Bombeira é investigada por vídeo em que comemora ter sido vacinada em AL

A terceira sargento do Corpo de Bombeiros de Alagoas Stephany da Silva Domingos, 33, é investigada por transgressão militar por gravar um vídeo em que diz "viva a vacina" e postá-lo nas redes sociais logo após ter tomado a primeira dose da vacina contra a covid-19.

Ela recebeu o imunizante em 19 de maio, em Maceió, em uma ação que vacinou agentes da força de segurança da SSP-AL (Secretaria de Segurança Pública de Alagoas). No vídeo, ela mostra como foi se vestiu para ir ao local da vacinação, fez uma contagem regressiva para ser vacinada e enalteceu a campanha.

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O comando do CBMAL (Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas) abriu um procedimento administrativo disciplinar contra a sargento, na última segunda-feira (21) "em virtude das declarações dadas em vídeo veiculado em rede social". Também foi instaurada uma sindicância administrativa disciplinar para investigar se "o vídeo foi gravado dentro de estabelecimento militar ou sob administração militar".

Os procedimentos foram determinados pelo comandante-geral do CBMAL, coronel André Alessandro Madeiro de Oliveira, e dois bombeiros homens foram designados para apurar o caso. Além de Stephany, outra tenente-coronel de Alagoas também está sendo investigada por comemorar também a vacinação.

As militares continuam exercendo as suas funções durante a apuração. Elas podem ser punidas com advertência ou até prisão. A penalidade também prejudicaria a carreira militar delas, pois o grau de comportamento militar é avaliado.

No vídeo, a sargento Stephany Domingos mostra que está arrumando para ir tomar a vacina, ajusta uma roupa comum, passa batom, arruma o cabelo e, depois, mostra no final que foi vacinada. Neste momento, ela enaltece a vacinação e diz: "viva a vacina".

Ao UOL, a militar disse ter ficado surpresa com as investigações, pois apenas enalteceu o momento da vacinação e ressaltou que não falou sobre política ou partido, e que não se referiu a nenhum nome de político

A vacina é a única forma, até agora, de nos proteger contra essa doença letal. Minha alegria naquele dia foi enorme de tomar uma dose de vida, fiquei emocionada e enalteci aquele momento tão esperado para todos nessa pandemia
Stephany Domingos

A sargento explicou que tem 15 anos de corporação e não tem histórico de problemas. "Entrei com 18 anos no Corpo de Bombeiros de Alagoas e a minha ficha é limpa", destacou.

O deputado federal Paulão (PT-AL) criticou as investigações contra Sthefany afirmando que "estamos voltando à Idade Média". "O coronel André Madeiro, comandante do Corpo de Bombeiros de Alagoas, abriu um procedimento administrativo contra a sargento Sthefany Domingos por [ela] fazer um vídeo enaltecendo a vacina [contra a covid-19]. Agora, veja qual foi seu voto na eleição de 2018", destacou o deputado, citando um post atribuído ao comandante em que indica voto em Bolsonaro há três anos. Procurado pelo UOL, André Madeiro não confirmou a veracidade do post.

Outra oficial investigada

A tenente-coronel Camila Paiva, 39, também ficou surpresa ao ser informada pelo UOL que existe uma outra investigação contra ela aberta pelo CBMAL. Ela está respondendo a um procedimento disciplinar no Conseg (Conselho de Segurança Pública de Alagoas) enquadrada em mais de 30 artigos com supostas transgressões, acusada de manifestação política contra o presidente Jair Bolsonaro durante a vacinação contra a covid-19.

Em um vídeo feito por ela e publicado em redes sociais, a tenente-coronel diz "Fora, Bolsonaro", logo após ver que tomou a vacina contra a covid. Nas imagens, ela segura um cartaz com as hastags "viva o SUS", "fui vacinada" e "fora, Bolsonaro".

Na mesma investigação, o comando do CBMAL pediu abertura de uma queixa-crime para ela ser investigada pela Polícia Civil de Alagoas por calúnia e difamação contra Carlos Bolsonaro, filho do presidente e vereador da cidade do Rio de Janeiro.

"Não fui oficialmente notificada, estou sabendo agora que o comandante disse que tinha aberto uma investigação contra mim. Espero que haja imparcialidade nas investigações", ressaltou a Camila, que está há 19 anos nos Bombeiros e é a primeira mulher oficial da instituição.

Outro lado

Procurado pelo UOL, o comandante André Madeiro de Oliveira explicou que não há julgamento de valor nos dois casos, mas uma investigação sobre a conduta.

"Como comandante, não faço juízo de valor sobre qualquer posicionamento da minha tropa. É meu dever solicitar que os casos que cheguem ao meu conhecimento passem por apuração, que não necessariamente vai resultar em punição. Não há juízo de valor, e todos os casos, seja de que lado for, são igualmente apurados. (...) Mas, manter uma hierarquia da tropa para cumprimento de seu dever: ajudar a todos, sempre!", disse por meio de nota.

O CBMAL informou que "é pautado na hierarquia e disciplina", assim como todas as instituições militares e que regulamento militar é de conhecimento de todos que compõe a corporação. A corporação afirmou que "denúncias" foram encaminhadas à corregedoria e que "não pode ser negligente ou omissa diante de qualquer fato".

Desta forma, o CBMAL reforçou que "tem o dever legal de instituir apuração dos fatos denunciados." O Corpo de Bombeiros de Alagoas destacou ainda que a investigação diz respeito a conduta militar.