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Fique atento: Black Friday pode ser gatilho e ativar compulsão por compras

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Bruna Alves

Do VivaBem, em São Paulo

27/11/2020 04h00

Resumo da notícia

  • É normal ficar ansioso para a chegada de um evento que só acontece uma vez por ano e promete descontos "imperdíveis"
  • Mas se a ansiedade for contínua e você não conseguir controlar os impulsos, é provável que seja uma compulsão por compras
  • O TCC (transtorno de compra compulsiva) é um problema repetitivo, fácil de ser identificado, mas que não tem tratamento específico
  • As características mais comuns do TCC são: ansiedade, desespero para comprar, perda de controle e tentativas de reduzir as compras

Nesta sexta-feira (27) acontece a 10ª edição de um dos eventos varejistas mais esperados no Brasil, a Black Friday. E a expectativa de comprar algum produto com um belo desconto tem motivado e deixado muitas pessoas ansiosas.

Os especialistas consultados pelo VivaBem garantem que é normal criar altas expectativas e ficar ansioso diante de "ofertas imbatíveis". Mas veja bem: se você tem um comportamento repetitivo, passa o dia inteiro pensando em comprar e não consegue se controlar diante de qualquer suposto desconto, é possível que tenha um TCC (transtorno de compra compulsiva), também conhecido como oniomania.

O transtorno é crônico, repetitivo e difícil de ser interrompido. Ele ocorre, principalmente, em resposta a eventos ou sentimentos negativos, como explica Patrícia Improta, coordenadora do curso de psicologia da Faculdade Anhanguera de Santo André (SP). "Associar o ato do comprar com sentimentos ruins ou emoções negativas, como raiva, ansiedade, tédio e pensamentos autocríticos, pode se transformar em um padrão e fazer com que qualquer emoção do tipo seja um estopim para o consumo".

Embora a oniomania não ocorra isoladamente pela Black Friday ou qualquer data comemorativa com possíveis promoções, esses eventos podem ser gatilhos para o problema, que ocorre quando há um desejo "irresistível" de comprar, seguido de perda de controle. Por exemplo, uma pessoa tem 10 bolsas e, mesmo assim, compra mais uma parcelada em dezenas de vezes, idêntica às outras que já tinha, comprometendo a vida financeira sem necessidade.

Um estudo realizado com 359 participantes com idade entre 19 e 66 anos estimou que de 6 a 8% da população pode sofrer com a compra compulsiva. Segundo a análise, as mulheres lideram o ranking dos consumistas com mais de 80% de prevalência, em relação aos homens.

Cérebro viciado - iStock - iStock
Cérebro viciado
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Alguns estudiosos assemelham a compulsão por compras a transtornos alimentares, de humor e à dependência química, como o uso de drogas e álcool. No entanto, em casos de oniomania, o cérebro é ativado por um comportamento, não por uma substância em si. Portanto, pode-se dizer que o transtorno é um tipo de dependência comportamental.

"No consumo normal temos um objetivo específico ou uma necessidade. Na compulsão existe um impulso doentio para consumir sem qualquer necessidade ou objetivo específico. Quando compramos por necessidade nos sentimos bem e felizes por um período maior, mas quando compramos por compulsão, o arrependimento e a culpa são os sentimentos que prevalecem", diz Improta.

Pessoas que sofrem com o transtorno também tentam inúmeras vezes parar de comprar tanto ou ao menos reduzir o vício, mas quase sempre as tentativas são frustrantes.

Veja as características de quem tem o transtorno:

  • Adquire produtos desnecessários;
  • Faz compras excessivamente;
  • Tenta reduzir as compras, mas não consegue;
  • A ansiedade toma conta até realizar a compra;
  • Vê nas compras uma forma de lidar com a angústia ou outra emoção negativa;
  • Mente para encobrir o próprio descontrole;
  • Briga com qualquer pessoa que tenta alertá-la do transtorno;
  • Se endivida até o pescoço, mas continua comprando;
  • Sente arrependimento e culpa depois de comprar demais, porém não perde novas "oportunidades";
  • Fica excitado por tudo que quer comprar;
  • Nega que tenha qualquer problema de compulsão.

Como se controlar

Segundo os especialistas, não há um tratamento específico para oniomania. Alguns casos são tratados com psicoterapia, além de medicamentos como antidepressivos ou agentes estabilizadores do humor. Acha que pode ter o transtorno? Procure um especialista para um diagnóstico assertivo e um tratamento individualizado.

Elaine Di Sarno, psicóloga, especialista em avaliação neuropsicológica e em terapia cognitivo comportamental pelo IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), cita algumas dicas para as pessoas se tornarem menos consumistas:

  • Evite ir ao shopping, eles estão sempre recheados de tentações para os consumistas;
  • Evite ficar olhando as vitrines das lojas online quando está entediado;
  • Identifique as áreas onde você gasta demais, especialmente se está gastando para se sentir melhor;
  • Crie um orçamento e assuma o controle de seus gastos;
  • Estabeleça metas de poupança e se orgulhe do quanto economizou;
  • Encontre maneiras baratas de se recompensar.
Fontes: Patrícia Improta, coordenadora do curso de psicologia da Faculdade Anhanguera de Santo André (SP), especialista em fisioterapia neurológica, Elaine Di Sarno, psicóloga especializada em neuropsicologia e em terapia cognitivo-comportamental, pelo IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo); Victor Bigelli de Carvalho, médico psiquiatra pela Faculdade de Medicina da USP.