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Estudo brasileiro mapeia comorbidades mais comuns entre pacientes com asma

Obesidade, sedentarismo e transtornos psicológicos foram algumas das comorbidades mais comuns entre pacientes com asma - Drazen_/Istock
Obesidade, sedentarismo e transtornos psicológicos foram algumas das comorbidades mais comuns entre pacientes com asma Imagem: Drazen_/Istock

Do VivaBem, em São Paulo

25/01/2021 12h46

Um estudo feito por pesquisadores da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) em parceria com pesquisadores australianos do National Health and Medical Research Council Centre of Excellence in Severe Asthma, da Universidade de Newcastle, na Austrália, mostrou quais as comorbidades eram mais comuns entre pacientes com asma.

Considerado pioneiro, o trabalho foi recentemente publicado no periódico European Respiratory Journal.

Uma das doenças não transmissíveis mais comuns, a asma é um problema crônico das vias aéreas dos pulmões que os infla e estreita. A OMS estima que mais de 339 milhões de pessoas tiveram asma em 2016; o Brasil é um dos países com mais casos da doença.

O estudo foi conduzido pelo professor Celso Carvalho, da FMUSP, que pesquisa a doença há mais de 20 anos e é docente de Fisioterapia Respiratória e Fisiologia do Exercício no curso de Fisioterapia da universidade.

A ideia da análise era entender quais seriam os fatores e comorbidades mais prevalentes entre os adultos que sofrem de asma, e qual o papel das comorbidades na maior ou menor gravidade da doença.

Inatividade física, obesidade, sedentarismo e ansiedade/depressão foram algumas das que mais surgiram entre os participantes da pesquisa.

Como o estudo foi feito:

  • 296 pacientes com asma moderada a grave (243 do Brasil e 53 da Austrália) foram avaliados;
  • os participantes eram, em sua maioria, do sexo feminino, com sobrepeso, baixa atividade física, alto tempo de sedentarismo e leve obstrução das vias aéreas;
  • a maioria (68%) dos participantes tinha asma não controlada e 64% experimentou pelo menos uma exacerbação (crise) nos últimos 12 meses;
  • 15 comorbidades foram identificadas: osteoporose, disfunção das cordas vocais, dislipidemia, doença intestinal, hipotireoidismo, diabetes, dermatite, síndrome da apneia obstrutiva do sono sinusite, comprometimento musculoesquelético, distúrbio psicológico, hipertensão, obesidade, Doença do refluxo gastroesofágico e rinite;
  • rinite, Doença do refluxo gastroesofágico, obesidade, hipertensão e distúrbio psicológico foram as comorbidades mais prevalentes;
  • quase todos os participantes (98%) tinham pelo menos uma comorbidade e mais de 50% tinham mais de três comorbidades.

Quais foram os resultados?

A análise permitiu que os pesquisadores dividissem os participantes em quatro grupos (ou fenótipos) com diferentes características não relacionadas à doença, mas que apresentavam importante relação com o desfecho e a qualidade de vida positivos ou negativos da doença.

Os quatro grupos encontrados foram:

  • Fisicamente ativos (25%), a maioria mulheres, com sobrepeso, que tinham a asma controlada;
  • Pouco ativos (27,5%), com menos pacientes do sexo feminino; indivíduos com sobrepeso, mas um número menor de obesos; a maioria com sintomas de asma não controlada;
  • Moderadamente ativos, obesos e ansiosos (23%) eram de maioria mulheres, obesas e apresentando sintomas de asma não controlada;
  • Fisicamente inativos, obesos e ansiosos (24%);aumento dos sintomas de ansiedade e depressão e a maioria com sintomas de asma não controlada mesmo recebendo o tratamento medicamentoso adequado.

Por que isso é importante?

Celso Carvalho no laboratório - Divulgação - Divulgação
Professor Celso Carvalho, que estuda asma há mais de 20 anos
Imagem: Divulgação

Até hoje, pensava-se que inatividade física e sedentarismo (e, por tabela, obesidade e ansiedade/depressão) fossem consequências na vida dos asmáticos, pois muitos deles costumam evitar a prática de exercícios justamente para prevenir a possibilidade de crises de asma.

O estudo, no entanto, mostra justamente o contrário: que tratar essas comorbidades é também uma forma de controlar a doença. "Este é o primeiro estudo a identificar grupos (fenótipos) com base em características tratáveis extrapulmonares em pessoas com asma moderada a grave. Inatividade física, níveis mais elevados de tempo sedentário, sintomas de ansiedade e depressão e obesidade foram associados a piores desfechos de asma," explica Carvalho. "Tratar as comorbidades é tão importante quanto tratar a própria asma", afirma.