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O que é normal em uma consulta ginecológica? Veja passo a passo

Imagem: iStock

Amanda Calazans

Colaboração para VivaBem, em Anápolis (GO)

25/10/2021 04h00

Segundo dados do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), ginecologia e obstetrícia era a especialidade mais denunciada no estado de São Paulo até 2018. O segmento estava presente em 10% das sindicâncias por quaisquer motivos, enquanto a especialidade em segundo lugar, pediatria, tinha 5%. Em um levantamento de 2006 a 2010, ginecologistas representavam quase 50% das denúncias de assédio sexual no conselho.

Entre esses números estava o caso de Roger Abdelmassih, especialista em reprodução humana que acumulara sozinho 51 processos em 2009. Caso semelhante ocorreu este ano em Goiás. De setembro a outubro, a Polícia Civil de Anápolis reuniu mais de 50 denúncias contra o ginecologista e obstetra Nicodemos Júnior Estanislau Morais, 41. Ele foi indiciado por assédio sexual, violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável. Inclusive foi proibido, ao menos temporariamente, de exercer a medicina.

No entanto, mais da metade das denúncias de assédio sexual contra ginecologistas não se confirmam, de acordo com o Cremesp, porque se tratam de procedimentos comuns no contexto do exame ginecológico, mas mal comunicados às pacientes.

Por isso, afirma Márcia Machado, presidente da Sogiba (Associação de Obstetrícia e Ginecologia da Bahia), "é importante esclarecer a boa consulta ginecológica, e as más a gente deve combater."

Passo a passo da consulta ginecológica

A mulher pode consultar um ginecologista a partir de alguma queixa ginecológica ou realizar a chamada "consulta de rotina" anualmente. O tempo de duração e exames solicitados variam de acordo com o perfil do médico e da paciente, mas toda consulta deve obedecer aos seguintes protocolos:

Acompanhante - a paciente, mesmo adolescente, pode escolher estar ou não com um acompanhante durante toda a consulta. Os médicos também podem solicitar um assistente do consultório durante o exame clínico.

Anamnese - para fazer uma orientação adequada, o médico pergunta sobre o histórico menstrual, obstétrico e sexual da paciente, o que pode incluir frequência de relações sexuais, se transa com homem ou mulher e se sente algum desconforto durante o sexo.

Caso escute alguma queixa, o ginecologista pode fazer perguntas mais específicas para entender o problema. Mas se limita a detalhes da dor, não do prazer. Uma exceção costuma ocorrer durante a menopausa, período em que a paciente pode não perceber a mudança na libido, então cabe ao médico perguntar sobre orgasmos e investigar fatores não hormonais —como problemas no relacionamento, por exemplo.

Exame clínico - depois da conversa, a paciente deve ir ao banheiro privativo tirar toda a roupa e vestir um roupão descartável. O médico começa com um exame geral de peso, altura, temperatura e pressão arterial. Com a mulher sentada na maca, ele avalia ainda as mucosas da face e verifica se está corada. Então pede para ela se deitar.

Descobrindo um seio por vez, o ginecologista irá palpar a mama e realizar a expressão mamilar, feita para verificar a ocorrência de algum líquido. A técnica é diferente de uma estimulação do mamilo, e o odor ou outra característica da substância devem ser avaliados pelo médico sempre com o rosto distante do corpo da mulher. Com os seios cobertos, o profissional então confere o abdome.

Depois começa o exame físico genital. A paciente suspende os pés ou pernas na maca ginecológica, enquanto o médico coloca luvas e se senta. Ele começa afastando os lábios da vagina e inspecionando as regiões interlabiais.

O clitóris só é tocado se o médico observar algum nódulo ou se a paciente se queixar de algo na região. Se a mulher tiver vida sexual ativa, o ginecologista introduz um espéculo na vagina. O tamanho do objeto, conhecido como "bico de pato", é escolhido a depender da idade e quantidade de filhos da paciente.

Em caso de corrimento vaginal, o ginecologista deve examinar o odor a distância ou com o auxílio de uma espátula para coletar o líquido. A depender da queixa clínica da pessoa, o médico também pode pedir para examiná-la em uma posição diferente da habitual.

Imagem: Getty Images

Papanicolau e colposcopia - a cada ano, o ginecologista pode realizar o papanicolau, exame que previne o câncer de colo do útero. Com a vagina aberta pelo espéculo, o médico usa uma escova cervical para coletar o material a ser examinado posteriormente por um laboratório.

Caso o papanicolau anterior tenha apresentado alguma alteração, pode ser feita uma colposcopia como complemento. É o exame que visualiza o colo do útero com o auxílio de um equipamento parecido com o microscópio, posicionado na abertura da vagina. Entretanto, se o preventivo estiver normal, a colposcopia pode ser mais espaçada.

Toque vaginal - os livros de medicina recomendam a realização do toque vaginal rotineiramente. Mas há médicos decidindo não fazê-lo por influência de vertentes dos Estados Unidos e da Europa, onde a consulta com generalista é mais comum do que com especialista.

Por aqui, o toque vaginal é feito nas consultas de rotina, nas consultas de emergência, se necessário, e nas primeiras consultas de reprodução humana. A partir do toque, é possível identificar sintomas relacionados à infertilidade, como dor pélvica.

O ginecologista ainda consegue identificar problemas que a ecografia não detecta, mas que só exames mais caros, como a ressonância magnética, mostrariam. Além disso, por meio do toque, o médico pode avaliar a consistência de nódulos.

Para um toque vaginal correto, o médico coloca luvas novas e aplica um gel lubrificante para introduzir dois dos dedos, enquanto o restante é contido pelo dedão. Esse detalhe é importante para evitar encostar no clitóris durante o exame. No procedimento, o médico toca paredes vaginais, trompas, ovários e colo do útero, passando os dedos de um lado para o outro e de cima para baixo. Também ocorre o toque combinado, em que se pressiona o baixo ventre e as fossas ilíacas (região abaixo da umbigo, próxima ao quadril do lado direito) com a mão livre.

Orientações - com o fim dos exames clínicos, a paciente volta ao banheiro para se vestir. Enquanto isso o médico registra no prontuário tudo o que aconteceu. Quando a paciente retorna, ele pode pedir exames complementares, receitar medicamentos e dar orientações de alimentação e higiene íntima.

Outras dicas dependem das queixas da paciente. Para adolescentes, por exemplo, podem ser recomendados materiais informativos sobre sexualidade e puberdade, como livros e sites de instituições médicas. Não cabe ao médico recomendar conteúdo erótico.

Caso a paciente pergunte sobre masturbação, o médico pode explicar a ela que não faz mal e alertar que o excesso pode prejudicar a saúde física e mental. E se a mulher mencionar dificuldades para chegar ao orgasmo, ele também pode sugerir terapia sexual, em que ela irá entender melhor seu corpo para descobrir como ter mais prazer.

Aparelho usado no ecografia (ou ultrassom) transvaginal Imagem: iStock

Ecografia da mama e transvaginal - geralmente, um médico diferente realiza a ecografia, já que é um exame que precisa ser agendado e pode acontecer em um hospital, clínica ou laboratório. Nesse caso, o médico ultrassonografista só deve perguntar o motivo do exame e confirmar dados, evitando a conversa mais detalhada que a paciente já fez em consultório.

Na ecografia da mama, a mulher pode permanecer com a parte de baixo do vestuário, só colocando uma blusa descartável. O ultrassonografista irá descobrir e examinar um seio por vez. Com transdutor e gel, ele percorre toda a mama, aréola, mamilo e axila. Se notar algum nódulo no ultrassom, o médico pode tocá-lo para descrever a consistência no laudo.

Já a ecografia transvaginal é solicitada para pacientes com vida sexual ativa, mas pode ser dispensada para adolescentes que tiveram poucas relações sexuais, idosas que não fazem sexo há muito tempo, mulheres muito magras ou pacientes que simplesmente preferirem fazer o exame por via pélvica.

Na transvaginal, o transdutor é inserido pela vagina. Para isso, o médico coloca um preservativo sem lubrificante no aparelho e aplica um gel para introduzi-lo e ver colo do útero, útero e ovários. É necessário estar com a bexiga vazia e usar somente o roupão descartável.

Mensagens - cada vez mais, pacientes costumam acionar seus ginecologistas via WhatsApp para perguntar sobre resultados de exames e efeitos de medicações. É comum que o médico responda tarde da noite e que retome uma conversa no dia seguinte para perguntar se uma paciente melhorou, por exemplo. Fora isso, não há necessidade de enviar mensagens para uma paciente que não entrou em contato primeiro ou sobre assuntos não relacionados à consulta.

Se notar algo estranho...

Com informações sobre o que é normal ou não durante a consulta e os exames ginecológicos, a paciente consegue questionar o médico caso perceba algum comportamento inesperado.

Se ele não apresentar uma justificativa convincente para o ato, a mulher deve relatar à ouvidoria da unidade de saúde, se existir. Ela ainda pode registrar um boletim de ocorrência e denunciar o ginecologista no conselho de medicina de seu estado, que deve apurar o caso a partir do Código de Ética Médica.

Fontes: Márcia Machado, presidente da Sogiba (Associação de Obstetrícia e Ginecologia da Bahia); Vinicius Medina Lopes, presidente da SGOB (Associação de Ginecologia e Obstetrícia de Brasília); Rodrigo Zaiden, diretor de defesa profissional da SGGO (Sociedade Goiana de Ginecologia e Obstetrícia).

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