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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Mania de perfeição tem prejudicado suas relações? 10 dicas para reverter

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Heloísa Noronha

Colaboração para o VivaBem

09/09/2020 04h00

Em um mundo ideal, o perfeccionismo deveria ser sinônimo de uma busca constante pelo aperfeiçoamento em todos os campos da vida: profissional, amoroso, social, familiar. Bem equilibrado e saudável, trata-se de uma característica que nos ajuda a evoluir e a conquistar nossos objetivos.

Porém, às vezes a mania de perfeição acaba se tornando exagerada, "engessando" o dia a dia, a rotina no trabalho e a convivência com as pessoas. Nesses casos, o perfeccionista exige demais de si mesmo. "O problema é que nem sempre o melhor de si é alcançável, pois a todo o momento a pessoa pensa que poderia ter feito melhor o que se propôs a fazer. E, assim, nunca estará satisfeita com as suas realizações", explica Marcelo Lábaki Agostinho, psicólogo clínico do IP-USP (Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo).

Dessa forma, o perfeccionista se converte em escravo da própria exigência, encontrando falhas e defeitos nos mínimos detalhes e vivendo sempre descontente. "No trabalho, se tiver um cargo de chefia o perfeccionista costuma pegar no pé dos colegas para tentar controlar tudo. Outra dificuldade é delegar tarefas. Como acredita que ninguém desempenhará uma tarefa de acordo com suas expectativas, cria situações difíceis e fica constantemente sobrecarregado", diz Nikolas Heine, psiquiatra do Hospital 9 de Julho, na capital paulista.

Para Yuri Busin, psicólogo e doutor em Neurociência do Comportamento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e diretor do CASME (Centro de Atenção à Saúde Mental), em São Paulo (SP), numa sociedade onde a excelência é valorizada, prezar pelo perfeccionismo pode ser algo positivo. Entretanto, existe um ponto em que o impulso pela perfeição pode ir longe demais.

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"Quando a motivação pela qualidade trabalha junto com o ego ou o senso de valor próprio de alguém, a mania de perfeição é prejudicial e até viciante para o indivíduo. Se alguém se sente bem apenas quando é perfeito, então terá que trabalhar mais e mais para não cometer algum erro inevitável. Nisso, a pessoa inicia uma jornada de dedicação desproporcional, potencializando seu nível de frustração quando não alcança o objetivo idealizado, gerando muito sofrimento", observa.

A exigência interna pode "vazar" para os relacionamentos interpessoais, de acordo com Agostinho, levando o perfeccionista a exigir, das pessoas com quem convive a perfeição como meta. A convivência vira um suplício, pois nada estará bom, limpo, bem feito ou organizado o suficiente aos olhos dele. Se identificou? Romper esse padrão nem sempre é algo simples, mas é possível com algumas mudanças no jeito de conduzir a vida. Eis algumas recomendações:

1. Assuma sua condição

Conscientizar-se desse processo constante de exigência interna é o primeiro passo rumo à liberdade. Aceite que a vida tem imperfeições e que toda pessoa pode cometer falhas.

2. Aceite que o que faz tem valor

"Mesmo que não atinja as altas expectativas que você alimenta", completa Agostinho. Limitar o número de vezes que irá refazer ou revisar um trabalho é uma ótima forma de exercer controle sobre o próprio perfeccionismo", endossa Busin.

3. Reflita: de onde vem a necessidade de ser exemplar em tudo?

Normalmente, esse traço de personalidade é gerado na infância, o que requer entender que criou padrões muito exigentes para si mesmo. Esses padrões provavelmente foram aprendidos com experiências com os pais ou cuidadores e sua baixa tolerância a erros. Porém, lembre-se: hoje você é uma pessoa adulta e pode definir suas próprias crenças e seus próprios modos de agir.

4. Entenda que cada pessoa tem um jeito próprio de "funcionar"

No trabalho, tente delegar —comece com tarefas menores. Em casa, domine as implicâncias em relação ao jeito de os familiares arrumarem ou organizarem as coisas. Ao reparar com olhos de crítica o comportamento alheio, você acaba sofrendo dobrado. Não existe um jeito "certo" ou "errado" de fazer certas coisas, mas o jeito de cada um concretizá-las. Experimente você também outras formas de realizar tarefas. Isso pode ser um hábito positivo para minimizar a angústia pela excelência.

5. Pratique esportes

Segundo Heine, os esportes radicais são os mais indicados. Skate, surfe e slackline, por exemplo, são esportes que exigem que você atue de forma criativa, espontânea e até artística, para superar problemas. "São atividades em que a preparação não é tão importante quanto a ação do próprio esporte", diz o médico.

6. Pratique o autoconhecimento

O medo de não pertencer, de não ser reconhecido, de ser rejeitado pelo grupo impede o indivíduo de desfrutar de suas próprias imperfeições. Reconhecer que não é perfeito requer uma dose de autoestima, segurança e, principalmente, humildade. "Todos cometem erros. Se uma pessoa não é boa em determinada tarefa, muito provavelmente é boa em outra. E lembre-se: seus medos e falhas, tão imperfeitos, ajudaram a construir a pessoa que você é hoje. A ideia de perfeição foi normatizada pela sociedade atual, algo que não é natural. Por isso, é preciso apreciar as peculiaridades, as falhas, a singularidade das coisas. Sinta as imperfeições, porque essas características são o que tornam você uma pessoa especial e única", pontua Yuri. "Avalie também se a busca pelo perfeccionismo não pode esconder imperfeições e insatisfações com as quais nem sempre quer entrar em contato", comenta Agostinho.

7. Alimente expectativas realistas

Trace objetivos possíveis de serem realizados, tendo como base as suas vontades e necessidades. Depois, dê pequenos passos. Pense nos seus objetivos de maneira sequencial, mas sem inflexibilidade. Concentre-se no processo de fazer a atividade, não apenas no resultado final.

8. Faça perguntas difíceis

Exemplos? "Eu tenho colocado metas impossíveis para mim?", "Se eu errar, qual é a pior coisa que poderia acontecer?" e "Se eu errar, posso aprender com a experiência?".

9. Saiba que "feito é melhor do que perfeito"

Em geral, muitos perfeccionistas são procrastinadores, porque dificilmente concluem um trabalho com medo do resultado. Vale impor um limite para correções.

10. Preste atenção aos exageros

O perfeccionismo pode se transformar em um transtorno de personalidade que exige um tratamento psiquiátrico se você sofrer demais no dia a dia, apresentando dificuldades de tomar decisões ou concluir atividades. Insônia, alimentação desequilibrada, falta de ar, sudorese e sintomas de ansiedade como taquicardia e pressão no peito merecem atenção.