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Pesquisa brasileira aponta que idosos bebem acima do recomendado após os 60

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Imagem: iStock

Danielle Sanches

Do VivaBem, em São Paulo

30/08/2021 16h32

Um estudo feito no Departamento de Psicobiologia da EPM-Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo) - campus São Paulo, revelou um alto número de idosos com consumo de risco quando o assunto é álcool.

O estudo, publicado em dois periódicos (Substance Use & Misuse e BMJ Open), analisou o rápido envelhecimento da população brasileira e propôs intervenções a serem feitas para lidar com o consumo de bebida alcoólica em um padrão considerado de risco entre pessoas acima dos 60 anos —um tema pouco abordado no mundo todo, de acordo com psicóloga Tassiane de Paula, primeira autora do estudo.

O "consumo de risco" é considerado a ingestão de sete ou mais doses por semana ou quatro ou mais doses por ocasião para mulheres; e 14 ou mais doses por semana ou cinco ou mais doses por ocasião para homens. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), uma dose equivale a aproximadamente 350 ml de cerveja, 150 ml de vinho ou 40 ml de uma bebida destilada.

"Há maior dificuldade na metabolização do álcool e portanto maior sensibilidade aos efeitos do álcool pela população idosa", explicou a especialista, em entrevista ao VivaBem. "É importante que os idosos saibam que mesmo uma latinha de cerveja por dia, por exemplo, já pode causar problemas como risco de queda, interações medicamentosas ou até agravar algum problema de saúde crônico", alerta.

Para Cleusa Ferri, psiquiatra, professora do Departamento de Psicobiologia e orientadora do projeto, também é importante lembrar que há diversos fatores que facilitam o consumo de álcool entre idosos. "Muitos estão aposentados e têm mais disponibilidade para situações em que irão beber, como fazer um churrasco", explica.

O projeto de pesquisa, então, nasceu da ideia de desenvolver uma proposta de intervenção breve e de baixo custo para ajudar a esclarecer os mitos envolvendo esse consumo e auxiliar na redução dele entre os idosos.

"Com a população idosa aumentando no Brasil e no mundo todo, é fundamental entender esse contexto para pensar em estratégias de orientação e redução de consumo de álcool nesse público, que continua a beber mesmo após envelhecer", acredita a pesquisadora.

Como o estudo foi feito?

Para estimar a prevalência dos padrões de consumo de álcool da população geral idosa, o estudo realizou uma análise dos dados contidos no Estudo Longitudinal de Saúde dos Idosos Brasileiros - ELSI Brasil, com uma amostra de 5.432 brasileiros acima de 60 anos.

Já para avaliar os padrões de consumo de álcool em idosos da atenção primária, foram utilizados dados da triagem inicial do ensaio clínico realizado em sete UBSs (Unidades Básicas de Saúde) com 503 participantes.

Em ambos, foram identificados fatores sociodemográficos, comportamentais e de condições de saúde associados aos diferentes padrões de consumo de álcool.

Os resultados mostraram que um em cada quatro brasileiros (23,7%) com 60 anos ou mais consome álcool atualmente, sendo que 6,7% (aproximadamente 2 milhões) relatam ter feito consumo de várias doses em uma ocasião no último mês, e 3,8% (mais de um milhão de brasileiros acima de 60 anos) consumiram em uma semana típica quantidades que podem colocar a sua saúde em risco.

O consumo de álcool foi mais comum na região Sudeste e na atenção primária comparada à população idosa geral.

Em ambas as populações (geral e na atenção primária), os homens relataram maior consumo de álcool, bem como os mais jovens e aqueles com maior escolaridade.

Por que isso é importante?

De acordo com a pesquisadora, com a população vivendo mais, é importante pensar em políticas específicas para a saúde dessas pessoas, incluindo projetos de orientação e educação a respeito do consumo de álcool para quem tem mais de 60 anos.

"Há uma resistência nesse público, pois eles acreditam que o problema é quem bebe até cair, ou passa o dia no bar", diz. "Mas o estudo mostra que há uma proporção alta de idosos que consome bebida em quantidades que podem trazer danos à saúde e que não chegam à dependência, o que precisa ser esclarecido", acredita.