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O que acontece se nem todo mundo se vacinar contra o novo coronavírus?

Vacinação precisa de um número mínimo de indivíduos para ser eficaz, dizem especialistas - iStock
Vacinação precisa de um número mínimo de indivíduos para ser eficaz, dizem especialistas Imagem: iStock

Danielle Sanches

Do VivaBem, em São Paulo

29/01/2021 04h00

Após semanas de muita expectativa, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou o uso emergencial da vacina CoronaVac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan; e do imunizante produzido pela Universidade de Oxford/AstraZeneca, que será produzida no Brasil pela Fiocruz.

A medida trouxe um sopro de esperança para o país, que vive dias de agonia com o crescente número de casos e mortes por covid-19 no início de 2021 —uma segunda onda que é o preço pago, em parte, pelo descaso da população e pelas aglomerações das festas de fim de ano.

Mas o início da vacinação contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2) é apenas o primeiro passo de uma complexa jornada que a população precisará percorrer antes que a vida volte ao normal.

Além da escassez de doses e falta de insumos para a produção delas, é preciso ainda vencer a desinformação a respeito da campanha de vacinação —o número de fake news espalhadas para por em dúvida a eficácia e segurança dos imunizantes é enorme.

"As pessoas parecem esquecer que quem chegou à idade adulta hoje no Brasil tomou vacina, e chegou porque foi vacinado", afirma Gonzalo Vecina Neto, médico professor da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), presidente do Conselho do Instituto Horas da Vida e ex-presidente da Anvisa. "As vacinas são muito seguras, hoje ainda mais, não há motivo para ter medo", diz.

Mais que seguras, elas dão a possibilidade de alcançar a tão sonhada imunidade de rebanho —quando uma população tem tantos indivíduos imunes ao vírus que ele para de circular por falta de hospedeiro viável.

A vacinação é um ato coletivo, não é só a proteção individual. Natália Pasternak, doutora em microbiologia e presidente do Instituto Questão de Ciência

"Ela não só impede a circulação do vírus como ainda protege aqueles que não podem se vacinar ou em quem a vacina não age de forma satisfatória, como os imunodeprimidos", completa.

Segundo ela, as vacinas que temos hoje são "extremamente adequadas" a nossa realidade. "Nós precisávamos de vacinas reais, que reduzissem de forma rápida as hospitalizações e as mortes", diz a microbiologista. "Podem não ser as melhores, mas são as mais rápidas", diz.

Mas, o que acontece se, ainda assim, uma parcela considerável da população não se vacinar?

O vírus não vai parar de circular

Algumas pesquisas indicam que é preciso um índice de vacinação entre 60% e 80% para atingir a imunidade de rebanho e formar uma barreira que impeça a circulação do novo coronavírus.

Se esse índice não for atingido, o resultado é óbvio: a doença vai continuar provocando internações, saturando os sistemas de saúde mundo afora e provocando mais mortes. "A doença não será controlada e os casos vão continuar em números atordoantes como os que vemos hoje", alerta Vecina Neto.

Sem contenção, há ainda a possibilidade de o vírus se tornar endêmico no país —ou seja, vai se manifestar com frequência em determinadas regiões e a população terá que conviver constantemente com ele. "A doença não será controlada", explica Pasternak.

As mutações vão acontecer com mais frequência

Ao mesmo tempo em que o mundo corre para vacinar o maior número de pessoas, chegam notícias de que novas variantes (do Reino Unido, da África do Sul e de Manaus) do coronavírus estão surgindo —e há suspeita de que elas sejam mais transmissíveis do que a cepa original.

Essas novas variantes surgem de erros genéticos durante a replicação do vírus. "Alguns desses erros são inviáveis e excluídos, mas outros podem gerar versões mais competentes, mais virulentas, e melhorar o vírus", explica o ex-presidente da Anvisa.

Com as vacinas impedindo a circulação do patógeno, diminui a quantidade de réplicas que ele vai fazer —e, portanto, as chances de uma nova cepa complicar ainda mais as nossas vidas.

Populações vulneráveis estarão desprotegidas

Os especialistas lembram que não existe vacina 100% eficaz. "Há os que não podem tomar, ou ainda públicos específicos como gestantes e lactantes, ou crianças, por exemplo, que não podem tomar as vacinas disponíveis", afirma Pasternak.

Por isso, quanto mais gente se vacinar, maior será a barreira de proteção em torno dessas pessoas. "É por isso que as vacinas são essenciais quando falamos em saúde pública", afirma Lorena de Castro Diniz, especialista da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia). "Não é um ato individual e sim um pacto coletivo para controlar a doença", diz.

O 'novo normal' vai demorar a acontecer

Por fim, vale lembrar que, enquanto o vírus continuar circulando de forma intensa como agora, provocando internações, saturando hospitais e causando um número assustador de mortes todos os dias, a volta à vida normal simplesmente não vai acontecer.

"A vacina é a única arma que temos no momento para combater esse vírus", afirma Diniz. "É intolerável, inadmissível que pessoas continuem morrendo por uma doença que é imunoprevenível, como a covid-19 é hoje", diz a especialista.

Para o infectologista João Prats, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, a demora na vacinação só vai prolongar ainda mais as restrições que experimentamos atualmente. "Ainda levará um tempo para que a imunização faça efeito, mas esperamos que o primeiro impacto seja uma redução nas mortes", avalia.

A presidente do Instituto Questão de Ciência lembrou que a campanha da varíola foi chefiada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e mesmo assim demorou 10 anos para que o vírus fosse erradicado.

Questionados sobre quando a vida poderia começar a voltar ao normal após uma grande parte da população tomar vacina, os especialistas consultados nesta reportagem preferiram não arriscar. O mais importante agora é todo mundo efetivamente tomar a vacina assim que a vez chegar.