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Inspiração pra fazer da atividade física um hábito


Miss plus size, ela perdeu 43 kg por saúde: "Era linda, mas não estava bem"

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Roseane Santos

Colaboração para o VivaBem

04/03/2021 04h00

É comum ver relatos de pessoas que decidiram emagrecer após sofrer com problemas de autoestima e bullying devido ao excesso de gordura corporal. Essa nunca foi uma questão para Etiene Araújo, 38. Com 108 kg e 1,54 m de altura, a modelo e miss plus size sempre amou seu corpo e se sentiu bem com ele. Nem mesmo o preconceito e críticas que pessoas faziam sobre seu peso a incomodavam.

"Viver nesse universo da moda plus size me protegeu muito de sofrer quando alguém me chamava de gorda. Afinal de contas, poderia estar com quilos a mais, só que era linda, carregava uma faixa de miss e me sentia muito bem com meu corpo", afirma a modelo que venceu o concurso de miss plus size da cidade de Seropédica, no Rio de Janeiro.

Etiene conta que sua relação com a obesidade sempre foi muito positiva e ela tinha uma resistência muito grande quando alguém falava que era preciso ter cuidado com o excesso de peso. "Esses alertas caiam como gordofobia para mim." Mas seu pensamento começou a mudar quando ela percebeu que os quilos extras estavam afetando sua saúde.

Etiene - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

"Comecei a ter problemas no joelho. Não conseguia mais manter o equilíbrio por causa do peso e caia facilmente na rua. Fiz um ano de fisioterapia e não adiantou. Estava me autodestruindo com aquele peso", lembra.

A preocupação da modelo aumentou quando manchas roxas começaram a surgir na parte interna das coxas. Etiene pediu um ácido para clarear a pele à sua ginecologista. Mas a médica foi extremamente cuidadosa ao alertar que isso não traria uma solução, pois as manchas eram causadas pelo atrito entre as pernas devido à obesidade e, provavelmente, também por causa da resistência à insulina. Isso foi confirmado depois, quando a modelo fez exames e descobriu estar com pré-diabetes.

Segundo o médico Fábio Viegas, presidente da SCBCM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica), essas lesões cinzas são chamadas de acantose nigricans e geralmente costumam aparecer em áreas do corpo onde há dobras e atrito entre a pele, como pernas, barriga, axilas, pescoço, costas. "O problema ocorre devido a alterações hormonais e resistência à insulina geradas pela obesidade e é um indicativo de que a pessoa esteja com diabetes (ou próxima de desenvolver a doença)", explica Viegas. Com o devido tratamento e controle do diabetes, as manchas escuras na pele tendem a desaparecer.

Problemas de saúde em série

Etiene - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Além das dores no joelho, do pré-diabetes e das manchas, Etiene descobriu que estava com hipertensão e colesterol e triglicérides alterados.

Guilherme Cotta, cirurgião geral e bariátrico do Hospital Badim salienta que essas alterações metabólicas são comuns em pessoas com obesidade e elevam o risco de morte precoce. Por isso, o excesso de peso deve ser encarado como um problema de saúde. "O paciente obeso, mesmo estando com os exames ok, tem uma maior probabilidade de evoluir para o infarto, derrame e outras doenças que podem levar à morte súbita."

Os riscos inerentes ao excesso de gordura estão demonstrados em vários estudos populacionais, entre eles, um publicado na revista Lancet Endocrinology em junho de 2018, que avaliou as causas de mortalidade de mais de 3,6 milhões de pessoas e sua associação com a obesidade.

A pesquisa fortaleceu o conceito de que quanto maior o peso de uma pessoa, maiores são os riscos. O estudo mostrou que para cada cinco pontos a mais no IMC (Índice de Massa Corporal) acima do ideal —que é em torno de 25—, a pessoa apresenta risco 20% maior de morrer precocemente. Homens com obesidade mórbida (IMC maior 40) têm uma expectativa de vida nove anos menor do que aqueles com peso normal. Isso sem contar o impacto na qualidade de vida, nas limitações de mobilidade, nos distúrbios do sono e outras restrições que enfrentam as pessoas com graus elevados de obesidade.

Bariátrica e qualidade de vida

Etiene - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

A solução para os problemas de saúde era perder peso. Como ela já havia tentado emagrecer com exercícios, reeducação alimentar e mudanças de hábitos em outras ocasiões ao longo dos últimos cinco anos e não conseguiu, o médico indicou que a melhor solução seria fazer uma cirurgia bariátrica.

"Confesso que tive um medo grande, por que todo mundo falava que é uma operação muito agressiva. Só que não senti nenhuma agressão ao meu corpo. Muito pelo contrário, vi a minha qualidade de vida retornar", conta.

Etiene se recuperou bem da cirurgia e lembra que a maior dificuldade no início foi ver pessoas com um prato de arroz, feijão, bife e batata frita ao seu lado e ela não poder comer. "Tive que aprender que o mundo não parou só porque eu fiz bariátrica e as pessoas não vão mudar por mim. Sempre enfrentarei situações assim e entendi que se comesse como antes, passaria mal."

Etiene - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

A modelo realizou a cirurgia em março de 2020, com 106 kg, e em 10 meses perdeu 43 kg e atingiu a meta de peso saudável, que atualmente mantém: 63 kg

"É comum ver relatos horríveis de quem fez bariátrica, mas eu segui todas a orientações médicas, nutricionais e psicológicas e só colhi benefícios. Eu me tornei uma pessoa psicologicamente muito forte e tudo melhorou no meu dia a dia. Hoje, me alimento bem e voltei a praticar atividade física regularmente, sou uma pessoa ativa, algo que o excesso de peso não me permitia."

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Imagem: Arquivo pessoal

O médico Fábio Viegas explica que a cirurgia bariátrica tem como foco principal a perda de peso, mas também promove melhora significativa em todas as doenças que estão relacionadas com a obesidade. "Em grande parte dos casos, com a operação observamos o controle e a remissão de problemas metabólicos como diabetes e hipertensão", diz. Além disso, ao emagrecer há uma melhora da saúde cardíaca, das dificuldades de locomoção, da apneia do sono e até da depressão e ansiedade.

No entanto, essas melhorias só ocorrem quando há mudanças nos hábitos e o paciente adere à prática regular de atividade física e uma boa alimentação.

"A cirurgia bariátrica não é uma vacina contra a obesidade. O paciente deve estar ciente de que precisa alterar seu comportamento, seguir uma dieta adequada, fazer exercícios e, dependendo da avaliação, manter o acompanhamento com psicólogo ou psiquiatra", diz Viegas.