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Farmacêutica anuncia acordo com CanSino para trazer vacina ao Brasil

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Imagem: iStock

Danielle Sanches

Do VivaBem, em São Paulo

01/10/2021 09h08Atualizada em 01/10/2021 19h53

A farmacêutica brasileira Biomm, produtora de medicamentos para doenças crônicas como câncer e diabetes, anunciou acordo com a empresa chinesa CanSino Biologics INC para fornecer a vacina Convidecia no Brasil. A previsão da empresa é submeter o pedido de uso emergencial do imunizante à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em breve.

Em regime de dose única, a vacina utiliza a plataforma vetor viral não replicante —no caso, um adenovírus geneticamente modificado— para estimular o sistema imunológico a produzir anticorpos contra a covid-19. De acordo com informações da CanSino, o imunizante tem eficácia geral de 68,83% na prevenção de todos os casos após 14 dias da aplicação. Para casos graves de covid-19, a eficácia é de 95,47% no mesmo período. Atualmente, a Convidecia está autorizada em nove países, incluindo México, Paquistão, Chile, Argentina e Indonésia.

"Estamos muito satisfeitos em poder ampliar a oferta de imunizantes no país", afirmou Heraldo Marchezini, CEO da Biomm, em entrevista ao VivaBem. O acordo prevê a importação das vacinas e ainda a possibilidade de produzir a Convidecia no país, bem como todo o portfólio de imunizantes da CanSino —o que inclui 16 vacinas para 13 doenças.

Segundo o laboratório, que tem uma fábrica em Nova Lima (MG), a planta recebeu investimentos de US$ 90 milhões para essa finalidade e está em processo de validação, etapa que precisa ser concluída para receber a inspeção do governo.

CPI da Covid

A Convidecia não é estranha à Anvisa. O imunizante já foi submetido para análise em maio de 2021 pela Belcher Farmacêutica, de Maringá (PR), que representava a CanSino no Brasil. No entanto, o pedido de autorização temporária de uso emergencial foi encerrado em junho, uma vez que a empresa chinesa rescindiu o contrato de forma unilateral.

A Belcher também foi alvo da operação "Falso Negativo", com suspeita de fazer parte de um esquema de superfaturou testes de coronavírus; e ainda foi investigada na CPI da Covid por suspeita de tentar vender doses da Convidecia ao Ministério da Saúde por valores acima do mercado.

Sobre isso, o CEO da Biomm reforça que o novo contrato se inicia "do zero". "Não temos nenhuma relação com o que aconteceu no passado", afirma. Então, o processo de juntar documentos para o dossiê que será apresentado será feito inteiro novamente.

Novos dados

Marchezini lembra ainda que há novas informações sobre o imunizante que devem ser anexados no pedido de autorização. "Atualmente, existem seis estudos clínicos em andamento, inclusive um para avaliar a resposta em adolescentes de 12 a 18 anos e outro em crianças de seis a 12 anos", diz.

Recentemente, um estudo avaliando a efetividade de uma versão em spray nasal da vacina foi publicado no The Lancet. O resultado se mostrou promissor, com uma boa resposta imune após a aplicação de duas doses do spray, mas ainda requer mais avaliações. "Há indícios de uma boa efetividade por atuar diretamente na mucosa do nariz", explica o CEO. A Convidecia na sua versão injetável teve outros dois estudos veiculados no periódico, publicados em junho e agosto de 2020.

Para Renato Kfouri, diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), a versão em spray é bastante interessante quando falamos em doenças respiratórias. "Esse tipo de aplicação gera anticorpos nas células locais, da mucosa, e esse tipo de defesa aumenta a eficácia da proteção", avalia. No entanto, ele ressalta que esse tipo de vacina tem um custo maior de produção e requer o uso de vírus vivo —e, portanto, é fundamental um alto nível de biossegurança que acaba também encarecendo o produto.

7 coisas que sabemos sobre a Convidecia

Também chamada de Ad5-nCoV, a vacina Convidecia é produzida na China e já foi testada em milhares de pessoas —incluindo aí um estudo de "vida real" em 40 mil indivíduos em cinco países (Argentina, Chile, México, Paquistão e Rússia) e se mostrou uma opção segura contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2). Aqui estão são algumas de suas principais características:

1. Tecnologia de "vetor viral não replicante"

A Convidecia é baseada na tecnologia do vetor viral não replicante, semelhante à utilizada nas vacinas de Oxford/AstraZeneca e Janssen. Ela usa um adenovírus tipo 5 (tipo de vírus que causa resfriado comum) que, modificado geneticamente, não se replica e não provoca a doença no corpo.

Para produzir a vacina, um pedaço da proteína "S" do Sars-CoV-2, presente nas espículas responsáveis pela ligação do vírus às células do corpo humano, é colocado dentro do adenovírus (que é o vetor, ou transportador, desse material genético).

Ao receber a vacina, o sistema imune humano detecta essa proteína e passa a criar formas de combater esse invasor, criando uma resposta protetora contra a infecção.

2. Dose única

A vacina Convidecia tem regime de imunização de apenas uma dose, o que, de acordo com Heraldo Marchezini, é mais um fator positivo para o produto por facilitar a logística e aplicação no Brasil.

Vale lembrar que, após receber a vacina, o corpo precisa de cerca de 15 dias para produzir uma resposta imune adequada.

3. Eficácia satisfatória

Segundo informações da CanSino Biologics INC, a vacina tem eficácia geral de 68,83% na prevenção de todos os casos após 14 dias da aplicação. Para casos graves de covid-19, a eficácia da vacina é de 95,47% no mesmo período.

Vale lembrar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a eficácia geral de imunizantes seja de ao menos 50%. Isso significa que, para serem liberadas pelas agências reguladoras dos países, as vacinas precisam alcançar esta porcentagem.

4. Autorizada em outros países

Atualmente, a Convidecia já está autorizada e em uso em nove países: Argentina, Chile, China, Equador, Hungria, Indonésia, Malásia, México e Paquistão.

Em maio, o Instituto Nacional Húngaro de Farmácia e Nutrição concedeu um certificado de boas práticas à CanSino, reconhecendo que as instalações de fabricação e o sistema de controle de qualidade estão em conformidade com os padrões e diretrizes de produção exigidos pela União Europeia. A expectativa do laboratório é que isso facilite a entrada do imunizante em outros países da UE e no mundo.

5. Armazenamento em refrigeradores comuns

De acordo com o laboratório, a Convidecia pode ser armazenada em refrigeradores comuns a temperaturas entre 2 e 8°C. "É algo que se encaixa dentro da realidade brasileira", afirma Heraldo Marchezini.

6. Poucos efeitos colaterais

As reações mais comuns após a aplicação da vacina são semelhantes às de outros imunizantes: dor de cabeça, fadiga e febre, além de dor no local da aplicação. De acordo com Marchezini, não há relatos de eventos adversos graves.

7. Combinação possível com Coronavac

A vacina também foi testada para ser utilizada de forma combinada com a Coronavac, imunizante desenvolvido pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. De acordo com dados publicados na plataforma MedRxiv, a dose de reforço para pessoas que receberam a Coronavac resultou em uma boa resposta imune —maior até mesmo que a aplicação de reforço da própria Coronavac.

Vale dizer, no entanto, que o estudo ainda está em fase de pré-print (ou seja, ainda não passou pela revisão de outros especialistas da área) e foi feito com uma amostra pequena de indivíduos (300 pessoas).