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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


O pensamento pode fazer com que coisas boas aconteçam?

Imagem: iStock

Bruna Alves

Do VivaBem, em São Paulo

16/10/2021 04h00

Resumo da notícia

  • O livro da psiquiatra espanhola Marian Rojas tem o objetivo de ajudar o leitor a se compreender melhor e fazer com que coisas boas aconteçam
  • No entanto, especialistas dizem que não é possível afirmar que o pensamento possa influenciar a realidade
  • Segundo eles, sim, o pensamento positivo traz uma série de benefícios para a mente, mas isso não significa que ele interfira diretamente na vida

Recentemente, chegou ao Brasil o livro da psiquiatra espanhola Marian Rojas, que tem como objetivo ajudar o leitor a compreender o cérebro, administrar as emoções e alcançar uma vida mais plena e feliz. Na obra intitulada "Como Fazer Com Que Coisas Boas Aconteçam", a especialista aponta supostos caminhos para ter o corpo e a alma saudáveis e, assim, se aproximar da felicidade.

Em entrevista ao VivaBem, a autora diz que "fazer com que coisas boas aconteçam, em muitas ocasiões, nada mais é do que um exercício de aprender a se conectar da melhor forma possível com a realidade do dia a dia".

De acordo com Rojas, coisas boas e ruins podem acontecer a qualquer momento. Por isso é importante aprender a aproveitar o que for bom e saber administrar o que não foi da melhor forma. "Quando você atinge esse equilíbrio, está perto de coisas boas acontecendo com você", afirma a especialista.

Nesse contexto, porém, há um consenso entre outros especialistas de que não é possível definir o que é felicidade ou como ela se manifesta, o que significa que o que deixa uma pessoa feliz, não necessariamente deixará outra. Aliás, raramente isso acontece —uns ficam felizes com bens materiais, outros em ver a conquista dos filhos, com relacionamentos, viagens, religião.

Cláudio Melo, psicólogo, psicanalista, mestre em psicologia e coordenador do Espaço Terapêutico da Holiste Psiquiatria (BA), diz que existem muitas receitas prontas, livros de autoajuda e "ideias mágicas". "O que hoje é aplicável em um contexto, amanhã pode ser totalmente inútil. A concepção de que um manual de instrução serve para todo mundo é totalmente adversa ao pensamento das individualidades, de que cada pessoa vai encontrar o seu jeito de viver a vida, que é no que eu acredito. Cada sujeito tem que descobrir o seu modo de viver melhor, adequado à sua realidade", diz.

Maria Clara Godoy, psicóloga, mestre em teoria do comportamento, especialista em neurociência e professora do curso de psicologia da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) tem opinião semelhante. Para ela, é preciso ter muita cautela ao afirmar que o pensamento interfere diretamente na vida.

A professora da PUC afirma que todas as emoções, pensamentos e sentimentos são subsidiados por processos bioquímicos que ocorrem no nosso organismo e que podem nos colocar em estado de alerta ou de tranquilidade, mas ressalta que pensamentos positivos por si só não atraem coisas boas. "Porém, podemos afirmar que, ao direcionamos nossa atenção a eventos positivos, o organismo produz substâncias que promovem bem-estar e relaxamento. Isso, sim, nos favorece para agir em busca de que coisas positivas aconteçam", diz.

Para André Israel Werneck Miranda, psicólogo, especialista em gestão de pessoas do SIASS (Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor) da UFAL (Universidade Federal de Alagoas), é provável que pessoas que persistem frente a um sonho ou desejo, de fato, farão com que ele se realize.

Agora, é preciso um pouco de realidade. Uma pessoa que estuda para concursos jamais passará se supervalorizar a esperança e a positividade e não estudar o suficiente. A positividade é um estímulo/crença de que suas ações terão um resultado". André Israel Werneck Miranda, psicólogo, especialista em gestão de pessoas do SIASS (Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor) da UFAL (Universidade Federal de Alagoas).

O hormônio do estresse em excesso altera a saúde física e mental Imagem: iStock

O que acontece quando o estresse toma conta?

Quando uma pessoa entra em um estado de alerta/fuga, seja por um motivo real seja por um imaginário, o chamado de Sistema Nervoso Simpático é ativado e aumenta automaticamente os níveis de cortisol (hormônio do estresse). Esse hormônio nos coloca em estado de alerta e prepara o organismo para situações de combate/enfrentamento, promovendo uma série de alterações, como aumento da pressão sanguínea, redução da imunidade, desregulação hormonal. Quando isso ocorre de maneira crônica e prolongada, o cortisol pode até mesmo deteriorar alguns tecidos corporais, como vasos sanguíneos e coração, colocando a saúde em risco.

Diante desse cenário, segundo a psiquiatra espanhola, as preocupações têm a capacidade de alterar o sistema nervoso. "E não vamos esquecer um fato importante: 90% das coisas que nos preocupam nunca acontecem efetivamente", conta. "O ser humano não foi projetado para viver em modo de alerta; você tem que aprender a sair desse estado de tensão. Isso significa reservar um tempo para meditar, orar, dançar, conectar-se com a natureza, ler, ouvir música ou abraçar entes queridos", exemplifica Rojas.

Como mostra em seu livro, a felicidade consiste em manter um equilíbrio no presente, superando as feridas do passado e sonhando com o futuro. A especialista acredita que muitos dos transtornos com os quais as pessoas padecem se originam na incapacidade de administrar o presente.

Segundo ela, o amor é o melhor antídoto para o sofrimento. O primeiro é o amor a si mesmo, a autoestima. Depois vem o amor pelos outros, o amor de um parceiro, a solidariedade e, finalmente, o amor às memórias e às crenças. "Quando nosso coração está animado com alguma coisa, ele sofre menos e a dor é mitigada", diz.

Mas será que é tudo tão simples assim?

Para o psicólogo Cláudio Melo, quando a psicologia é avaliada apenas como um efeito consciente ou inconsciente diante da própria vida e das relações sociais, pode até ser possível determinar parte do que nos cerca através dos pensamentos. Mas nunca controlar tudo inteiramente. "Por outro lado, pensar num controle místico do destino pela via de coisas como 'pensamento positivo' ou coisas do tipo, nos aproxima de uma condição infantil de encarar a vida, como efeito de 'pensamentos mágicos'", diz.

Podemos controlar algumas coisas, outras, não Imagem: iStock

O especialista explica que não é possível ter domínio completo sobre os mecanismos da mente que nos leve a uma causa e efeito, ou seja, não podemos interferir mentalmente a ponto de fazermos com que coisas boas aconteçam.

Mas isso não significa que o pensamento positivo não seja benéfico. "Há muitas especulações e hipóteses, mas não uma conclusão científica definitiva ou segura, que nos permita dizer que ter esse ou aquele pensamento vai nos trazer o resultado x ou y", acredita Melo.

E tem mais: o amor pode trazer momentos de felicidade, mas também de sofrimento. Então, por que não admitir essas duas possibilidades? Afinal, o sofrimento também é construtivo e faz parte da vida.

Pequenas atitudes fazem a diferença

Muitas vezes, as preocupações e afazeres diários fazem com que "liguemos o modo automático" e passamos a deixar de viver naturalmente os pequenos prazeres diários. Mas simples práticas dentro da rotina podem recarregar a bateria, além de serem fundamentais.

"Por exemplo, uma pessoa que passa horas no trânsito pode aproveitar esse momento para ouvir suas músicas favoritas, em vez de passar todo o período no carro ouvindo noticiários e entrando em contato excessivamente com informações que tendem a aumentar seu estado de estresse", indica a professora da PUC.

Por outro lado, cada pessoa é única, então, não há uma receita pronta. Mas dentro de todas as perspectivas há um consenso de que a moderação é o melhor caminho para o autocuidado. "Por exemplo, tomar vinho faz bem para a alma, em excesso vira veneno. A vaidade faz bem para o corpo, mas em excesso se torna orgulho", comenta o especialista da UFAL. "Em tudo que for fazer, faça com moderação".

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