceira" nesse momento de observar mais de perto a saúde mental dos filhos: "Pergunte como ele está indo na sala de aula", diz ela. Por fim, a psicóloga indica prestar atenção se os mais jovens não estão se "escondendo" atrás das tramas de games de computador ou celular —de maneira a vivenciar a fantasia e negar a realidade. "Este também é um sinal de fuga, de talvez esconder algo. Um contraponto é proporcionar encontros ao ar livre, em segurança, claro, mas que envolva família e amigos próximos. "É preciso diálogo e escuta", diz.