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Sangue: saiba por que doar agora é valorizar a vida e a ciência

kukhunthod/IStock
Imagem: kukhunthod/IStock

Crisley Santana

Do Jornal da USP

27/03/2021 12h38

Ele leva oxigênio a cada parte do nosso corpo, defende o nosso organismo contra infecções, não pode ser produzido em laboratórios e é insubstituível. O sangue é um dos tecidos do nosso corpo e tem uma particularidade: a única fonte de matéria-prima para produção dele somos nós mesmos. Por isso, há espaços específicos para a coleta, processamento, administração e preparação do sangue e seus componentes: os hemocentros.

Além de realizar transfusões, os hemocentros se dedicam à pesquisa e estudo da hematologia e hemoterapia. Segundo o site do Redome do Instituto Nacional do Câncer, há 106 hemocentros no Brasil, sendo 14 no Estado de São Paulo. Dois deles são ligados à USP (Universidade de São Paulo), um em Ribeirão Preto e outro na capital.

A Fundação Pró-Sangue é o maior hemocentro da América Latina, chega a realizar mais de 5 mil transfusões de sangue por mês, somente no complexo do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Há 37 anos em funcionamento, é considerado referência para a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), Organização Mundial da Saúde (OMS) e Ministério da Saúde. A fundação é uma instituição pública ligada à Secretaria da Saúde do Governo do Estado de São Paulo e ao HC-FMUSP.

Já o Hemocentro de Ribeirão Preto é responsável desde 1990 pela coleta de sangue e transporte para hospitais e centros de saúde. A rede da instituição coleta cerca de 97 mil bolsas de sangue por ano e ainda oferece apoio à graduação e pós-graduação dos estudantes da USP, além de oferecer cursos à comunidade externa.

Os hemocentros também reúnem cientistas que estudam sobre o funcionamento dos componentes do sangue e tratamentos para doenças. Em Ribeirão Preto, são dois centros de pesquisa (Centro de Terapia Celular e Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia).

Situação emergencial

Com a pandemia de covid-19 e a necessidade de distanciamento social, a Organização Pan-Americana da Saúde alertou que as doações de sangue se tornaram mais necessárias do que nunca. Isso porque houve uma redução significativa nas doações voluntárias e muitos países enfrentam escassez de sangue para transfusões. "Estamos preocupados com o esgotamento das reservas dos bancos de sangue, pois isso coloca em risco a vida de muitas pessoas que precisam de transfusões", disse a diretora da organização, Carissa Etienne.

Entre os pacientes que chegam diariamente aos hospitais precisando de transfusões estão pessoas com câncer e leucemia, que necessitam de serviços de transplante, e mulheres que sofrem de hemorragia pós-parto. Além disso, os serviços de emergência exigem disponibilidade contínua de sangue para responder a casos de trauma decorrentes de acidentes de trânsito e outras lesões.

Por isso, os hemocentros ligados à USP têm intensificado campanhas de doação, além de esclarecer sobre práticas de biossegurança que protegem funcionários e doadores durante a pandemia. As duas instituições estão abertas mesmo durante a fase emergencial de isolamento e até durante fins de semana. As doações podem ser agendadas a distância pelos sites (confira abaixo) e, para tirar dúvidas, há uma assistente virtual, a Livia.bot.

Em outras ações, os hemocentros também têm se empenhando em coletar e distribuir bolsas de plasma convalescente (parte líquida do sangue) para regiões em situação emergencial, como durante a lotação de hospitais da cidade de Araraquara, pois esse componente permite transferir anticorpos ao paciente com covid-19, até que o organismo afetado tenha tempo de construir sua própria resposta imune.

Sangue e ciência

Os dois hemocentros ligados à USP são espaços de coleta e administração do sangue, mas também de muita ciência para entender melhor doenças e tratamentos relacionados ao sangue, às células-tronco que dão origem ao sangue, um dos locais no qual ele é produzido (medula óssea) e muito mais. Conheça um pouco mais sobre eles:

  • A Fundação Pró-Sangue - Hemocentro de São Paulo

É responsável pelo maior hemocentro da América Latina. A estrutura conta com agências transfusionais e laboratórios, além de outras agências no Instituto do Câncer (Icesp), Instituto do Coração (Incor) e Instituto da Criança (ICr). Externamente, a fundação possui agências que também possuem postos de coleta em Barueri, Osasco, Dante Pazzaneze e Mandaqui.

Ao todo, atende a mais de 100 serviços de saúde. É, portanto, fundamental para o suprimento de sangue em São Paulo, além de manter cooperação acadêmica e técnico-científica com a USP, possuindo importante atuação em âmbito de pesquisa.

Segundo dados do Relatório de Gestão de 2019, a Pró-Sangue atendeu 151.369 candidatos à doação. Desses doadores, foram coletadas 112.523 bolsas de sangue total. O perfil do doador nesse ano foi composto por: maioria homens, com idade entre 18 e 29 anos, participantes da primeira doação. Atualmente, a instituição possui mais de dois milhões de indivíduos cadastrados em seu sistema de doação. O agendamento para fazer uma doação pode ser feito no site da Pro-Sangue.

  • Hemocentro de Ribeirão Preto

Na instituição, que inclui o Centro de Terapia Celular (CTC), o foco são as pesquisas sobre células-tronco. Foi lá, por exemplo, que foi desenvolvida a primeira linhagem de células-tronco embrionárias no Brasil, em 2008. Já em 2016, eles criaram 18 novas linhagens de células-tronco, nas quais os genomas refletem melhor a miscigenação brasileira.

Outros avanços do CTC foram tratamento da hemofilia, com a produção inédita dos fatores responsáveis pela coagulação do sangue FVII, FVIII e FIX utilizando células humanas. A descoberta resultou no registro de patentes e alternativas mais seguras e acessíveis aos pacientes.

Outras pesquisas são:

  • Desenvolvimento de plataforma e expansão de células T geneticamente modificadas para o tratamento de pacientes com leucemias e linfomas;
  • Descoberta do início do processo de inativação do cromossomo X durante o desenvolvimento embrionário humano;
  • Avanço no tratamento das escleroses sistêmica e múltipla;
  • Novas perspectivas no combate a um dos tipos de tumores cerebrais cancerígenos mais agressivos, os astrocitomas;
  • Inibição de células de melanoma em cultura;
  • Estudos sobre os telômeros;
  • Formação de um banco de células com a genética da população brasileira.

O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Células-Tronco e Terapia Celular no Câncer (INCT) é formado em parceria com o Ministério da Ciência e desenvolve pesquisas básicas e clínicas para entender, isolar, cultivar e usar de forma terapêutica as células-tronco somáticas e pluripotentes. Além do estudo de células-tronco neoplásicas, em particular as associadas às leucemias e aos linfomas.

Doações para o Hemocentro de Ribeirão Preto podem ser agendadas pelo site da instituição.

Confira a relação de todos os hemocentros do Brasil em redome.inca.gov.br/campanhas/hemocentros-do-brasil

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