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É verdade que a gente encolhe conforme o tempo passa?

Priscila Barbosa
Imagem: Priscila Barbosa

Sibele Oliveira

Colaboração para VivaBem

30/12/2020 04h00

Para muita gente, o envelhecimento traz um pacote de mudanças externas, que inclui não só rugas e cabelos brancos, mas também perder uns poucos centímetros na estatura. Essa crença popular pode parecer absurda, mas não é.

A verdade é que encolhemos e recuperamos altura todos os dias. Com o tempo, porém, essa recuperação não acontece mais de forma efetiva como antes, devido a problemas degenerativos. Resultado: uma pessoa idosa pode ficar em torno de cinco centímetros menor do que quando era jovem.

Isso faz parte do processo natural do envelhecimento, chamado senescência. "Ele é acompanhado de algumas alterações no metabolismo das nossas células que fazem com que alguns de nossos tecidos diminuam sua massa como, por exemplo, os ossos. Essa perda tem consequências no sistema musculoesquelético e pode ser perceptível com o passar dos anos", explica Cristiane Rodrigues Pedroni, professora do departamento de fisioterapia e terapia ocupacional da Unesp (Universidade Estadual Paulista).

Um processo gradual

Demoramos a perceber que estamos ficando mais baixos porque não é algo que acontece da noite para o dia. A redução da altura pode começar aos 30 anos, mas ocorre tão lentamente que notamos alguma diferença apenas por volta dos 40 ou 45 anos, e ela só fica evidente a partir dos 60 anos.

Estudos indicam que ao longo da vida adulta nós encolhemos, em média, de dois a quatro centímetros, cerca de 0,1 centímetro por ano. Essa perda varia de pessoa para pessoa e depende de fatores genéticos, hábitos de vida e alimentação.

E é claro, das mudanças que os anos trazem ao nosso corpo. "As alterações principais que levam à diminuição do indivíduo acontecem na coluna. Mas alterações do arco plantar e deformidades em joelhos também podem contribuir", resume Luciano Miller, ortopedista especialista em coluna pelo Hospital Albert Einstein (SP) e diretor da Clínica Colunar.

No caso da espinha dorsal, essas modificações ocorrem especialmente nos 23 discos intervertebrais, que têm a função de absorver o impacto entre as vértebras.

Roger Härtl, chefe de cirurgia da coluna do New York-Presbyterian Hospital/Weill Cornell Medical Center, afirmou ao jornal "The New York Times" que os discos são compostos por aproximadamente 88% de água e têm uma consistência gelatinosa. Durante o dia, eles são comprimidos à medida que a posição ereta, os movimentos e a vibração espremem o fluido para fora. À noite, quando estamos com o corpo na horizontal e em repouso, os discos reabsorvem esse fluído como se fossem esponjas.

O problema é que essa absorção já não é tão eficaz ao envelhecer, por conta dos processos degenerativos que vão surgindo pouco a pouco. Eles fazem com que o fornecimento de sangue e a circulação diminuam, o material dos discos endureça por ficar desidratado e os ossos da vértebra entrem em colapso, provocando forte dor.

É ainda mais grave quando os nervos e a medula espinhal são comprimidos, pois isso pode causar paralisia.

Influência da gravidade

Além dos discos, a perda de massa óssea —osteopenia ou osteoporose— faz os ossos de algumas regiões do corpo diminuírem sua espessura. Como as vértebras, que acabam ficando achatadas. Conforme a idade avança, também vamos perdendo massa muscular. Esse problema, chamado sarcopenia, compromete a capacidade de sustentação do corpo e a manutenção da postura ereta.

Ele atinge, por exemplo, os músculos que sustentam os arcos do pé. Desgastados com o tempo, esses arcos desabam e esse é outro motivo para perdermos a nossa altura original.

Sem falar que as pessoas mais velhas costumam deslocar o centro de gravidade do corpo para se manterem estáveis na posição ereta, pelo fato de terem o organismo enfraquecido. O que leva a encurtamentos musculares relevantes. Se esse deslocamento não for compensado, elas correm o risco de sofrer quedas.

É bom frisar que quando o assunto é perda de altura, a coluna vertebral é a estrutura mais afetada, mas não a única. "Geralmente elas não trazem consequências importantes, mas em alguns casos essas alterações posturais, como o encurvamento do tronco, podem gerar dor devido à sobrecarga muscular ligamentar e de articulações", destaca Miller.

Perdas ósseas e musculares podem gerar problemas secundários, como a alteração da postura causada por microfraturas das vértebras, o encurtamento e o enfraquecimento dos músculos do tronco. Isso faz com que a pessoa mantenha o corpo curvado para frente, causando hipercifose, que é um desvio na coluna caracterizado pela posição corcunda. Tais mudanças reduzem a mobilidade torácica e a capacidade respiratória também sofre consequências.

Mulheres perdem mais altura

Isso porque elas tendem a se exercitar menos e ganhar mais peso quando envelhecem, diz Pedroni. "Além disso, alguns hormônios decrescem de forma mais pronunciada nas mulheres e influenciam diretamente no metabolismo das células ósseas, fazendo com que a densidade mineral óssea diminua mais rapidamente nelas e influencie nessa perda de altura".

E não é uma diferença pequena. "Após os 40 anos, perdemos, em média, 4 a 6 milímetros por ano. Isso é mais acentuado na mulher devido à menor massa muscular e maior incidência de osteoporose. Ao longo da vida, o homem pode chegar a perder 3 centímetros. E a mulher, 4,5 centímetros", afirma Miller.

É possível reduzir essa perda?

Ninguém escapa de perder um pouco da estatura, mas é possível evitar que ela seja significativa. Para isso, é fundamental ter hábitos saudáveis no decorrer da vida, como não fumar, não exagerar no álcool, evitar o diabetes e praticar atividades físicas regularmente, sobretudo exercícios aeróbicos e de reforço muscular.

Além de ter uma dieta balanceada, que exclua alimentos industrializados e inclua os ricos em proteínas, vitamina D, cálcio e potássio, pois eles conservam a saúde de ossos e músculos. Essas medidas são importantes para manter o peso e a mobilidade, preservar a microcirculação nos discos e ter um bom alinhamento postural.

Cuidar da postura, aliás, é uma dica de ouro para manter a mesma altura por anos e anos. Ao passo que a má postura é a receita certa para reduzi-la, devido ao fator biomecânico nas estruturas da coluna (movimentos e posições que a afetam).

Portanto, preencher todo o tempo com tarefas que não exigem muitos movimentos do corpo, ou ficar horas seguidas numa mesma posição, não é uma boa ideia. Até porque essa rotina faz os músculos se adaptarem e encurtarem. "Esse encurtamento pode ser o suficiente para mudar a postura e fazer com haja perda do alongamento natural que o músculo é capaz de desenvolver", salienta Pedroni.

Além de subtrair a sua altura, a má postura muitas vezes traz sofrimento, pois sobrecarrega discos, ligamentos e músculos, podendo gerar uma dor crônica.

Ademais, é comum um lado ficar mais encurtado ou alongado do que outro, descarregarmos o peso de forma desproporcional entre eles e distribuirmos a força de maneira desequilibrada nas articulações. Daí para surgir uma lesão é um pulo. O pior é que nem sempre as alterações posturais são percebidas com facilidade, de modo que possam ser tratadas antes de se agravarem.

Muitas pessoas conseguem se adaptar e até conviver com a má postura, porém nada garante que não precisarão tratá-las em algum momento, para evitar problemas mais sérios no futuro.

Mais uma vez, os exercícios físicos são de vital importância para manter a força muscular, a mobilidade e a postura. Fazer ajustes ergonômicos nos locais de trabalho, de estudo e de lazer também ajuda a ficar livre da má postura. Se ainda assim ela continuar castigando, procure um especialista.