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Municípios negam ter aplicado vacina vencida e culpam sistema de dados

Do VivaBem, em São Paulo

02/07/2021 16h04Atualizada em 05/07/2021 11h06

Municípios negam ter aplicado doses vencidas de vacinas contra a covid-19. Os esclarecimentos sobre o caso foram apresentados após a Folha de S.Paulo publicar uma reportagem que aponta a utilização de imunizantes fora da validade em 1.532 cidades do país.

A Prefeitura de Maringá (PR), que lidera a relação com 3.536 pessoas vacinadas, justificou que ocorreram divergências de dados no Sistema Conecte SUS.

No começo da vacinação, a transferência de dados demorava a chegar no Ministério da Saúde, levando até dois meses. Portanto, os lotes elencados são do início da vacinação e foram aplicados antes da data do vencimento. Concluindo, não houve vacinação de doses vencidas em Maringá e sim erro no sistema do SUS.
Marcelo Puzzi, secretário de Saúde de Maringá

No levantamento realizado pela Folha de S.Paulo, a sala de vacina da Secretaria de Saúde de Maringá (PR) foi responsável por 3.023 dos 3.536 casos na cidade. Depois do município paranaense, aparecem Belém, com 2.673, São Paulo, com 996, Nilópolis (RJ), com 852, e Salvador, com 824. Outras aplicaram menos de 700 vacinas vencidas, sendo que a maioria não passou de dez doses.

A denúncia aponta que 25.935 doses, todas da Oxford/AstraZeneca, foram aplicadas fora do prazo de validade em 1.532 cidades. A situação foi identificada em oito lotes (4120Z001, 4120Z004, 4120Z005, 4120Z025, CTMAV501, CTMAV505, CTMAV506 e CTMAV520), que indicavam data de vencimento entre 29 de março e 4 de junho.

A reportagem cruzou os dados dos sistemas DataSUS (do Ministério da Saúde, que identifica todos os vacinados com um código individual) e Sage (Sala de Apoio à Gestão Estratégica, responsável por armazenar os dados dos imunizantes entregues para os estados com número de lote, data de validade e outras informações). O levantamento levou em consideração a vacinação realizada até 19 de junho.

Além de Maringá, as cidades de Belém e Salvador negaram a aplicação da vacina fora da validade. São Paulo confirmou que houve cerca de 4.000 casos. O UOL procurou a Prefeitura de Nilópolis e aguarda um posicionamento.

Belém nega aplicação fora da validade

Em Belém, no Pará, a secretaria de Saúde informou por email à Folha de S.Paulo que nenhuma dose de imunizante vencido foi aplicada na cidade, mas admite a possibilidade de um eventual erro no registro.

Entretanto, é possível que tenha havido erros nos registros, especialmente nas primeiras etapas da campanha de vacinação em massa, quando as anotações eram feitas manualmente em fichas de papel e posteriormente digitadas.
Secretaria de Saúde de Belém, em e-mail à Folha

Estado de SP confirma aplicações fora da validade

Em nota à Folha de S.Paulo, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo confirmou cerca de 4.000 doses ministradas após a validade.

A pasta firmou que orienta os municípios sobre a aplicação da vacinação contra a covid-19 e a importância de verificar a data de validade antes do uso do frasco de uma vacina. Os casos constatados de aplicação de vacina fora da validade serão avaliados individualmente para definição da conduta apropriada definida pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações), segundo a Saúde de São Paulo.

O município de Rio Claro, no entanto, se posicionou afirmando que não houve aplicação na região de imunizantes vencidos.

Em nota enviada ao UOL, a pasta esclareceu que sempre que chegam vacinas no município, as informações referentes aos lotes e vencimentos são averiguadas e que nunca houve estoque de vacinas com data de validade anterior às novas doses recebidas.

A matéria de repercussão nacional apontou dois lotes de vacinas como tendo sido utilizados em Rio Claro após o vencimento. A Vigilância Epidemiológica observa que as vacinas de um destes lotes sequer chegaram a ser recebidas pelo município. Já as doses com vencimento em 14 de abril, do lote 4120Z005 da AstraZeneca, estavam entre as primeiras que o município recebeu, em 27 de janeiro. Essas doses foram utilizadas imediatamente, esgotando-se nas duas semanas seguintes ao recebimento, bem antes do prazo de validade. É possível que tenha havido erro na inserção dos dados no sistema utilizado para registrar a vacina aplicada, com a seleção de lote equivocado.
Secretaria de Saúde de Rio Claro

A prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, também negou a aplicação de doses vencidas. A administração municipal disse que conta com um "sistema robusto para todo o manejo de seus imunobiológicos".

Neste momento, o município está fazendo um rastreamento nas mais de 7 milhões de doses aplicadas, com a revisão de todos os lotes e vacinas cadastradas, inclusive para a eventual detecção de eventuais falhas no momento do cadastro no sistema.
Secretaria de Saúde de São Paulo

O município informou ainda que dentro dos seus protocolos constam a checagem da data de validade de todos os imunizantes em três etapas: recebimento, distribuição e aplicação da dose.

Salvador diz que houve erro no sistema

A Secretaria Municipal de Saúde de Salvador informou que não há ocorrência de aplicação de doses vencidas na capital baiana.

Dois dos lotes mencionados na reportagem da Folha e todas as outras doses, segundo a pasta, foram administradas antes da data de vencimento dos imunizantes.

A aplicação das doses foi realizado dentro do período determinado pelo fabricante do imunobiológico e apenas no sistema do banco de dados do Ministério da Saúde foi efetuado em data posterior a aplicação da vacina.
Secretaria de Saúde de Salvador

Ceará alega erro de registro nas embalagens

A Sesa-CE (Secretaria da Saúde do Ceará) informou hoje que também não distribuiu vacinas foram da validade.

A pasta confirma que recebeu dois lotes de imunizantes contra o coronavírus citados na matéria da Folha de S. Paulo, mas que tem distribuído os imunizantes a todos os 184 municípios no prazo, com logística desenvolvida pelo estão por meio de aviões, helicópteros e caminhões.

De acordo com o governo cearense, o Ministério da Saúde informou que houve um erro na embalagem das doses das vacinas AstraZeneca e apesar de serem encaminhadas direto do laboratório produtor ao estado, nas embalagens primária e secundária consta o vencimento em 31/05/2021, quando a validade correta seria 31/05/2022.

Rio Grande do Norte fala em registro tardio

O governo do Rio Grande do Norte esclareceu que as doses de vacinas recebidas do Ministério da Saúde, incluindo os lotes da AstraZeneca apontados como vencidas, foram "distribuídas e entregues em tempo oportuno".

A equipe de imunização da Sesap aponta que possa ter ocorrido o tardio registro na plataforma, que faz com que a data da aplicação do imunizante seja diferente da data que realmente foi aplicado. É importante ressaltar que, como orienta o Ministério da Saúde, cabe aos gestores locais do SUS o armazenamento correto.
Governo do RN

Segundo a gestão estadual, houve erro na embalagem das doses da AstraZeneca, também apontada pelo Ceará.

Rio diz que recebeu doses no prazo de validade

A Prefeitura do Rio de Janeiro declarou que recebeu as doses de todos os lotes dentro do prazo de validade e que os distribuiu diretamente para as unidades de saúde.

Está sendo verificado se, de fato, houve alguma aplicação de doses após o vencimento. Caso isso tenha acontecido, a unidade entrará em contato com os usuários para realizar a revacinação.
Prefeitura do Rio de Janeiro

Os casos suspeitos de vacinação fora da validade dentro da cidade podem ser consultados aqui, por meio da data de nascimento e primeiros dígitos do CPF das pessoas vacinadas.

Santos: doses foram aplicadas imediatamente

Em nota, a prefeitura de Santos afirmou que todas as doses correspondentes aos lotes listados pela reportagem foram aplicadas no mesmo dia.

"De todos os lotes mencionados pela reportagem do jornal Folha de S. Paulo, apenas o 4120Z005, com validade para 14/04/21, foi recebido em Santos, na manhã do dia 26 de janeiro. No mesmo dia, no período da tarde, as doses foram encaminhadas aos hospitais, unidades de pronto atendimento (públicos e privados) e Samu para que as instituições aplicassem as doses prontamente em seus profissionais de saúde"

RS promete conferência

No Rio Grande do Sul, o governo afirmou que vai fazer a conferência dos lotes, e diz que tem um plano de contingência caso a aplicação indevida seja confirmada.

"Segundo relatos da Organização Mundial da Saúde, o risco se dá em relação à diminuição do efeito protetor da vacina e não ao risco de evento adverso pelo prazo de validade", afirmou.

O que diz o Ministério da Saúde?

O UOL entrou em contato com o Ministério da Saúde para saber quantas doses foram administradas fora da validade e checar as informações sobre o cadastro incorreto no sistema Conecte SUS, administrado pela pasta.

A pasta alega que os estados e municípios que eventualmente tenham aplicado doses vencias devem fazer a busca ativa e monitorar os casos.

As doses aplicadas não devem ser consideradas válidas. A recomendação é que a vacina seja reaplicada com um intervalo de 28 dias
Ministério da Saúde

O que diz a Fiocruz?

Em nota, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) informou que os lotes listados na reportagem da Folha não foram produzidos pela instituição. Parte deles se refere à carga importada já pronta do Instituto Serum, na Índia, onde a vacina é chamada de Covishield, e foi entregue ao PNI em janeiro e fevereiro. Os demais foram fornecidos pela OMS (Organização Mundial da Saúde), por meio do Covax Facility.

"A Fiocruz está apoiando o PNI na busca de informações junto ao fabricante, na Índia, para subsidiar as orientações a serem dadas pelo Programa àqueles que tiverem tomado a vacina vencida", acrescentou.