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Cientistas criam dispositivo que usa algoritmo para medir zumbido no ouvido

fizkes/IStock
Imagem: fizkes/IStock

Bruna Alves

Do VivaBem, em São Paulo

19/11/2020 13h39

Imagine o chiado de um rádio mal sintonizado, o barulho de uma mosca voando ou uma pastilha efervescente se dissolvendo na água. Esses são apenas alguns exemplos de zumbidos que algumas pessoas têm. Estima-se que 20% da população mundial já passou por esse problema.

E para entender como o zumbido age no cérebro, cientistas australianos criaram um dispositivo, em 2014, chamado espectroscopia de infravermelho próximo funcional (fNIRS - sigla em inglês). Trata-se de um instrumento não invasivo, portátil e silencioso que permite medir a atividade do fluxo sanguíneo cerebral relacionado ao som. Uma nova pesquisa foi publicada ontem (18) na plataforma PLOS ONE para apresentar as funcionalidades e novos resultados do aparelho.

Não há uma causa específica para o problema. O zumbido pode surgir de mansinho, agravando-se aos poucos, ou surgir com tudo e do nada —a pessoa dorme em silêncio e acorda com o zunzunzum.

Eles diferem entre si e são sintomas de vários problemas. Aliás, o que os provoca não necessariamente está nos ouvidos, embora 90% dos casos têm mesmo a ver com eles e geralmente são consequência de condições que envolvem a perda de audição. Só que, em geral, o paciente nem nota que não está ouvindo direito. A perda da capacidade auditiva pode ser sutil e só é percebida no exame de audiometria.

Nos outros 10% dos casos, porém, os ouvidos funcionam às mil maravilhas e, nesses casos, as causas são as mais adversas: pescoço dolorido que manda mensagens para o cérebro, dentes desalinhados e dificuldade de mastigação, problemas no estômago, ansiedade, depressão e por aí vai. A lista é extensa!

Dispositivo está sendo testado desde 2014

Quando o fNIRS foi descrito em estudo e usado pela primeira vez para medir a percepção do zumbido no cérebro, os resultados da pesquisa revelaram um aumento da atividade do fluxo sanguíneo no córtex auditivo direito.

Outras pesquisas clínicas usando essa tecnologia mostraram um aumento da atividade não apenas no córtex auditivo, mas também em regiões não auditivas próximas, como o córtex frontal e algumas áreas de processamento visual.

Recentemente, a tecnologia também foi usada para mostrar sintomas de zumbido melhorados após estimulação transcraniana por corrente contínua. Este é um novo tratamento que está em desenvolvimento.

Já em 2018, os experimentos mostraram que os sinais de fNIRS no córtex auditivo refletiam tanto a presença quanto a intensidade de sons fantasmas, indicando a possibilidade de medir a gravidade dos zumbidos.

Técnica foi aprimorada

Os pesquisadores seguiram com os estudos e, desta vez, avançaram e gravaram os sinais fNIRS. Eles usaram algoritmos de machine learning para fazer uma classificação de acordo com a gravidade de cada caso.

Participaram deste estudo 25 pessoas com zumbido, que foram comparadas a 21 pessoas saudáveis. A comparação mostrou que os pacientes com zumbido ou zumbido crônico tiveram uma conectividade significativamente maior entre as regiões temporal, frontal e occipital do cérebro em repouso.

Segundo os cientistas, o algoritmo mediu o zumbido com 78% de precisão e diferenciou a gravidade dos sons em 87%. Além disso, assim como a pesquisa anterior, a imagem mostrou maior conectividade no lobo temporal-frontal, o que é atribuído à duração do zumbido e estresse, e maior conectividade no lobo temporal-occipital, que está de alguma forma conectado à intensidade do som.

Por fim, os pacientes com zumbido tiveram uma atividade cerebral reduzida. Os resultados da pesquisa também mostraram que tanto o volume como o zumbido podem ser medidos e estudados, separadamente.

Por que a pesquisa é importante?

Embora existam algumas ferramentas para controlar os sintomas, mais estudos são necessários para entender como o zumbido está relacionado à atividade cerebral assimétrica.

A intenção dos pesquisadores é poder apresentar, no futuro, um tratamento mais individualizado, mas para isso é preciso entender todos os mecanismos por trás dos zumbidos, seguindo com as pesquisas.

*Com informações do blog da Lúcia Helena.