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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Joelho voltado para dentro ou para fora pode ser normal, ou não; entenda

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Imagem: iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

26/10/2021 04h00

No passado, acreditava-se popularmente que os joelhos, quando muito afastados, conferindo às pernas um aspecto arqueado, mesmo após unidos os tornozelos, pudessem ter relação com cavalgar. Balela. Talvez por John Wayne, astro de filmes de faroeste, andar com as pernas um pouco abertas.

Já os joelhos para dentro e que se tocavam eram reconhecidos como em X, ou tesoura. Para "corrigi-los", assim como os pés chatos, muitas crianças usaram botas ortopédicas e até invertidas (bota esquerda no pé direito, por exemplo) até os anos 80 e 90. Mas com o avanço da medicina, o que era "anormal" deixou de ser e elas foram deixadas de lado.

Hoje, os médicos consideram as duas variações de joelho (varo, apontado para fora, e valgo, apontado para dentro) como características anatômicas normais. Mas, havendo deformidades, também causa e efeito de problemas que podem surgir nas pernas e afetar todo o organismo.

"Muitas coisas podem estar por trás e é preciso identificar se é fisiológico ou uma alteração decorrente de desnutrição, acidente ou doença. Durante a infância, por exemplo, é natural que o joelho varie, pode ser mais aberto, depois fechar e então atingir um valgo fisiológico, ou seja, ficar um pouquinho para dentro, o que é normal", explica Hélder Renato Barbosa Givigi, ortopedista pelo Hospital Municipal Miguel Couto (RJ) e do Hospital Casa de Saúde Guarujá (SP).

Quando não é para se preocupar

Givigi explica que, ao nascer, os joelhos são naturalmente arqueados para fora e o ângulo deles pode chegar a até 15 graus, antes de haver diminuição para grau 0 até os 2 anos. Depois, podem inclinar até 15 graus para dentro, mantendo-se assim até por volta dos 4 anos, até que a partir dos 6 anos começam a assumir uma forma parecida com a dos adultos e que varia entre gêneros.

Outro especialista no assunto, Aloisio Reis Carneiro, ortopedista dos Hospitais São Rafael e Aliança, da Rede D'Or, em Salvador, diretor científico da SBCJ (Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho) e membro da Sociedade Mundial de Cirurgia do Joelho e Traumatologia do Esporte, acrescenta que os homens têm tendência natural a ter joelhos neutros ou varos e, em média, com 0 a 3 graus. Já em mulheres, a inclinação é para dentro do corpo, de 5 a 8 graus para valgo.

"Se for da constituição anatômica é congênito, se nasce com esse traço genético", esclarece Carneiro, que aproveita para assegurar que jogar bola não causa a condição que acometeu o lendário ponta-direita brasileiro Mané Garrincha, conhecido por "anjo das pernas tortas".

"De forma alguma. Os joelhos dele eram em 'ventania' [quando um é para fora e o outro para dentro], ocasionados por uma deformidade estrutural genética que afetou sua coluna, que tinha escoliose com curva dupla, encurtou uma das pernas e se agravou por poliomielite."

Como causa e efeito de problemas

Quando muito alterados ou acarretam prejuízos à saúde, os joelhos varo e valgo, no entanto, podem ser em decorrência de distúrbios congênitos, fatores adquiridos ou as duas coisas ao mesmo tempo.

Tíbia vara de Blount, doença que altera o desenvolvimento do osso da canela, levando à deformação progressiva das pernas em varo grande; traumas por fraturas; infecções no osso (osteomielites); lesões ligamentares; tumores ósseos, tudo isso deve ser considerado.

Joelhos normal, valgo e varo - iStock - iStock
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"Pode ter origem genética e familiar. Mas o mais comum é ser por lesões traumáticas de algumas estruturas do joelho, como do menisco [cartilagem responsável pelo amortecimento] lateral, que pode levar à diminuição da absorção do impacto naquele lado, levando a um desgaste precoce da articulação, a osteoartrose, e quanto mais grave e sem nenhum cuidado, maior a deformidade angular", afirma Alexandre Stivanin, ortopedista do Hospital Samaritano (SP) e especialista em cirurgia do joelho pela SBCJ (Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho).

Nesse contexto, aí sim é preciso tomar cuidado ao jogar futebol. Stivanin esclarece que por conta das forças de tração e arranque e pelos impactos e exercícios intensos e progressivos. Graus angulares muito elevados, acima do normal, sobrecarregam os joelhos, mas também quadris, tornozelos, gerando ainda deformidades nos pés, desequilíbrios na coluna (hérnia de disco e até alterações na mastigação), artrose precoce, predisposição para diferentes lesões e, se impedir a mobilidade diária, doenças e até piora de obesidade, hipertensão e diabetes.

É preciso intervir cedo

Suspeitando de que há algo errado com os joelhos e principalmente com dores e inflamações após atividades físicas, procure um médico —e logo—, pois quanto mais cedo o diagnóstico, maiores as chances de freá-lo se for ruim e obter êxito no tratamento.

Para cada caso há uma abordagem específica e que leva em consideração se o paciente é criança, adolescente, jovem adulto, atleta, idoso e se apresenta, ou não, comorbidades e faz uso de medicamentos.

A diferenciação entre constitucional e patológico e necessidade de intervenção ou apenas acompanhamento é feita a partir de exames físicos e de imagem (radiografias, ressonâncias e tomografias).

Para casos leves e iniciais, podem ser indicados uso de órteses, fortalecimento dos membros inferiores, imobilizações para guiar o crescimento ósseo corretamente e minimizar deformidades e até ácido hialurônico injetável quando não há lesões importantes.

"Nos casos refratários, pouco satisfatórios, estão reservados os tratamentos cirúrgicos que, a depender do histórico clínico, podem ser a osteotomia dos ossos da perna com realinhamento do membro ou a artroplastia total de joelho", indica Daniel Meirelles, ortopedista e cirurgião de joelho do Hospital Igesp (SP).

O primeiro consiste em cortes nos ossos, que são fixados com placas e parafusos para corrigir angulação e deformidades extremas. Já o segundo se baseia em implante de prótese quando há presença de artroses, dores e danos articulares limitantes.