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Não dê descarga sem espiar: o seu cocô pode dar pistas sobre a sua saúde

Essa conversa cheira mal? Até pode ser, mas é importante... - iStock
Essa conversa cheira mal? Até pode ser, mas é importante... Imagem: iStock

Patricia Julianelli

Colaboração para VivaBem

04/09/2020 04h00

O assunto é meio indigesto, é verdade. Dificilmente será tema de um bate-papo entre amigos. Mas se você ignorar totalmente o tema, pode acabar negligenciando sua saúde. Estamos falando das suas fezes. Sim, é preciso olhar com atenção para elas: seus diversos aspectos podem ser pistas para uma série de problemas.

"A cor, formato e consistência delas podem nos ajudar a entender o processo digestivo como um todo e a detectar eventuais inflamações, doenças digestivas ou até mesmo tumores", afirma Ricardo Barbutti, gastroenterologista do HC-FMUSP (Hospital da Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Diferentes formatos e seus significados

O formato do cocô pode nos dizer muito sobre nossa saúde, especialmente sobre a do intestino. "Ele reflete a consistência das fezes e eventuais problemas como constipação crônica", afirma Bruno Zilberstein, gastroenterologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

"Normalmente, aquelas fezes que lembram as de cabrito, em bolinhas, podem sugerir um quadro de constipação crônica, que geralmente está associado a uma lentidão na contração do intestino grosso", explica afirma Ricardo.

Já as fezes muito finas —que temos grande dificuldade de evacuar—, quando associadas a sangue, podem sugerir uma obstrução na parte inferior do colo. O que, por sua vez, pode estar associada a um problema inflamatório ou a um tumor benigno", diz Ricardo. Aquelas bem moles ou até mesmo líquidas, são sinal do quadro oposto: diarreia.

O assunto é levado tão a sério pela comunidade médica que pesquisadores criaram uma escala de cocô de 1 a 7, a chamada Bristol Stool Chart (ou escala de fezes de Bristol), uma maneira simples e rápida de você avaliar suas fezes. De forma geral, ela indica o seguinte:

O cocô ideal

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Imagem: iStock

A consistência das fezes pode ter algum significado desde que haja uma modificação do habitual que você vinha apresentando. "O normal são fezes firmes, íntegras, mas de consistência mais pastosa, moldável, que se adapta ao canal do ânus sem machucá-lo", afirma Zilberstein.

De forma bem geral, podemos dizer que a consistência das fezes sugere o quanto tempo elas demoraram para serem evacuadas. Aquelas que demoram às vezes dias nesse processo acabam ressacando mais e ficando bem duras. No caso das infecções intestinais, a passagem é tão rápida que não há a correta absorção de água. E temos a diarreia.

"Na verdade, tanto fezes muito líquidas como endurecidas podem estar associados a doenças infecciosas, parasitárias, inflamatórias ou mesmo neoplásicas (tumores). Por isso, se uma alteração no hábito intestinal perdurar, é preciso procurar um gastroenterologista para que o problema seja investigado", indica Barbutti.

O tamanho, em si, não quer dizer nada. Normalmente, a quantidade de fezes varia de acordo com a quantidade de fibras ingerida. Quanto mais fibras, mais bolo fecal nós formamos e, consequentemente, maior a quantidade de fezes.

Paleta de cores

Cocô amarelo e verde - iStock - iStock
Imagem: iStock

Um dos principais fatores que definem a cor das fezes é a bile, substância produzida no fígado e armazenada pela vesícula. A cor natural é o marrom, mas a paleta de cor vai geralmente de um amarelo claro a um verde-escuro. "Qualquer modificação como ausência da cor das fezes, que na verdade seria a cor creme bem clarinha, pode significar uma alteração do fluxo da bile. Como uma obstrução da via biliar por cálculos e tumores", afirma o gastroenterologista do HC-FMUSP.

Já as fezes negras, como piche ou borra de café, mais amolecidas e mal cheirosas podem significar um sangramento digestivo, normalmente do estômago, esôfago ou intestino delgado. Esse quadro deve ser observado e discutido com seu médico de confiança.

Assim como o sangue com as fezes, já que há várias possíveis causas para o problema, desde doenças totalmente benignas como hemorroidas e fissuras até colites, inflamações intestinais e tumores", explica Barbutti.

O que é isso no meu cocô?

Pedaços de comida podem ser encontrados nas fezes, dependendo do tempo de trânsito intestinal que o paciente apresenta. "Geralmente, elas aludem para um trânsito rápido e, eventualmente, para uma doença inflamatória", afirma o gastroenterologista da BP.

As fibras aparecem com relativa frequência. "E, quando falamos em fibras, falamos em qualquer carboidrato não digerido, ou seja, um açúcar que a gente não consegue quebrar e absorver", explica Barbutti. As fibras insolúveis são as responsáveis pela formação do bolo fecal e, dependendo da quantidade delas e da rapidez desse trânsito, essas fibras aparecem nas fezes. São fontes de fibra insolúvel: grãos, cereais, vegetais e talos de vegetais, verduras folhosas e bagaços de frutas.

E não são apenas seres inanimados que pode surgir... "Alguns parasitas, dependendo do tamanho, podem aparecer nas fezes e podemos fazer um diagnóstico só olhando para as fezes, como por exemplo tênia e áscaris lumbricoides", conta o gastroenterologista do HC-FMUSP.

Quando algo não cheira bem

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Se for só o cheiro, não há muito motivo de preocupação. Somente quando um cheiro muito forte está associado a fezes enegrecidas, aí sim existe a possibilidade de um sangramento digestivo.

O cheiro do seu cocô depende muito do tipo de alimento que você ingere e das bactérias que moram no seu intestino (a chamada microbiota intestinal). "Indivíduos com uma microbiota que se caracteriza pela produção do gás metano normalmente têm constipação intestinal e fezes com pouco ou nenhum mau cheiro. Já aqueles com um quadro mais tendendo a diarreia e com microbiota produtora de gás sulfídrico normalmente tem fezes e flatulências muito mal cheirosas", explica Barbutti.

Boia ou afunda?

Boia - iStock - iStock
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Fezes boiarem ou afundarem não significam grande coisa. Isso depende mais da quantidade de gás que existe junto com as fezes e, eventualmente, da quantidade de gordura encontrada nelas. E isso pode ou não ter algum significado. "Normalmente, as fezes com muita gordura também têm um cheiro mais característico. Mas daí normalmente, além das fezes boiando, nós vamos ver gotículas de óleo no vaso sanitário", diz Barbutti.

Você não precisa se tornar um fiscal do próprio cocô, fazendo uma análise meticulosa a cada ida ao banheiro. Mas, se houver alguma mudança no seu padrão, fique atento —especialmente se ela envolver sangue, desconforto ou dor— e, se ela persistir, procure um gastroenterologista.