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Dados mostram que diagnósticos de câncer caíram em 2020 e preocupam médicos

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De VivaBem, em São Paulo

13/03/2021 12h22

Neste mês de março, quando completa-se um ano de pandemia, o Instituto Oncoguia (SP), com apoio da farmacêutica Roche, divulga novos dados do Radar do Câncer, que destacam os impactos da pandemia de covid-19 em todas as etapas da jornada dos pacientes com a doença.

As informações foram compiladas por meio da coleta de dados do DATASUS, mapeando procedimentos de rastreamento, diagnóstico e tratamento dos pacientes e os comparando com o mesmo período de 2019.

Um dos principais procedimentos para o diagnóstico do câncer, as biópsias, tiveram uma redução de 39,11%, quando comparados os meses de março a dezembro de 2019 e 2020. Em 2019 foram realizados 737.804 desses procedimentos e, em 2020, um total de 449.275.

As maiores quedas ocorreram nos meses de abril (-63,3%) e maio (-62,6%). "A redução do número de biópsias para diagnóstico de câncer tem repercussão muito grande na mortalidade. Quando vemos essa queda, entendemos que muitas pessoas estão deixando de ser diagnosticadas e tratadas, o que permite que o tumor cresça e se torne menos curável", comenta Rafael Kaliks, oncologista clínico e diretor científico do Oncoguia.

Outros exames importantes para a saúde da mulher, como o citopatológico cérvico vaginal, tanto para diagnóstico, como para rastreamento de câncer do colo do útero, também apresentaram queda, assim como a mamografia.

Houve redução de mais de 50% nos exames citopatológicos e a mamografia de rastreamento, fundamental para o diagnóstico precoce, apresentou queda de 49,81%.

"São dados extremamente preocupantes", lamenta a fundadora do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz. "A pandemia afetou e continua afetando profundamente o cenário do câncer. Exames, tratamentos e consultas pré-agendados foram suspensos ou cancelados, tanto a pedido do paciente, como por medida de segurança adotada pelas instituições de saúde", explica.

Panorama da doença no Brasil

A cada ano no Brasil, cerca de 700 mil pessoas recebem o diagnóstico de câncer e 225 mil morrem por conta da doença. Em situações normais, o país já possui uma alta taxa de diagnóstico tardio, agora, com a pandemia, tudo indica que o problema vai aumentar muito.

Essa é uma das principais preocupações surgidas pós-levantamento feito pelo Instituto Oncoguia, que realizou duas fases de uma pesquisa, em 2020, para compreender, pela voz do paciente e do familiar, as dificuldades e os desafios que as pessoas com câncer têm enfrentado para realizar seus tratamentos.

"Apesar de termos acompanhado muito de perto as preocupações, os sentimentos e os cancelamentos vividos pelos pacientes com câncer durante todo esse período, esses novos dados do Radar do Câncer materializam uma realidade que temos que começar a enfrentar desde agora", reitera Luciana.

"Onde estão essas pessoas que não fizeram seus exames e, em especial, as biópsias? O câncer não espera, e os cuidados com a saúde não devem ser interrompidos."

Diagnósticos de tumores urológicos também têm impacto

Ao que parece complementar os dados do Radar do Câncer, a SBU-SP (Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo) encabeçou levantamento entre importantes instituições de saúde do estado de São Paulo, e chama atenção para o impacto da covid-19 no rastreamento de cânceres urológicos.

Os resultados mostram que a pandemia gerou uma redução média de 26% no número de novos casos, englobando os tumores de rim, próstata e bexiga, na comparação com diagnósticos feitos nos anos de 2019 e 2020.

Os dados foram fornecidos pelo Hospital Amaral de Carvalho, de Jaú, Instituto do Câncer da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, Hospital AC Camargo Câncer Center, de São Paulo, Hospital das Clínicas da Unicamp, de Campinas e Hospital São Paulo da Escola Paulista de Medicina - Unifesp, de São Paulo.

O HC da Unicamp, por exemplo, observou uma queda de 52% nos casos de câncer de bexiga e 63% nos de rim. Já no Hospital AC Camargor, a redução foi de 24% para os tumores da bexiga e 29% para os de rim. Os dados para o câncer de rim do Hospital São Paulo - Unifesp mostraram redução no diagnóstico de novos casos de 35% —foram computados 40 casos em 2019, contra 26 em 2020.

"O medo de contrair o covid pela exposição a ambientes potencialmente contaminados como consultórios, clínicas e hospitais tem impedido muitos homens de procurar ajuda médica. Porém, a recomendação da comunidade científica é que os pacientes não deixem de fazer suas consultas de rotina e, quando estão em tratamento, não abandonem a terapia. Dependendo do estágio da doença, o quanto antes ele iniciar o tratamento melhor será o resultado e possibilidades de cura", alerta Geraldo de Faria, urologista e presidente da SBU-SP, responsável pela organização dos dados.

Próstata: a vilã dos homens

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A análise dos diagnósticos de novos casos de câncer de próstata —o tumor urológico de maior prevalência nos homens—, mostrou uma redução média de 33% entre todas as instituições apuradas. O número é alto e precisa ser visto com atenção. Em duas instituições, a redução do diagnóstico foi expressiva.

O Hospital AC Camargo apresentou queda de 48% e o HC da Unicamp de 61%. Em números absolutos, o Hospital São Paulo - Unifesp diagnosticou 57 novos casos de câncer de próstata em 2020, contra 76 em 2019. Já o HC da Unicamp atendeu 67 novos casos em 2020 contra 172 diagnosticados em 2019.

O Inca (Instituto Nacional do Câncer) estimou cerca de 13.650 novos casos de câncer de próstata em 2020 para o estado de São Paulo. "Utilizando-se a redução média observada nas instituições pesquisadas, 33,41%, podemos inferir que, no primeiro ano da pandemia, deixaram de ser realizados em nosso estado cerca de 4.560 diagnósticos de novos casos desta neoplasia maligna. Isso é muito preocupante, visto que o diagnóstico precoce do câncer de próstata é fundamental para um melhor prognóstico da doença", alerta Faria.

O tumor da próstata não costuma apresentar sintomas em fases iniciais e 90% dos casos podem ser curados se diagnosticados precocemente. Ao apresentar sintomas o câncer já pode estar numa fase mais avançada.

Alguns fatores de risco podem contribuir para o seu desenvolvimento como histórico familiar da doença em parentes de primeiro grau (pai, irmão, tio) e em homens da raça negra.

"A recomendação da SBU é que, a partir de 50 anos, os homens devem procurar um urologista para avaliação individualizada, tendo como objetivo o diagnóstico precoce da doença. Os homens que integrarem o grupo de risco devem começar seus exames a partir dos 45 anos", finaliza o presidente da SBU-SP.