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Contágio dispara em Tóquio e ameaça países com baixa cobertura vacinal

Matemático e professor da Unesp projeta que avanço de contágios em Tóquio em função dos Jogos Olímpicos gere uma nova onda de contaminação em países com baixa cobertura vacinal - MARTIN BERNETTI / AFP
Matemático e professor da Unesp projeta que avanço de contágios em Tóquio em função dos Jogos Olímpicos gere uma nova onda de contaminação em países com baixa cobertura vacinal Imagem: MARTIN BERNETTI / AFP

Rayanne Albuquerque

Do VivaBem, em São Paulo

04/08/2021 16h17Atualizada em 04/08/2021 16h19

Com o início das Olimpíadas, a taxa de contágio por covid-19 em Tóquio, no Japão, atingiu seu maior patamar no ano de 2021: 1.77. O que significa dizer que a cada 100 pessoas infectadas pela doença, é esperado que outras 177 pessoas saudáveis venham a contrair o vírus. Diante desse cenário, países como o Brasil, que ainda tem uma baixa cobertura vacinal, podem ser foco de uma nova onda de contágios pela doença no regresso das comissões aos países de origem.

A análise, feita pelo matemático e professor da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) Wallace Casaca, aponta que eventos paralelos aos jogos, em Tóquio, são um risco de um retrocesso com a ampliação de casos e óbitos de covid. Casaca integra a equipe de pesquisadores que reúnem diariamente os dados relacionados à pandemia da covid-19 em 91 cidades do estado de São Paulo.

A comissão técnica e os atletas desses países com baixo número de pessoas vacinas poderiam, de forma involuntária, levar o vírus do Japão para seus respectivos lares, iniciando novos focos de contágio e surtos em seus países natais
Wallace Casaca, matemático e professor da Unesp

Segundo Casaca, esse é o movimento que dá início aos novos surtos, que acabam se alastrando de forma rápida em populações mais expostas, com baixa cobertura vacinal completa — com duas doses para imunizantes como AstraZeneca e Pfizer, e apenas uma em vacinas como a da Janssen.

Em relação comparativa com o Brasil, a taxa de transmissão do vírus que ocorre hoje em Tóquio é similar ao que ocorreu na região Norte do Brasil, em Manaus, no auge da contaminação pela variante P.1 — hoje, nomeada como variante Gama. Naquela época, a taxa foi de 1.83 — em que 100 pessoas infectadas transmitem o coronavírus para outras 183 saudáveis.

A taxa [de contágios em Tóquio] estava em 1.23 no dia da abertura das Olimpíadas e, em apenas um pouco mais de uma semana, já atingiu 1.77. É um crescimento bastante abrupto e agressivo, que reflete o impacto de um evento esportivo de grande porte mesmo sem a presença do público em geral
Wallace Casaca, matemático e professor da Unesp

Taxa de transmissão da covid-19 em Tóquio, no Japão e no Brasil no início das Olimpíadas - Divulgação - Divulgação
Taxa de transmissão da covid-19 em Tóquio, no Japão e no Brasil no início das Olimpíadas
Imagem: Divulgação

Os dados utilizados pelo pesquisador para realizar a análise são do Ministério da Saúde brasileiro, cujo cálculo das taxas foram revisadas usando a plataforma Info Tracker, da Unesp. Já os dados de Tóquio e do Japão são os oficiais, fornecidos pelo próprio governo local.

Médicos previam nova variante e eram contra Olimpíadas

A previsão de que os Jogos Olímpicos de Tóquio pudessem levar ao surgimento de uma nova cepa era prevista pelo Sindicato dos Médicos do Japão.

Em maio deste ano, Naoto Ueyama disse que a chegada de mais de 200 pessoas de territórios diferentes ao país representava um perigo por ser uma concentração de "cepas mutantes que existem em diferentes lugares do mundo".

"Se tal situação surgisse, poderia até significar uma cepa olímpica do vírus em Tóquio sendo nomeada desta forma, o que seria uma grande tragédia e algo que seria alvo de críticas, mesmo por 100 anos", disse Ueyama, em coletiva

Tóquio atinge recorde de casos em 24 horas

Nas últimas 24 horas, Tóquio bateu um novo recorde de casos confirmados da doença, com 4.166 contágios notificados. O repique de casos fez com que o governo estendesse o estado de emergência em Tóquio, Osaka, Chiba, Kanagawa e Saitama até o dia 31 de agosto.

O número é a maior marca registrada na capital do Japão em um único dia desde o início da pandemia, e supera os 4.058 casos contabilizados no último sábado (31).

Os números do governo local mostra que houve um aumento de 78% em relação ao número de casos de covid-19 identificados na semana passada.

O Japão tem apenas 41% de sua população ao menos parcialmente imunizada contra a covid, segundo o portal Our World in Data. Desse total, 31% das pessoas concluíram o ciclo de vacinação.

Apenas 20,2% dos brasileiros estão imunizados

O Brasil já tem mais de 42 milhões de pessoas com vacinação completa contra a covid-19. Até o momento, 42.783.873 brasileiros receberam a segunda dose ou a dose única, o equivalente a 20,2% da população nacional.

O levantamento foi divulgado ontem, às 20h, pelo consórcio de veículos de imprensa, do qual o UOL faz parte, baseado nas informações fornecidas pelas secretarias estaduais de saúde do país.

Em 24 horas, a segunda dose de imunizante foi aplicada em 641.001 brasileiros, enquanto outras 20.180 receberam a dose única da Janssen. No total, 661.181 pessoas completaram a imunização entre ontem e hoje.