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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Apendicite, colecistite e diverticulite têm avanço rápido e podem matar

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Bruna Alves

De VivaBem, em São Paulo

16/09/2020 04h00

Em 2018, o jornalista Abinoan Santiago, 26, levou um susto. Ele havia tido uma alimentação pesada à noite e na manhã do dia seguinte começou a sentir fortes dores abdominais, mas pensou que era apenas má digestão. Não era.

"Jamais imaginava que seria apendicite, nem sabia do que se tratava isso. Comecei a tomar remédio para digestão, mas a dor não passou e foi só aumentando de forma absurda. Na sexta, por volta de duas horas da madrugada, fui para o pronto-socorro e fiz um exame de sangue", conta. Mesmo após ter sido medicado, a dor piorou. "Ao ponto de não conseguir nem andar direito", relembra.

O exame de sangue, no dia seguinte, apontou que havia uma alteração, por isso ele precisou fazer um ultrassom. "E lá o médico constatou que o apêndice já estava muito inflamado e indicou que a cirurgia fosse feita de urgência. Falaram para ir direto para o centro cirúrgico e tomar alguns medicamentos. Não demorou nem uma hora para entrar na sala de cirurgia", recorda Santiago, que precisou de mais 15 dias para se recuperar da operação.

"Tenho muitas dores, não tem remédio que passa"

A aposentada Fátima de Salles Rocha, 59, também passou por um sufoco, mas no caso dela foi por causa de diverticulite. "Comecei sentindo muita cólica, almoçava e tinha que ir direto ao banheiro. Quando fiz 52 anos, fui fazer uma colonoscopia e alguns divertículos foram diagnosticados", relembra.

Ela já havia feito quatro cirurgias por causa de cálculos renais, e ainda sentia dores por causa disso. Certo dia, enquanto estava trabalhando, a brasiliense teve uma dor muito forte e as fezes começaram a sair muito duras e escuras. "Achei que era cólica renal e fui para o hospital. Quando cheguei, fiz o exame e o médico falou que estava com uma inflamação no intestino e não podia voltar para casa, porque podia perfurá-lo e talvez tivesse que fazer uma cirurgia", relembra.

Ela ficou internada por uma semana tomando medicação e sem poder comer nada, tudo para tentar controlar a inflamação. Foi liberada sem precisar fazer a cirurgia, mas não acreditou que realmente estava curada, por isso procurou um proctologista para refazer o exame.

"Quando passou um mês, fui fazer a colonoscopia e o médico falou: 'a senhora tem que operar ontem'. Já estava com meu intestino praticamente todo sangrando e infeccionado", descreve. Dois dias depois, a cirurgia foi marcada. Era novembro de 2013.

Tive que tirar mais de 50 centímetros do intestino grosso. E de lá para cá, nunca mais tive sossego, porque qualquer coisa que como extra ou se passar muito estresse, dois dias depois eu entro em crise.

"Tenho muitas dores, meu intestino inflama, não tem remédio que passa. É uma dor insuportável, indescritível. Parece que você está tendo parto de três crianças ao mesmo tempo", conta. Isso acontece porque a cirurgia não ocorreu como deveria e, por isso, mesmo seguindo à risca as orientações médicas, as dores persistem. "Hoje em dia, 80% do meu prato tem que ser legumes e verduras. Posso comer de tudo, mas tenho que saber o que me incomoda", finaliza.

O que é apendicite, diverticulite e colecistite

Embora a maioria das pessoas tenha ouvido falar em apendicite, a diverticulite e a colecistite não são tão populares. No entanto, essas três inflamações, em estágios avançados, trazem sérios riscos de vida.

Apendicite

Apendicite - iStock - iStock
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Com formato de tubo, o apêndice cecal é um órgão localizado no começo do intestino grosso, do lado direito e inferior do abdome, por onde entram e saem as fezes. "A apendicite é um quadro de inflamação desse órgão, que ocorre após a obstrução da parte interna do apêndice e proliferação de bactérias em seu interior", explica Simone Reges Perales, cirurgiã do aparelho digestivo da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

"No início, essa inflamação se limita ao apêndice, mas com o passar do tempo ele vai ficando edemaciado, o que prejudica a chegada de sangue ao órgão e pode evoluir com necrose e perfuração", completa.

Não há como prevenir e pode acometer qualquer pessoa, porém é mais comum entre os jovens. Os principais sintomas são as fortes dores abdominais. Entretanto, muitos casos também vêm acompanhados de febre, náuseas, vômitos, falta de apetite, indigestão, diarreia e mal-estar generalizado.

Segundo os especialistas, a apendicite aguda é a emergência cirúrgica mais comum no mundo. E quando há evolução do quadro, a necrose da parede do apêndice pode levar a perfuração do órgão e o líquido intestinal pode vazar para todo o abdome.

"Se isso acontecer, o paciente pode ter uma infecção generalizada, que chamamos de sepse, com necessidade de cirurgia de urgência, antibióticos e internação em terapia intensiva. Esse estágio trata-se de um quadro grave, que pode oferecer risco de vida ao paciente", alerta Perales.

O tratamento é feito com a retirada do apêndice através de cirurgia, a apendicectomia, associada ao uso de antibióticos. Após a retirada, pessoa está curada 100%, na maioria dos casos.

É possível, em alguns casos bem selecionados, e após avaliação médica rigorosa, o tratamento ser feito apenas com antibióticos, mas são exceções.

Diverticulite

Intestino diverticulite - iStock - iStock
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Os divertículos do cólon são protusões em forma de bolsa que ocorrem em alguns pontos do intestino. A diverticulite aguda é a inflamação desses divertículos, principalmente na região final do intestino grosso, chamado sigmoide.

Ainda não se sabe porque essa inflamação ocorre, mas acredita-se que seja devido a obstrução desses divertículos, que leva ao aumento da pressão em seu interior, levando a inflamação, isquemia e perfuração.

Quando a inflamação se restringe ao divertículo, o quadro de diverticulite geralmente se manifesta com dor no lado esquerdo inferior do abdome, febre e sensibilidade abdominal, que pode estar associada a alteração do hábito intestinal, com diarreia e sensação de pressão na pelve. Se houver a perfuração do divertículo, o conteúdo intestinal oide vazar para todo o abdome, causando infecção generalizada.

O resultado disso será dor abdominal muito forte, febre alta, queda da pressão arterial, dentre outros sintomas. Nesses casos é necessário procurar um hospital para avaliação médica e realização de exames, como por exemplo a tomografia, considerada essencial pelos profissionais quando há suspeita de diverticulite.

"Feito o diagnóstico, depende do grau em que ela se encontra. Se for uma fase mais inicial, nós podemos tratar apenas com antibiótico, mas nos casos mais graves é necessário tratamento cirúrgico, tirar a parte do intestino que está comprometida, e isso é uma cirurgia de maior risco. Por isso devemos evitá-la", explica Marcelo Borba, médico da divisão de clínica cirúrgica do Hospital Universitário da USP e presidente da Associação de Coloproctologia do estado de São Paulo.

A cirurgia de emergência é reservada aos pacientes com dor abdominal difusa, sinais de contaminação de toda a cavidade ou para aqueles que foram tratados inicialmente sem cirurgia, mas que não tiveram melhora.

"Em alguns casos de recorrência de diverticulite pode ser indicada a cirurgia programada para retirada da parte do intestino acometida pelos divertículos com objetivo de evitar novas complicações, sendo uma decisão individualizada do paciente junto ao médico especialista", comenta Perales, da Unicamp.

Para evitar a diverticulite, é preciso ter hábitos de vida saudáveis, além de fazer cocô diariamente. Veja o que facilitar o surgimento da diverticulite:

  • Dietas pobres em fibras e ricas em carboidratos são fatores de risco para divertículos no intestino, portanto há maior possibilidade de diverticulite;
  • Tabagismo;
  • Uso de anti-inflamatórios;
  • Sedentarismo;
  • Obesidade.

Colecistite

Colecistite: dor na vesícula biliar - iStock - iStock
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A colecistite aguda é uma inflamação ou infecção na vesícula biliar, que é um órgão pequeno localizado abaixo do fígado, do lado direito do abdome. Esse problema ocorre principalmente devido a uma complicação da litíase biliar, a famosa pedra na vesícula, quando ela obstrui o canal de saída da vesícula. Menos de 10% dos pacientes podem ter colecistite sem a presença de pedras na vesícula.

Quando há essa inflamação, as dores são muito intensas e de longa duração, além de virem acompanhadas de febre, náuseas, vômitos e falta de apetite. Além disso, em casos de complicações podem aparecer sinais de infecção grave com dor em todo o abdome, pele amarelada, escurecimento da urina, fezes esbranquiçadas e obstrução intestinal.

Assim como a apendicite, não há como prevenir a colecistite. "Não há nada que você possa fazer que mude, ou seja, quem tiver que ter terá", afirma Adilon Cardoso Filho, gastro cirurgião e especialista em cirurgia geral.

A colecistite é grave, com uma mortalidade que pode chegar até 10% dos casos em pacientes com complicações. De acordo com Perales, a colecistite também pode evoluir com perfuração da vesícula biliar e contaminação de todo o abdome ou obstrução do canal biliar com infecção da bile, levando a uma infecção generalizada, chamada colangite.

"Começou com uma dor que ao invés de melhorar, piorou: esse é o momento e acabou seu período de esperar em casa. Procure um serviço de emergência. Essa é a recomendação magna", previne o gastro cirurgião, que explica que o tratamento da colecistite é cirúrgico.

"É preciso retirar a vesícula com as pedras e, muitas vezes, em quadros mais graves, deixar dreno. A vesícula não é um órgão que vai fazer falta, porque não é um órgão que produz nada, e se você não tem a vesícula, o intestino se acostuma com essa situação a curtíssimo prazo", diz o cirurgião.

Por fim, as três doenças têm um avanço muito rápido, logo, se você começou a sentir dores e 12 horas depois elas pioraram, e no outro dia a dor ficou insuportável, corra para um hospital.