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Autotransfusão usa sangue do próprio paciente durante grandes cirurgias

Carine Wallauer/UOL
Imagem: Carine Wallauer/UOL

Samantha Cerquetani

Colaboração para VivaBem

09/11/2020 04h00

A pandemia da covid-19 afetou diretamente as doações de sangue em diversas regiões do Brasil. Os doadores diminuíram consideravelmente nos últimos meses, atingindo rapidamente os estoques de bancos de sangue —de acordo com dados do Ministério da Saúde, ocorreu uma queda de 30% em maio.

Para se ter ideia, dos oito tipos de sangue existentes, cinco estavam em estado crítico e dois em alerta ao final de outubro na Fundação Pró-Sangue, maior hemocentro da América Latina e responsável por atender mais de 100 instituições de saúde da rede pública de São Paulo.

Algumas cirurgias eletivas, ou seja, consideradas não emergenciais, foram adiadas. Mas as pessoas que tiveram algum trauma por acidente, as que necessitaram de transplantes de órgãos, de cirurgias cardíacas ou oncológicas não puderam ter os procedimentos postergados.

Em alguns casos, a autotransfusão, ou seja, reutilização do próprio sangue da pessoa, pode ser uma opção. "A técnica permite que o próprio sangue 'perdido' pelo paciente durante a cirurgia seja processado e retransfundido, evitando-se, assim, as transfusões de sangue de doadores e as suas possíveis complicações e reações adversas", explica André Larrubia, hematologista e hemoterapeuta da BP - Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Tipos de autotransfusão

As autotransfusões podem ser programadas em casos de cirurgias. Dessa forma, o paciente realiza uma coleta idêntica a uma doação de sangue, mas a bolsa fica armazenada até a data em que a transfusão for necessária.

Também há situações em que essa coleta é realizada momentos antes de uma cirurgia. Caso o sangue não seja utilizado, ele poderá ser encaminhado para outra pessoa.

E a autotransfusão intraoperatória automatizada ocorre durante a cirurgia por meio de um equipamento em que o sangue é preparado adequadamente. Ao final desse processo, o sangue está apto para ser devolvido para a pessoa.

Vantagens e riscos do procedimento

A principal vantagem é o fato de a pessoa receber seu próprio sangue, não correndo o risco de qualquer contaminação pela transfusão. Mas vale destacar que os bancos de sangue possuem processos rígidos de segurança e exames cada vez mais modernos para evitar esse risco.

"De modo geral, a autotransfusão não é novidade. É um procedimento antigo e seguro que pode ser realizado em praticamente todos os serviços de hemoterapia desde que sejam seguidos os protocolos de segurança", destaca Dante Langhi Jr., hematologista, hemoterapeuta e presidente da ABHH (Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular).

Mas nem sempre o procedimento poderá ser realizado facilmente, seja por falta de tempo para a coleta ou pela falta de um equipamento de recuperação sanguínea intraoperatória. De acordo com a Ministério da Saúde, até o momento não há dados de quantos hospitais oferecem essa tecnologia no Brasil. Alguns hospitais usam o equipamento em esquema de comodato (uma forma de empréstimo), já outros compram. Mas, geralmente, a autotransfusão é viabilizada em grandes centros médicos, principalmente em serviços que oferecem cirurgias cardíacas.

A reportagem de VivaBem pediu uma lista de hospitais que contam com a tecnologia disponível, mas o ministério disse que não tinha esses dados.

"No Brasil, o sangue do banco de sangue é sempre doado, mas todos os exames, materiais para coleta e administração do sangue são cobrados do paciente, convênio ou do próprio governo. Por isso, essa tecnologia pode ser uma vantagem. Além disso, a recuperação do paciente no caso de autotransfusão pode ser mais rápida, incluindo menor tempo de internação. Essa tecnologia já está disponível em grandes centros médicos", destaca Celso de Freitas, médico e diretor da LivaNova, empresa produtora de um equipamento para autotransfusão.

De acordo com Larrubia, pessoas com os chamados "fenótipos raros", ou seja, tipos de sangue encontrados com menor frequência na população, são beneficiados com essa modalidade.

"Assim como aqueles com histórico de reações graves ocorridas em transfusões sanguíneas anteriores. Também é indicada para pacientes que serão submetidos a cirurgia com grande risco de sangramento", completa o hemoterapeuta.

Diferença para a auto-hemoterapia

É importante destacar que a autotransfusão é um procedimento completamente diferente da auto-hemoterapia, que trata-se de uma aplicação intramuscular do sangue do próprio paciente.

Recentemente, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) divulgou um comunicado explicando que a auto-hemoterapia não é reconhecida como procedimento médico para qualquer tipo de patologia.

Isso porque foi divulgado erroneamente que a prática estimula o sistema imunológico contra o novo coronavírus. E de acordo com a ABHH, a auto-hemoterapia não tem benefícios comprovados cientificamente.

"A auto-hemoterapia é um charlatanismo, não é considerado um procedimento médico e oferece riscos para a saúde. É importante que as pessoas fiquem atentas e não acreditem nos benefícios dessa técnica", finaliza Langhi Jr.