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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Medicamento reduz em 38% risco de morte em pacientes internados com covid

Luiza Vidal

Do VivaBem, em São Paulo

09/09/2021 12h51Atualizada em 27/09/2021 15h24

Mesmo com a vacinação em massa e a diminuição do número de mortos, pesquisadores no mundo todo seguem em busca de medicamentos que possam ajudar no tratamento do coronavírus. No Brasil, já são mais de 5 remédios liberados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para uso em pacientes infectados pela doença. No dia 18 deste mês, foi aprovado mais um medicamento para tratar covid nos hospitais, o baricitinibe.

No estudo, o remédio já utilizado para tratar artrite reumatoide, doença crônica que causa dor, inchaço e inflamação nas juntas, demonstrou 38% de redução na mortalidade de pessoas hospitalizadas por causa da covid-19. O resultado foi publicado no dia 1º de setembro deste ano no periódico The Lancet.

O baricitinibe, remédio oral da farmacêutica Eli Lilly, consegue inibir a "tempestade inflamatória" que o coronavírus causa no organismo. É considerada uma reação exagerada do sistema imunológico que pode afetar o funcionamento de órgãos, levando o paciente à morte.

"Quando administrado na hora certa, além de impedir a evolução dessa 'cascata' inflamatória da covid, também impede a replicação viral no corpo", explica Adilson Cavalcante, infectologista que coordenou o estudo no Hospital Anchieta da Faculdade de Medicina do ABC (SP).

A tal "hora certa" seria antes da chegada da tempestade inflamatória, que ocorre após uma piora clínica do paciente. A administração do remédio é realizada apenas em hospitais, portanto, não é possível comprá-lo em uma farmácia.

Quando a pessoa está intubada, grupo que também foi incluído no estudo, é possível administrá-lo por meio da sonda nasoenteral. Mas o baricitinibe não é indicado, por exemplo, para casos leves de covid-19.

Como o estudo foi feito e os principais resultados

A pesquisa foi realizada em 101 centros em 12 países, com 1.525 pacientes no total. O Brasil foi o maior recrutador, com mais de 360 participantes divididos em 18 centros em 5 estados.

O estudo foi executado entre junho de 2020 e janeiro de 2021.

Divididos em dois grupos, os participantes recebiam o baricitinibe ou o placebo (remédio sem efeito algum), além de outros tratamentos padrões da instituição.

Em comparação com o placebo, os pacientes que receberam baricitinibe tiveram uma redução relativa de 38,2% na mortalidade enquanto internados.

Embora o estudo não tenha mostrado um benefício estatisticamente significativo no desfecho primário (evitar a progressão do paciente para uma fase mais grave da doença), o resultado mostra uma redução na mortalidade observada para esta população de pacientes com covid.

A indicação, a partir do estudo, é que os pacientes utilizem o medicamento entre 12 e 14 dias, mas, caso ele melhore antes deste período, não é necessário continuar seu uso em casa, por exemplo.

Contraindicações e efeitos colaterais

O estudo não incluiu crianças, grávidas e pessoas que estavam com infecções por outras bactérias, por exemplo. O baricitinibe também apresenta poucas interações medicamentosas, podendo ser usado em idosos com comorbidades.

Como é rapidamente excretado pelo corpo, não possui muitos efeitos colaterais. Em alguns casos, pode causar apenas sintomas de gastrite.

Acesso e valores

O valor deve ser o mesmo já comercializado para tratar artrite reumatoide, segundo Orlando Silva, diretor de assuntos corporativos e regulatório da farmacêutica.

"O produto chegará com valor acessível aos hospitais e pacientes brasileiros. O preço, hoje, se considerarmos o tratamento de 12 dias, daria R$ 1,8 mil e, se durar 14 dias, seria R$ 2,1 mil", explica.

Além das instituições particulares, a ideia é também incorporar o medicamento na rede pública, pelo Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias) no SUS (Sistema Único de Saúde).