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O que acontece com seu cérebro quando você dorme pouco

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Imagem: fizkes/iStock

Giulia Granchi

Do VivaBem, em São Paulo

06/10/2021 04h00

Para realizar qualquer atividade enquanto você está acordado, seu cérebro gasta muita energia.

A principal molécula que carrega essa energia, conhecida como ATP (adenosina trifosfato), é acionada toda vez que há alguma reação no seu corpo. Com a quebra dessa molécula para utilizar a energia, sobra uma substância chamada adenosina difosfato, que no sistema nervoso central tem o poder de induzir o sono.

Se produzimos por muitas horas seguidas sem dormir, receptores captam o excesso de adenosina e avisam o cérebro: "Já deu, você utilizou energia demais e agora é hora de descansar".

"Inclusive, esse é um dos efeitos da cafeína: ela bloqueia esses receptores e não deixa o cérebro perceber que você está cansado, por isso tomar café causa um estado de alerta", explica André Souza, doutor em psicologia cognitiva e neurociências pela Universidade do Texas (EUA).

Se o corpo não atende o pedido ou se você tentar burlar o sono com café já não é suficiente —o que pode acontecer dependendo das horas dormidas—, além de bocejos involuntários, o cérebro terá que lutar contra as adenosinas, essas "mensageiras do cansaço" que ficarão cada vez mais difíceis de serem ignoradas.

Mais vontade de comer doces

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Uma das principais fontes de energia do nosso cérebro é a glicose. Então, se as moléculas ATP já foram muito utilizadas, o organismo começa a mandar sinais de que a energia precisa ser reposta de alguma forma.

Por isso é que sentimos vontade de acabar com um bolo de brigadeiro logo no café da manhã ou devoramos um pacote de bala sem nem perceber, por exemplo.

Prejuízo no aprendizado e na memória

O hipotálamo, área importante do cérebro para guardar memórias e novas informações, depende de ligações neuronais para manter um bom funcionamento.

"Existem pesquisas mostrando que essas conexões ficam inibidas quando o cérebro está trabalhando o tempo todo. É durante o sono que é liberada uma substância responsável por estimular novas conexões a se formarem", aponta Souza.

É por isso, explica o especialista, que se seguimos por muitas horas sem dormir, começamos a não lembrar de episódios e informações de forma tão clara.

"A área do nosso cérebro que controla essa parte da memória não tem a sinapse necessária para poder fazer isso, porque a gente não dormiu o suficiente para que o cérebro ligasse a substância que manda essas conexões se ligarem umas com as outras."

Mudanças no controle do organismo

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Também é o cérebro o órgão responsável por controlar nossa relação de equilíbrio com o mundo exterior, por exemplo a percepção da temperatura. Se o exterior está mais quente, indica o especialista, o cérebro dá comandos para que o corpo produza suor. Mas se deixamos de dormir, esse tipo de de controle não ocorre de forma efetiva.

Os sinais que seu corpo envia também podem ser atrasados, diminuindo sua coordenação, foco e aumentando o risco de acidentes.

Falta de sono pode prejudicar crescimento

Outra consequência para pessoas que dormem pouco e reduzem o tempo de sono profundo é a produção do hormônio do crescimento, o GH (do inglês growth hormone).

Para crianças e jovens, indica Rodrigo Schultz, neurologista e professor do curso de medicina da Unisa, (Universidade Santo Amaro), em São Paulo, a baixa produção do hormônio pode prejudicar o desenvolvimento ósseo e o aumento da estatura.

"É essencial que todos que dormem pouco identifiquem a razão pelas poucas horas de sono —só assim é possível encontrar tratamento. A ansiedade, por exemplo, atingiu muitos durante a pandemia e pode causar insônia ou até fazer com que a pessoa acorde no meio da noite. Outros problemas, como Alzheimer e até enxaqueca crônica também podem estar por trás", indica Schultz.

Além do cérebro...

  • Sistema imunológico também é prejudicado

É também durante o sono que o sistema imunológico produz substâncias protetoras e de combate a infecções, como anticorpos e citocinas. Ele usa essas substâncias para combater invasores externos, como bactérias e vírus.

A privação do sono impede que seu sistema imunológico acumule forças e pode resultar desde o aparecimento de alergias até quadros mais sérios, a depender dos organismos aos quais somos expostos. A longo prazo, não dormir bem aumenta o risco de doenças crônicas, como diabetes e doenças cardíacas.

  • O coração é afetado
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A falta de boas horas de sono também afeta os processos que mantêm o coração e os vasos sanguíneos saudáveis, incluindo os que controlam o açúcar no sangue, a pressão arterial e os níveis de inflamação —é por isso que pessoas que não dormem o suficiente têm maior probabilidade de ter problemas cardiovasculares.

Um estudo publicado em 2017, inclusive, mostrou a relação entre insônia e um maior risco de ataque cardíaco e derrame.