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Diabetes pode reduzir medicamento anti-HIV no sangue, revela pesquisa

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Imagem: vgajic/iStock

Da Agência Aids

13/11/2020 17h34

Uma pesquisa pela Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, mostrou que o diabetes está associado a uma redução de 25% nas concentrações do principal medicamento anti-HIV tenofovir, relataram pesquisadores dos Estados Unidos na edição online do Journal of Acquired Immune Deficiency Syndromes.

Sarah Mann, responsável pelo estudo, explicou que a equipe examinou as concentrações de difosfato de tenofovir em manchas de sangue secas obtidas de 523 pessoas vivendo com HIV. Depois de levar em consideração uma série de fatores que podem afetar os níveis de medicamentos anti-HIV no sangue, como a adesão, eles descobriram que as concentrações de tenofovir foram reduzidas em um quarto nas pessoas com diabetes mellitus em comparação com aqueles sem diabetes.

Embora sugerindo que a diferença pode ser por causa de como o diabetes afeta a maneira como o corpo processa os medicamentos, os pesquisadores pediram mais estudos para explicar essas descobertas. "É importante verificar se as quedas relacionadas ao diabetes nos níveis dos medicamentos antirretrovirais aumentam o risco de cargas virais mais altas, resistência aos medicamentos e falha do tratamento", afirma Mann.

"Essas descobertas refletem a necessidade de expandir nossa compreensão das características biológicas, comportamentais e sociais que estão associadas à exposição a drogas em pessoas que vivem com HIV e com risco de contrair o vírus", comentou.

A pesquisa teve a inteção de verificar se a presença de três doenças potencialmente graves não relacionadas ao HIV —diabetes mellitus, pressão alta (hipertensão) e aumento de lipídios no sangue (hiperlipidemia) — afetava as concentrações de tenofovir em gotas secas de sangue.

"Medir as concentrações de antirretrovirais em gotas de sangue seco é uma boa maneira de prever resultados como supressão viral e resistência em pessoas que tomam antirretrovirais", explica Mann.

Metodologia

A população do estudo consistia em 523 pessoas vivendo com HIV e tomando um regime que contém fumarato de tenofovir disoproxil (TDF). Esses indivíduos receberam atendimento entre 2014 e 2017 e foram acompanhados por 48 semanas. Manchas secas de sangue foram obtidas em três ocasiões durante este período. Ao mesmo tempo, os participantes foram solicitados a fornecer informações sobre sua adesão à combinação de tratamento para o HIV.

Quarenta e um por cento dos pacientes tinham pelo menos uma comorbidade. Os mais comuns foram hipertensão (30%) e hiperlipidemia (28%), seguidos de diabetes (6%). Um total de 19 pessoas (4%) apresentavam as três comorbidades. Dos diabéticos, 58% também tinham hipertensão e hiperlipidemia e apenas 18% tinham diabetes isoladamente.

A idade média era de 45 anos. A maioria dos participantes (86%) era do sexo masculino, 58% eram brancos, a contagem média de células CD4 era de 592 e a maioria (88%) tinha uma carga viral abaixo de 200. Embora 49% no geral estivessem tomando um medicamento de "reforço", o número aumentou para 64% para pessoas com diabetes.

A análise inicial não mostrou nenhuma associação geral entre comorbidades e concentrações de tenofovir no sangue seco.

Resultados

Mesmo quando os investigadores levaram em consideração a carga viral, eles descobriram que as concentrações do medicamento eram 21% mais baixas entre as pessoas com diabetes em comparação com aquelas sem a doença. Ajustes adicionais para a presença de hipertensão e hiperlipidemia também mostraram uma redução de 25% nas concentrações de tenofovir entre aqueles com diabetes.

Quando os autores restringiram sua análise a indivíduos com carga viral abaixo de 20, eles descobriram que a presença de diabetes estava associada a uma redução de 12% nas concentrações de tenofovir no sangue seco, uma redução que ainda é estatisticamente significativa em comparação com pessoas sem diabetes.

Por fim, a presença de diabetes permaneceu associada a uma redução de 24% quando Mann e seus colegas levaram em consideração o uso de um reforço antirretroviral.

Por outro lado, as taxas de supressão viral foram semelhantes em pessoas com ou sem diabetes.

Medidas para contornar o problema

Segundo os pesquisadores, uma explicação alternativa para os resultados poderia ser uma redução na meia-vida dos glóbulos vermelhos, associada ao diabetes, o que por si só poderia explicar as variações nas concentrações de tenofovir observadas no estudo.

"Esses potenciais mecanismos explicativos refletem a necessidade de mais pesquisas laboratoriais e em humanos para elucidar a complexidade da absorção do tenofovir, carga celular e farmacocinética em pacientes com diabetes mellitus e outras comorbidades não relacionadas à aids", disse Mann.

Histórico

Em 2019, a Agência de Notícias da Aids noticiou que uma pesquisa realizada no Centro Médico da Universidade Vanderbilt, no Tennessee, mostrou que as pessoas que iniciaram a terapia antirretroviral com um regime que incluía um inibidor da integrase apresentaram maior probabilidade de desenvolver diabetes mellitus.

Embora esse risco aumentado diferisse entre medicamentos específicos, um crescente número de evidências sugere que os inibidores da integrase também estão ligados a maior ganho de peso em pessoas que iniciam o tratamento para o HIV. No entanto, as razões para isso ainda não estavam bem esclarecidas.