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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Ficar um dia sem reclamar, como ensina livro, é mais difícil do que pensei

Reclamar demais pode se tornar um hábito, mas é possível combatê-lo e exercitar a gratidão - iStock
Reclamar demais pode se tornar um hábito, mas é possível combatê-lo e exercitar a gratidão Imagem: iStock

Danielle Sanches

Do VivaBem, em São Paulo

18/02/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Livro #Um Dia Sem Reclamar propõe um exercício para se sentir mais grato no dia a dia
  • A obra tem como objetivo refletir sobre as razões que nos levam a reclamar tanto, e tentar evitar que isso se torne um hábito
  • A negatividade, se não controlada, pode se tornar crônica e facilitar o surgimento de transtornos como a depressão

No livro #Um Dia Sem Reclamar (editora Citadel), os autores Marcelo Galuppo e Davi Lago propõem um desafio: passar 24 horas sem maldizer qualquer coisa ou pessoa que cruzar o seu caminho no período.

Quando eu avisei em casa que faria o desafio, meu marido riu. Não o culpei, afinal, enxergar o copo meio cheio por um dia inteiro, em plena pandemia e ainda com duas crianças pequenas em casa é um cenário bastante desafiador.

Sim, eu falhei miseravelmente mais de uma vez, reclamando de forma automática sobre coisas como o excesso de calor, o sono por conta da noite mal dormida ou a impossibilidade de sair de casa sem máscara.

Mas, para meu alívio, nem mesmo os autores foram capazes de cumprir a tarefa. "Eu não consegui", disse Galuppo, em entrevista ao VivaBem. "É realmente muito difícil, mas acredito que o importante é perceber essa dificuldade que temos em sermos gratos pelo que temos", explica ele, que é doutor em filosofia do direito pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e presidente da Abrafi (Associação Brasileira de Filosofia do Direito e Filosofia Social).

"O objetivo do livro é justamente esse, provocar essa reflexão sobre como reclamamos de tudo, todos os dias, sem pensar ou refletir sobre essa atitude, o que ela significa", explica Lago, que é mestre em teoria do direito pela Faculdade Mineira de Direito da PUC Minas.

Mas por que é difícil não reclamar?

Não, você não está louco: reclamar é um comportamento fácil para nós por causa, veja só, da evolução da espécie. Durante esse processo, o cérebro humano foi programado para calcular todas as possibilidades e focar no que de ruim poderia acontecer e nos colocar em perigo. É o chamado "viés da negatividade", um comportamento em que a mente humana dá mais importância às experiências ruins do que às boas.

O problema é que, ao enxergar apenas o que há de negativo, é possível esquecermos que existem coisas boas também. "Para essas pessoas, é como se o mundo estivesse contra elas", afirma a psicóloga Dorli Kamkhagi, coordenadora de Grupos da Maturidade do IPq HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). "Na verdade, ela não está só reclamando, está projetando algo que não está bom dentro dela", acredita.

Se isso se tornar crônico, é possível desenvolver transtornos mentais. "O cérebro é feito de padrões e muitas vezes eles nos enganam", diz o psiquiatra Rodrigo Martins Leite, coordenador de relações institucionais do IPq HCFMUSP. Segundo ele, ficar neste padrão de negatividade pode fazer com que fiquemos presos nessa ideia de que tudo está ruim e errado, abrindo caminho para a depressão, por exemplo.

Exercitando a gratidão

Qual seria, então, o antídoto para tanta reclamação? Os autores do livro acreditam que procurar olhar o lado positivo das pessoas e da vida e exercitar a gratidão pelo que temos —e não pelo que falta — é a melhor forma de conseguir isso.

Por isso, além de provocar uma reflexão sobre por que reclamamos tanto, #Um Dia Sem Reclamar também propõe alguns exercícios práticos para sermos mais gratos. Escrever um diário de gratidão, com fatos e coisas que tornaram nosso dia mais feliz, escrever cartões de agradecimento a pessoas importantes na nossa vida e até celebrar o próprio aniversário são algumas atitudes propostas para reconhecer as coisas boas que temos ao nosso redor.

Essa percepção de que estamos inseridos dentro de um contexto maior e de que somos parte de algo é fundamental para se sentir grato. "O homem é um ser gregário por natureza. O que nos alimenta são as relações com as outras pessoas, é fundamental para a nossa saúde mental", afirma Leite.

Galuppo admite, no entanto, que essa reflexão pode despertar o sentimento de vulnerabilidade ao evidenciar como nossa felicidade pode depender de outras variáveis fora do nosso controle. "É algo assustador, especialmente para quem vive imerso em uma cultura individualista como a nossa", afirma. "Mas achar que tudo se resolve com o 'eu' é um erro. Estamos interligados, seja em sociedade, seja com a natureza, por exemplo". É, portanto, um exercício de humildade também.

Lago concorda. "Achar que tudo o que temos é porque conquistamos, ou seja, mérito, ou porque merecemos, como se fosse um direito, é um erro. Há mais que isso e precisamos reconhecer para sermos mais felizes", acredita.

Mas olhar o copo meio cheio não vem naturalmente; é um exercício de percepção diário. Para mim, foi importante refletir sobre o que me levou a reclamar quando o fiz —e geralmente, após uma análise rápida, percebia que nem eram motivos tão importantes assim.

Isso quer dizer que a gratidão vem com um treino do olhar, da mente e da forma como percebemos o mundo. "É claro que coisas ruins vão acontecer, a realidade é faltante em muitos aspectos, mas também podemos tentar transformar isso em motivação para transformar, e não em motivo para reclamar", acredita o psiquiatra.

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