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Covid: país tem 27 mil pessoas registradas com 3 doses ou mais de vacina

25.jun.2021 - Vacinação contra a covid-19 na UBS Jardim Guanabara, zona oeste de São Paulo - Rogério Galasse/Futura Press/Estadão Conteúdo
25.jun.2021 - Vacinação contra a covid-19 na UBS Jardim Guanabara, zona oeste de São Paulo Imagem: Rogério Galasse/Futura Press/Estadão Conteúdo

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

07/07/2021 04h00Atualizada em 08/07/2021 15h20

O Brasil tem pelo menos 27 mil pessoas registradas no sistema de informações do PNI (Programa Nacional de Imunizações) com três ou mais doses de vacina contra a covid-19. Não se sabe, porém, se são casos reais, erros de preenchimento ou mesmo falha no sistema.

A informação foi levantada pelo Laboratório de Estatística e Ciência dos Dados da Ufal (Universidade Federal de Alagoas) no sistema oficial que é preenchido pelas secretarias municipais de saúde. As informações fazem parte do projeto Modcovid-19 e contam com parceria com o Centro de Matemática Aplicada à Indústria da USP (Universidade de São Paulo).

Além de serem responsáveis por vacinar a população, cabe também aos municípios cadastrarem informações após cada imunização aplicada, como nome do paciente, local da vacinação, idade, sexo, data de aplicações e tipo de vacina usada.

Segundo o pesquisador Krerley Oliveira, que analisa os dados do PNI desde abril, o banco de dados do sistema traz, na verdade, 1,5 milhão de registros de doses envolvendo pacientes com três ou mais doses.

Entretanto, sabe-se que muitas das informações não correspondem à realidade e ocorrem por erros diversos, como preenchimento equivocado.

Para chegar a números mais confiáveis, o pesquisador explica que filtrou os casos que tinham consistência e sobraram 90 mil doses supostamente aplicadas em 27 mil pessoas.

"A gente pegou esse 1,5 milhão de registros e ficamos apenas com os casos que tinham os mesmos ID [número que identifica o paciente], data de nascimento e sexo. Além disso, filtramos apenas os casos em que três (ou mais) doses foram tomadas em datas diferentes. Chegamos então a esse número", explica.

Segundo o consórcio de imprensa, do qual o UOL faz parte, até ontem havia 74,4 milhões de pessoas imunizadas com uma dose e 27,8 milhões com a segunda dose ou dose única.

Casos diferentes

O UOL teve acesso à planilha produzida pelo laboratório e percebeu vários tipos de casos diferentes de pessoas que teriam tomado mais de duas doses. Há ainda dezenas de casos com quatro doses registradas em um mesmo paciente.

É o caso, por exemplo, de uma idosa de 68 anos, que vive em abrigo de idosos no interior do Paraná. Consta no sistema que ela tomou duas doses de CoronaVac (nos dias 27 de março e 22 de abril) e duas de AstraZeneca (nos dias 30 de março e 25 de junho).

Há casos de pessoas que tomaram duas doses de CoronaVac e depois tomaram outro imunizante.

Segundo Oliveira, é impossível pelo banco de dados saber se os dados correspondem à realidade ou se são erros.

Isso tem de ser investigado pelas secretarias e Ministério Público. Os dados estão lá, é só cruzar o registro com os nomes dos pacientes. Não é nenhum bicho de sete cabeças fazer isso.
Krerley Oliveira, pesquisador da Ufal

Não há muitos relatos de pessoas que tomaram três doses. Um deles envolveu uma veterinária que postou um vídeo em sua rede social no momento em que tomava vacina da Jansen, mesmo após ter tomado duas doses da CoronaVac, na Grande São Paulo. O caso foi denunciado ao MP (Ministério Público) de São Paulo.

Outras inconsistências

Os registros do sistema possuem diversas outras inconsistências, diz Krerley Oliveira. Por exemplo: há 47 mil pacientes que têm registro da segunda dose antes da primeira.

A gente não sabe, por exemplo, se é erro de preenchimento de quem insere os dados no registro, ou se a pessoa tomou uma dose em outro país.

Um outro dado que ele cita foi a retirada abrupta do 1,3 milhão de registros duplicados que existiam. "Esses dados simplesmente foram retirados agora no final de junho. Mas, se eles corrigiram, fizeram como? Havia casos, por exemplo, de um paciente que teria tomado 221 mil doses. Não sabemos qual erro ocorreu", diz.

Há ainda casos de pessoas nascidas supostamente no século 19 (com idades improváveis acima de 150 anos) ou mesmo vacinas dadas antes mesmo da abertura da campanha nacional, em janeiro.

Para ele, falhas desse tipo podem gerar erros de interpretação, como a suposição de que vacinas teriam sido aplicadas após estarem vencidas, como revelou a Folha na sexta-feira passada. "Isso no fundo é muito ruim, gera esse tipo de confusão e acaba minando a credibilidade de todo o processo", conclui.