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Consórcio Nordeste suspende compra de 37 milhões de doses da Sputnik V

Contrato previa a entrega das primeiras 2 milhões de doses da vacina Sputnik V ainda em abril, o que nunca aconteceu - Amanda Perobelli/Reuters
Contrato previa a entrega das primeiras 2 milhões de doses da vacina Sputnik V ainda em abril, o que nunca aconteceu Imagem: Amanda Perobelli/Reuters

Do VivaBem, em São Paulo*

05/08/2021 15h56Atualizada em 05/08/2021 16h32

O presidente do Consórcio Nordeste, o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), anunciou hoje a suspensão do acordo com o Fundo Soberano Russo para compra de 37 milhões de doses da vacina Sputnik V para a região.

A decisão foi motivada pelas limitações impostas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) à aprovação emergencial do imunizante, além da falta da licença para importação. Segundo Dias, os padrões de testes exigidos pela Anvisa não foram feitos para vacinas de outros laboratórios

O contrato firmado em março previa a entrega das primeiras 2 milhões de doses da Sputnik V ainda em abril, o que nunca aconteceu.

"É lamentável. O Brasil vive uma situação com alta mortalidade, mais de mil óbitos por dia. Temos vacinas disponíveis, mas impedidas de entrar no Brasil devido a uma decisão da Anvisa, que faz uma alteração no padrão de teste, junto com a não inclusão [da Sputnik V] pelo Ministério da Saúde no plano nacional de vacinação e a falta da licença de importação", criticou o governador.

Ainda de acordo com Dias, o Fundo Soberano Russo informou que as vacinas que seriam destinadas para o Brasil serão enviadas para o México, a Argentina e a Bolívia.

Tropeços na América Latina

A Sputnik V foi a primeira vacina contra a covid-19 a chegar à Argentina, em dezembro de 2020, e a uma dezena de outros países da América Latina. Oito meses depois, porém, a escassez de segundas doses têm pressionado os governos locais.

"Sinto que me enganaram, que é uma farsa. Tenho muitos colegas de trabalho, muitos vizinhos, aos quais chamaram para tomar a primeira dose e estamos à espera da segunda", lamentou à AFP Noreyda Hernández, professora de 66 anos, às portas de um centro de vacinação da cidade venezuelana de Maracaibo.

Cenas similares se repetem na Bolívia, onde os adultos mais velhos que vão aos centros de vacinação encontram cartazes que indicam que a segunda dose da Sputnik V "será adiada até novo aviso".

Já estamos cansados. Perguntamos e toda vez é a mesma resposta: 'O governo tem que dizer'. Mas o que o governo vai dizer quando não sabe nada? Talvez o Ministério da Saúde, mas tampouco informa algo que possa nos tranquilizar", disse Germán Alarcón, 70, à AFP de La Paz

Diferentemente das outras vacinas de duas doses, a Sputnik V foi concebida com "a abordagem do reforço heterogêneo", utilizando o serotipo 26 de adenovírus humano como primeiro componente e o serotipo 5 como segundo. Isso impede que os dois possam ser intercambiados e limita a capacidade dos governos para decidir como aplicar o imunizante, diante das dificuldades da Rússia para oferecer a segunda dose.

(*Com AFP)