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"Ô mãe, acabei". Como e quando ensinar a criança a se limpar sozinha?

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Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

17/02/2021 04h00

Deixar as fraldas e aprender a usar o banheiro é uma das etapas mais desafiadoras da vida da criança —e dos pais também. Mas a partir de que idade os pequenos devem aprender sobre higiene e a se limpar sozinhos? Como ter essa conversa?

Para Nelson Douglas Ejzenbaum, neonatologista e pediatra pela Santa Casa de São Paulo e membro da AAP (American Academy of Pediatrics), dos Estados Unidos, a idade mais indicada para isso é a partir dos cinco anos.

"Mas acho que desde antes os pais podem repassar noções sobre esses cuidados. Valem aquelas frases: 'olha, a mamãe vai limpar seu bumbum', ou 'precisa secar o pipi'", explica o médico, complementado por Deborah Moss, neuropsicóloga especialista em comportamento infantil e mestre em psicologia do desenvolvimento pela USP (Universidade de São Paulo).

"Os pais precisam estimular a autonomia, mas sem muita exigência ou expectativas no começo. No banho, podem entregar um sabonete para o filho, mostrar como se usa para ficar cheiroso, mas tomando o cuidado para que esse aprendizado leve não vire uma diversão em excesso. É preciso mostrar também as consequências reais do não se limpar direito", orienta.

Para meninas e meninos

Criança tomando banho - iStock - iStock
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Para os especialistas, também é válido explicar às crianças a partir dos cinco anos que existem "bichinhos" no cocô e xixi que podem fazer mal e por isso é importante se livrar deles para não adoecer. Essas explicações precisam ser didáticas, naturais, repassadas sem constrangimento, pressão, nojo, ou críticas e demonstradas com treinos, muita paciência e incentivos diários.

Por parte dos pais, eles também precisam compreender que crianças, por terem a pele e os genitais mais sensíveis, com características específicas, e pouca experiência com o corpo e sua auto-higiene precisam de supervisão constante.

O mais indicado é que esse acompanhamento seja feito até o início da adolescência, mas sem a necessidade de conferir, conversar já serve.

É fundamental repassar desde cedo o que se deve fazer, ou não, após usar o banheiro e no banho também, como não usar sabão em excesso ou esfregar as mucosas íntimas.

"Deve se ensinar à menina a limpar a vagina sempre de frente para trás [para evitar infecções por bactérias da região perianal] e não repetir o processo com o mesmo papel. Já o bumbum, limpar para trás e nunca para frente e isso vale para os meninos, que também precisam puxar a pele do pênis para secar a gota de xixi que sobra e umedece a glande", diz Ejzenbaum.

Riscos do não acompanhamento

Enquanto as implicações mais comuns da má higiene para meninas são infecções urinárias, de vulva e vagina, e inflamações na pele e mucosas, e isso também tem a ver com a uretra delas que é mais curta e próxima do ânus, os meninos estão sujeitos a inflamações da mucosa que reveste a glande por acúmulo de urina e que pode ser muito frequente nos que têm fimose.

"Cerca de 80% nascem com alguma dificuldade para retrair a pele do prepúcio ou com alguma aderência natural dela à glande. Até os cinco anos, 40% ainda vão ter e até os 10 anos, de 15% a 20%", informa Alex Meller, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e urologista do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).

"Se as irritações forem frequentes, a limpeza difícil e a pele não se soltar até os dez anos, é indicada a cirurgia e os pais devem se atentar".

O não acompanhamento também pode levar a criança inocentemente a repetir gestos que são naturais nessa fase (como se tocar intimamente) em momentos inapropriados, em público, com outras crianças, ou como uma válvula de escape para a falta de estímulos.

Os pais então precisam conversar com ela, mas sem punir, censurar ou associar esse comportamento a algo feio ou imoral. É preciso esclarecer que ela pode, sim, se tocar, mas sozinha e com privacidade. Reprimir não é benéfico, pois pode até induzir a criança a não contar sobre um possível abuso.

E quanto a filhos mal acostumados?

Para evitar que a criança crescidinha, acima dos cinco anos, mantenha hábitos ruins, ou se acostume com os pais sempre à sua disposição, a neuropsicóloga Moss sugere que os adultos não aceitem ou assumam papéis que já seriam de incumbência dela e, de novo, não criem expectativas sobre o resultado da auto-higiene, ou critiquem e nem apressem esse processo.

"A criança precisa passar pela situação de se ver suja e tentar se limpar sozinha, mesmo que erre. É um treino e as consequências dele são importantes para seu aprendizado", conta. "Quando mal acostumada, ela não vai querer se autolimpar, muitas vão sentir nojo por nunca terem feito isso, então os pais vão precisar ter muita paciência e assim que forem chamados não vão ignorar, mas direcionar, mostrar como se faz com a criança e não pela criança".

Com crianças especiais, dependendo da condição, também é preciso garantir que elas adquiram autonomia. Embora isso possa exigir um monitoramento ainda maior, com mais treinos de repetição com relação à auto-higiene, o modelo da orientação deve ser o mesmo adotado com outras crianças: com muito incentivo, elogios, paciência e dedicação dos pais.