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"Cortei tudo": por medo, ao descobrir diabetes, pacientes exageram na dieta

Imagem: mthipsorn/iStock

Roseane Santos

Colaboração para o VivaBem

23/01/2021 04h00

A aposentada Maria da Penha Matias, 77, descobriu que era diabética logo após a perda da mãe, em 2012. "Comecei a emagrecer, mas pensei que fosse pelo estresse. Há algum tempo estava evitando açúcar e mantinha uma alimentação saudável, quando vi o exame com 350 mg/dl de glicemia, fiquei apavorada", lembra.

Sempre preocupada com a saúde, ela procurou imediatamente uma médica, que passou dieta e um medicamento para o controle da doença. Só que seu desespero para diminuir níveis de açúcar no sangue foi tanto, que exagerou nos cuidados. "Como a nutricionista falou que carboidrato aumentava a glicose, cortei todos, radicalmente. Evitava até ir nas festas para não ver salgadinhos. Não comia nem doce diet. Comecei a ficar sem força e a ter hipoglicemia.", diz.

A endocrinologista Claudia Pieper, membro do Departamento de Educação em Diabetes da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes), explica que os aspectos emocionais de não aceitação do diabetes, somados à necessidade de uma constante vigia em relação à dieta podem promover um quadro de alteração no comportamento alimentar, levando a uma restrição na quantidade e qualidade de determinados tipos de alimentos.

Imagem: iStock

Perigo de transtorno alimentar

Pieper alerta que pré-adolescentes e adolescentes que têm diabetes tipo 1 apresentam cerca de 2,5 vezes mais risco de desenvolver um transtorno alimentar, quando comparados ao grupo da mesma faixa etária que não apresenta a doença.

Neste caso, o mais frequente seria a bulimia nervosa, geralmente relacionada a deixar de tomar ou diminuir a dose de insulina com o objetivo de perder peso. Este já é considerado um comportamento de "purgação" de calorias, pois quando a glicemia fica elevada, causa glicosúria, que é a perda de glicose na urina. Não seria necessário apresentar vômitos ou uso de laxantes, como na bulimia "tradicional", explica.

A especialista ressalta que o fundamental é ter equilíbrio e não abusar das dietas restritivas, como se elas fossem a salvação para qualquer tipo de problema de saúde. "Em pessoas que não apresentam diabetes, o excesso de restrição de alimentos que contenham açúcar ou mesmo do próprio açúcar pode levar a um mecanismo compensatório depois. Jejuns prolongados ou dietas muito restritivas podem desencadear comportamentos de compulsão alimentar", adverte.

Ela alerta que todos os alimentos após a digestão se transformam em glicose. Então, é muito difícil a pessoa ficar com hipoglicemia, se estiver ingerindo uma alimentação balanceada com a quantidade adequada de carboidratos, fibras e gorduras para a sua faixa de idade, peso e atividade física.

Imagem: iStock

Saúde mental também é importante

O medo está por trás de grande parte das atitudes drásticas e errôneas tomadas após o diagnósticos. A advogada Sandra Eleotério, 60, confessa que nem sempre consegue manter o equilíbrio emocional ao conviver com o diabetes. Com vários casos da doença na família, ela considera o estresse um ponto fundamental para esse descontrole, mesmo praticando hábitos saudáveis.

"Um médico me falou que a questão da emoção não influencia, mas é conversa fiada. Um pesadelo, um dia triste ou aborrecimentos e lá vai o mostrador de glicose com 200, 250 ou 300. Apesar da dieta, do Tai Chi Chuan, das caminhadas, começa a neura, fecho a boca, confiro a glicose mais do que o necessário, rezo para o mostrador reduzir os números", diz ela.

Segundo a psicóloga Glaucia Margonari Bechara Rodrigues, coordenadora do Departamento de Psicologia da SBD, o medo, as informações equivocadas e a rigidez extrema acabam posicionando a pessoa com diabetes a comportamentos excessivos de checagem, provocando questionamentos se o tratamento está sendo mesmo seguido ou se está fazendo algo de errado. "'Este medo inicial até compreender o que está acontecendo e se adaptar ao novo diagnóstico é esperado e leva um tempo. A saúde mental e a informação correta pode tirar alguém do sofrimento e transformar o futuro".

O diagnóstico de uma doença crônica muda vidas, porque corpo e mente precisam ser trabalhados para não exceder os novos limites impostos pelo distúrbio. "Por esse motivo é fundamental se conectar com o próprio corpo, reorganizar as prioridades", diz a psicóloga.

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