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Ansiedade pode ser boa? Tem cura? Só atinge adultos? Veja mitos e verdades

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Bruna Alves

Do VivaBem, em São Paulo

29/04/2021 04h00

Falta de ar, sudorese, boca seca, formigamento, náusea. Esses são apenas alguns dos sintomas da ansiedade, transtorno mental que já se tornou um velho conhecido dos brasileiros. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), o Brasil tem maior índice de pessoas com o transtorno no mundo —cerca de 9,3% da população.

Uma pesquisa, realizada pelo Ministério da Saúde entre abril e maio de 2020, reuniu informações sobre a saúde mental dos brasileiros durante a pandemia e também mostrou que a ansiedade atinge 86,5% da população. Ao todo, 17.491 pessoas foram entrevistadas.

Mas apesar de comum a tantos indivíduos, ainda há muita dúvida em torno do distúrbio. Por mais que em alguns casos deva ser acompanhado de perto, nem sempre a ansiedade é algo ruim. "A função da ansiedade é preparar o corpo para um perigo futuro, o que nos leva a perceber que ela está associada a algo negativo, mas ela também nos protege", avalia Gabriela de Oliveira Haleplian, psicóloga do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, especializada em perdas e luto.

Para esclarecer ainda mais dúvidas sobre o tema, o VivaBem analisou 11 mitos e verdades sobre a ansiedade. Veja a seguir:

1. A ansiedade pode ser boa?

Verdade. Quando a ansiedade nos prepara para algum acontecimento que consideramos importante e que esteja relacionado a algo que traga uma expectativa positiva, ela pode ser boa. Por exemplo, a chegada de um casamento, o nascimento de um filho, conseguir um emprego melhor.

"Diante de uma situação que pode representar um perigo real, ela nos auxilia na nossa proteção, nos mantém vigilantes e atentos. Em outras situações, a ansiedade nos move para resoluções de situações que enfrentamos", explica Adriane Branco, psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental pelo CPCS (Centro Psicológico de Controle do Estresse).

A ansiedade faz parte do comportamento humano e, se vivenciada de uma maneira saudável e funcional, é desejada e necessária. Portanto, seria difícil pensar na vida sem a ansiedade, ela nos acompanha em momentos positivos e negativos.

"O excesso de ansiedade certamente é um problema. Mas a falta total dela nos causaria uma falta de vontade e de interesse por tudo e, portanto, ficaríamos estacionados e não evoluiríamos. Se corremos atrás de nossos objetivos, é porque temos um pouco de ansiedade que nos impulsiona", diz Eduardo Perin, psiquiatra pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), especialista em terapia cognitivo-comportamental pelo Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo).

Preocupação, ansiedade, tristeza - tommaso79/Istock - tommaso79/Istock
Quem teve ansiedade uma vez pode ter de novo, mas é importante buscar ajuda
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2. Ela atinge só adultos

Mito. Que criança não teve dificuldade para dormir na noite anterior à espera de algum passeio ou do Natal? Esse pode ser um exemplo claro de que a ansiedade se faz presente em todas as idades e nos acompanha em eventos e situações divergentes.

"A ansiedade atinge crianças, adolescentes, adultos e idosos. A importância sempre é reconhecer como ela faz parte de sua vida e ficar atentos aos possíveis excessos", alerta Gabriela de Oliveira Haleplian, psicóloga do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, especializada em perdas e luto.

3. Uma pessoa com transtorno de ansiedade é medrosa

Mito. "Não necessariamente. Algumas vezes o medo pode vir associado à ansiedade", comenta Haleplian. Contudo, devemos compreender que a ansiedade é um sentimento que acontece anteriormente a uma situação aversiva e nem todas as situações aversivas nos geram sentimentos de medo, como a notícia sobre o sexo do bebê ou uma formatura.

4. Melhor evitar situações que geram ansiedade

Mito. Na maioria das vezes fugir não é a melhor solução. "O comportamento de evitação ocorre quando eu acredito que a ameaça é maior do que a minha capacidade de enfrentá-la", diz André Israel Werneck Miranda, psicólogo especialista em gestão de pessoas do SIASS (Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor) da UFAL (Universidade Federal de Alagoas).

Segundo os especialistas, haverá momentos na vida que será possível evitar situações que causam ansiedade, como o medo de algum tipo de bicho ou de altura, mas em outras é preciso desenvolver recursos para lidar com elas.

5. Pessoas ansiosas nunca deixam de se sentir assim

Mito. A ansiedade pode sim melhorar. Há casos mais graves em que há o surgimento do transtorno de ansiedade e que necessitam de tratamento específico. Uma das coisas que mais ajudam pessoas ansiosas é o autoconhecimento e a autoconfiança de que vão conseguir melhorar. A psicoterapia pode ser um caminho.

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Ansiedade não tem idade e pode aparecer em crianças, jovens, adultos e idosos
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6. Ansiedade pode ser sinal de alguma doença mais grave

Verdade. A ansiedade pode estar relacionada a fobias, transtorno obsessivo compulsivo, síndrome do pânico, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno de ansiedade generalizada, arritmias cardíacas, infarto, derrame, hipertireoidismo e até feocromocitoma (um tumor que produz substâncias que aumentam a ansiedade).

7. É normal se sentir ansioso, mesmo quando tudo aparentemente vai bem

Verdade. A ansiedade está presente na nossa vida e, às vezes, não tem um fator precipitador muito claro. Além disso, com frequência a pessoa não consegue identificar a causa.

8. Técnicas de respiração e meditação ajudam a diminuir a ansiedade

Verdade. Tais manejos podem contribuir para o alívio dos possíveis desconfortos físicos da ansiedade, bem como contribuir para a melhora da concentração, auto-observação, redução de preocupação excessiva, melhora da qualidade do sono, entre outros", exemplifica Haleplian.

Outra dica é diminuir o uso de substâncias estimulantes como a cafeína, presente no café, chá preto, verde, branco e vermelho, chocolate e alguns refrigerantes, o cigarro e termogênicos utilizados em academia.

9. Posso controlar a minha ansiedade sem ajuda de um profissional

Depende. Como dito na questão anterior, algumas atitudes e técnicas ajudam a controlar alguns quadros de ansiedade, mas transtornos de ansiedade patológicos precisam de tratamento especializado e até medicação.

10. Remédios para ansiedade viciam

Mito. Atualmente, o uso de medicações não causa dependência química. Vale lembrar que "a medicação para esses casos é o último recurso, quando todas as outras prescrições não foram eficazes", destaca Miranda.

11. Quem teve ansiedade uma vez nunca mais terá

Mito. Segundo os especialistas, há vários fatores de risco para que a ansiedade se manifeste novamente, tais como o abuso de substâncias, traços de personalidade, qualidade da autoestima. Além disso, nossas próprias perspectivas podem mudar muito rápido, o que pode gerar novamente a ansiedade, que, como mencionado anteriormente, faz parte da vida. Mas veja bem: aqui estamos falando de quadros simples de ansiedade, não de doenças patológicas.

Fontes: Eduardo Perin, psiquiatra pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), especialista em terapia cognitivo-comportamental pelo Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo); Gabriela de Oliveira Haleplian, psicóloga do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, especializada em perdas e luto; Adriane Branco, psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental pelo CPCS (Centro Psicológico de Controle do Estresse); André Israel Werneck Miranda, psicólogo especialista em gestão de pessoas do SIASS (Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor) da UFAL (Universidade Federal de Alagoas).