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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Três mulheres contam experiência de tratar câncer de mama no SUS

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Imagem: iStock

Carolina Cristina

Colaboração para VivaBem

28/10/2020 04h00

A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que os países tenham uma cobertura mamográfica de 70% entre as mulheres de 50 a 69 anos, que são o público-alvo do câncer de mama. Segundo o estudo Panorama da atenção ao câncer de mama no SUS, feito pelo Instituto Avon junto com o Observatório de Oncologia, a partir da consolidação dos registros do SUS (Sistema Único de Saúde), de 2015 a 2019 essa cobertura foi de apenas 23% no Brasil.

Isso significa que, segundo a pesquisa, 47% dos diagnósticos de câncer de mama são de estágio avançado, considerando menores chances de cura. Outro dado que chama atenção se refere a um recorte racial, destacando que 52% dos diagnósticos tardios são de mulheres consideradas pretas e pardas.

"Quando se fala em diagnóstico precoce, mulheres pretas e pardas representam apenas 19% desse cenário, enquanto mulheres brancas representam 28%, o que mostra a desigualdade de acesso dentro do próprio sistema", comenta Daniela Grelin, diretora-executiva do Instituto Avon.

Em conversa com VivaBem, três mulheres contaram suas histórias desde a descoberta do câncer de mama até o tratamento pelo SUS.

"Câncer não dói, mas mexe com o sistema nervoso"

Janaína, personagem VivaBem - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Janaína Oliveira Nunes, 45, de São João de Meriti (RJ), descobriu o câncer de mama em 2017 em estágio avançado.

"Descobri meu câncer em 2017, levei dois anos para confirmar o diagnóstico. Minha mama inchou, passava muito mal, tinha crises de ansiedade e tive que trocar de mastologista e ir para outro médico pedir uma biópsia. Só consegui isso em 2019, a biópsia ficou pronta em agosto e, ao me perguntar se tinha fé, o médico me informou que tinha câncer em estágio avançado.

Entrei no Inca (Instituto Nacional de Câncer) em 12 de setembro de 2019, esperei três meses para começar a quimioterapia porque pediram todos os exames novamente. Minha primeira químio foi em 18 de dezembro e a última em 18 de junho de 2020.

Em agosto deste ano, operei e tiraram 21 linfonodos e fiz a quadrantectomia (cirurgia conservadora da mama, procedimento para retirar o tumor com uma margem de segurança, preservando o máximo possível dos seios).
Hoje vejo que a gente não pode desistir de fazer o autoexame, de lutar. Os médicos falam que o câncer não dói, mas ele mexe com o sistema nervoso. Fiquei com um pouco de medo de andar na rua, tinha palpitação e achava que estava morrendo.

Na minha químio, o meu medo foi por causa do coronavírus. Coloquei Deus na frente e fui. Fiz a quimioterapia toda e não desisti. Meu exame da covid-19 não deu nada, operei e hoje estou bem, aguardando a radioterapia. Estou curada, pela fé, eles retiraram toda a doença do meu corpo".

"Quando saiu o resultado da biópsia, dei graças a Deus"

Ariane, personagem VivaBem - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Ariane Cândida da Silva, 36, de Salvador, confirmou o diagnóstico de câncer de mama em agosto, mas exame já estava pronto desde abril.

"Em setembro de 2019, percebi um caroço do tamanho de um feijão durante o autoexame. Tive muita dificuldade de marcar um mastologista no SUS e, por isso, fiz meu primeiro ultrassom pela rede particular e diversas punções nos seios para drenagem. Chegou um momento que não tinha mais dinheiro porque cada punção custava R$ 172 reais, então fiquei apenas no sistema público.

Depois de um tempo, comecei a sentir muitas dores e fui para uma UPA 24 horas, em abril, início da pandemia. Um médico me informou sobre um hospital que fazia drenagem de emergência e era o que precisava. Fiz minha primeira biópsia foi dia 13 de abril, a partir da drenagem.

Fiquei dez dias internada. Perguntava para todos sobre o resultado da biópsia e diziam que não tinham nada registrado. Tive alta e, em maio, tive que voltar ao hospital para outra drenagem... Fizeram outra biópsia, que também não ficou pronta. Fiquei em casa esse mês e, em junho, chorava de tanta dor. Não aguentava mais tantas drenagens e acabei sendo internada novamente dia 22 de julho porque as medicações não estavam mais fazendo efeito. Durante a terceira drenagem, os médicos colheram novamente a biópsia e, no dia 10 de agosto, o resultado saiu.

Tinha feito amizade com o pessoal do hospital e, quando a médica veio me contar sobre o resultado falou o seguinte: 'Ariane, tenho uma notícia ruim e outra que me deixou chateada. A ruim é que você tem câncer e a outra, é que encontrei no laboratório sua biópsia de abril que já constava que você estava com a doença. Te peço desculpa'. Ela começou a chorar, e eu também.

Não entendo porque não diagnosticaram antes, o tumor tinha 9 cm. Depois disso, foi tudo muito rápido e meus exames foram feitos com alta urgência. Agora me trato no Hospital da Mulher, em Salvador. Eles são referência no tratamento da doença e fiz diversos exames em um dia. O diagnóstico foi fácil de aceitar porque já estava cansada de ir para o hospital. Quando saiu a biópsia de câncer, dei graças a Deus."

"Me sentia mutilada, não me achava atraente"

Sandra, personagem VivaBem - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Sandra Nóbrega Cândido, 46, de Mococa (SP), está há sete anos esperando sua reconstrução mamária.

Em agosto de 2012, fiz o autoexame durante o banho e senti um caroço. Passei por cinco ginecologistas. Esses profissionais eram particulares, gastei tudo o que tinha e o que não tinha com essas consultas.
Refiz todos os exames pelo SUS e, no dia 8 de fevereiro de 2013, fiz a mastectomia radical da mama esquerda.

Quando me contaram que ia precisar retirar a mama, entrei em choque. Foi uma confusão de sentimentos que não consigo explicar. Fiquei muito abalada e ficava pensando nas palavras dos médicos o dia inteiro. É muito difícil para uma mulher perder seu seio. Me sentia mutilada, não me achava atraente e não sabia como teria coragem de mostrar para o meu marido.

Estou há sete anos esperando minha reconstrução mamária. E depois de seis anos de muita espera e muita luta, consegui colocar o expansor mamário, que é uma prótese de silicone com 200 ml de soro fisiológico.

Depois do susto e do medo de morrer, descobri uma força que eu sabia que tinha. Uma confiança muito grande que durou até a última quimioterapia. Depois, me sentia perdida e me encontro assim até hoje. Cada vez que volto no hospital me sinto uma bolinha de pingue-pongue, porque cada equipe médica que me atende fala uma coisa. Me sinto um número, não uma pessoa."

Previna-se com informação

No Brasil, existe uma lei vigente desde 2019 que garante a confirmação de pacientes com suspeita de câncer de mama em até 30 dias, essa é a Lei dos 30 dias. Porém, há oito anos já está em vigor a Lei dos 60 dias, que assegura o início do tratamento do paciente com câncer em 60 dias a partir da confirmação do diagnóstico.

Informar-se é a maior arma pela prevenção. O Inca tem em seu site uma Cartilha dos Direitos do Paciente com Câncer, leia e fique por dentro do que a lei garante.

1) Como identificar se há algo errado com as mamas?
O melhor jeito é passando com o médico e fazendo os exames complementares também. As duas coisas são importantes. Mas, na palpação em casa (autoexame), a paciente pode sentir alguma nodulação, só que quando conseguir sentir isso em casa, já vai ser um estágio bem avançado, teoricamente.

2) Depois da descoberta da doença, o que deve ser feito primeiro?
Pode começar pela químio ou pode ir direto para a cirurgia, na grande maioria das vezes a gente tenta operar primeiro, tirar a doença e depois fazer o tratamento clínico (que é a quimioterapia e a radioterapia). Paralelamente a isso, ela tem que ter uma mudança de estilo de vida muito importante: alimentação, exercícios físicos e tratamento da questão psicológica.

3) Qual a idade média das mulheres com câncer de mama?
A idade em que o câncer de mama mais acomete as mulheres é dos 45 aos 60 anos. A partir dos 45 já começa a subir. Dos 50 aos 60 anos é a faixa mais comum do aparecimento do câncer de mama nas mulheres.

Fonte: Mariana Rosario, mastologista do Hospital Albert Einstein (SP).