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'Uma semana sem fazer cocô': entenda o que é a constipação funcional

Constipação funcional pode ser evitada com a adoção de hábitos mais saudáveis - Getty Images
Constipação funcional pode ser evitada com a adoção de hábitos mais saudáveis Imagem: Getty Images

Luiza Vidal

Do VivaBem, em São Paulo

14/10/2021 04h00

"Eu até esqueço, às vezes, qual foi a última vez que fui ao banheiro." Você se identificou com a frase? Se sim, há uma chance de você ter constipação crônica funcional, que é quando a pessoa apresenta menos de três evacuações na semana por um período prolongado.

A "dona" da frase é Déborah Chiele, 47, corretora de saúde de São Paulo. Desde pequena ela tem dificuldade para ir ao banheiro e costuma esquecer com frequência quando foi a última vez que conseguiu fazer cocô.

"Quando dá vontade, vou uns três dias seguidos. Depois desse 'milagre', penso que estou melhor, mas já volta ao normal", conta. Mesmo assim, Déborah diz não se incomodar tanto com o problema, mas sabe que precisa ir ao médico para investigar melhor a possível causa da constipação.

Déborah Chiele - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Déborah Chiele tem constipação desde a infância
Imagem: Arquivo pessoal

A condição relatada por ela não é aquela típica prisão de ventre que aparece quando você está fora de casa ou come algo diferente do que está acostumado.

Neste caso, a constipação ocorre de forma prolongada e nem sempre apresenta-se apenas como dificuldade de evacuar. Também pode ter outros sintomas como fezes muito duras ou fragmentadas, sensação de que não saiu todo o cocô ou que há uma obstrução do ânus.

De acordo com Gustavo Lima, gastroenterologista pela USP (Universidade de São Paulo), para realizar o diagnóstico, o paciente precisa apresentar dois ou mais dos seguintes sintomas:

  • Menos que três evacuações na semana;
  • Esforço evacuatório aumentado em mais de 25% das evacuações;
  • Fezes muito endurecidas ou em bolinhas em mais de 25% das evacuações;
  • Sensação de evacuação incompleta em mais de 25% das evacuações;
  • Sensação de obstrução anorretal em mais de 25% das vezes;
  • Uso de manobras para facilitar evacuação como suporte com o dedo em mais de 25% das vezes.

"Na maioria dos casos que atendemos, é constipação funcional, que é quando a gente não tem uma causa específica para o problema", explica o médico. Caso contrário, segundo Lima, a constipação pode ser causada por diversas outras condições como Parkinson, diabetes, hipotireoidismo, alterações hormonais da gravidez, entre outros.

Há formas de tratar constipação

Quando o paciente apresenta esse quadro, é importante que ele procure um médico para que uma investigação seja feita. "Tudo que é saudável vai contribuir para o intestino funcionar bem", diz Ricardo Junio Garcia, coloproctologista, chefe do serviço de coloproctologia do Hospital São Vicente de Paulo (RJ) e membro da SBC (Sociedade Brasileira de Coloproctologia).

Isso quer dizer que atividades físicas e uma dieta equilibrada são fundamentais para o bom funcionamento do intestino. Ou seja, uma mudança nos hábitos já pode ser suficiente para resolver a questão. Foi exatamente o que ocorreu com Bárbara Cavalcante, 28, criadora de conteúdo que desde criança sofria com a prisão de ventre.

O ponto é que Bárbara acostumou-se a usar laxante para conseguir ao banheiro. Como também teve bulimia —um tipo de transtorno alimentar— na adolescência, aumentou ainda mais o uso.

Passou anos desse jeito até que um dia teve um coágulo enquanto evacuava. "O médico disse que foi por causa do uso de laxante por muito tempo. Isso agrediu muito meu intestino", conta a jovem, do Rio de Janeiro.

Bárbara Cavalcante - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Bárbara Cavalcante adotou hábitos mais saudáveis e hoje vai ao banheiro normalmente
Imagem: Arquivo pessoal

O uso de laxantes, em excesso e sem orientação médica, deve ser evitado, conforme explica Hadja Abdalla, gastroenterologista da AmorSaúde, rede de clínicas parceira do Cartão de Todos, de Manaus (AM). "Em situações muito agudas, temos, sim, que usar os laxantes. Mas não é só porque é uma constipação crônica que a pessoa só deve ir ao banheiro com laxante, pois pode bagunçar ainda mais", diz.

Mas Bárbara resolveu melhorar: começou um tratamento com um óleo ayurveda, que já mostrou bom resultado, mas não o suficiente para amenizar as dores da constipação. "Teve um dia que senti muita dor no abdome e fui até a emergência. Saí com todos os exames alterados. Tinha 21 anos, pesava 120 kg, estava com obesidade grau 1, pré-diabetes, ovário policístico e tireoidite de Hashimoto", lembra.

Depois do susto, buscou uma nutricionista para fazer reeducação alimentar porque comia muito mal. Quando iniciou a nova dieta, já sentiu todas as mudanças na vida. Perdeu 45 kg no total.

"Já cheguei a ficar uma semana sem ir ao banheiro. Sentia muitas dores, gases, ficava inchada, com a pele horrível. Fazia de tudo para o cocô sair. O problema é que quando conseguia, saía rasgando", diz.

Só quem já passou por isso sabe como é bom fazer um cocô e sentir prazer. Bárbara Cavalcante, produtora de conteúdo

Apesar de ter uma constipação causada pelos diversos problemas de saúde, foi na mudança de hábito que Bárbara conseguiu melhorar o funcionamento do intestino.

Quando sente que terá dificuldades, reforça a hidratação e a ingestão de fibras. Também utiliza o banco de cócoras, um objeto que dá apoio aos pés e, nesta posição, ajuda a esvaziar o intestino por completo, com o cocô saindo "certinho". "Vou ao banheiro todos os dias agora", diz a jovem.

Medidas para amenizar constipação

De acordo com Lima, o objeto dos tratamentos de constipação crônica é melhorar a frequência de evacuações e sintomas do paciente. "Não necessariamente terá que ocorrer evacuação diária", diz.

Segundo o gastroenterologista, existem algumas medidas comportamentais —além da alimentação e da ingestão de água— que podem ajudar o paciente que tem constipação funcional.

  • Aproveitar os movimentos do intestino após refeições e especialmente pela manhã, quando ele é máximo;
  • Não segurar a vontade quando ela vier. Tente procurar um banheiro e aproveite o movimento;
  • Colocar um suporte nos pés para ajudar os músculos do assoalho pélvico a trabalhar melhor;
  • Praticar atividades físicas regularmente;
  • Evitar levar celular ao banheiro e se concentrar somente na evacuação sem permanecer mais tempo que o necessário no vaso sanitário.