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Médico usa técnica que implanta eletrodo no gânglio para tratar dor crônica

Método inovador implanta eletrodo no gânglio para tratar dor crônica, mas não serve para todos os tipos - iStock
Método inovador implanta eletrodo no gânglio para tratar dor crônica, mas não serve para todos os tipos Imagem: iStock

Bruna Alves

Colaboração para VivaBem

21/08/2020 10h00

Você sente dores crônicas mesmo seguindo o tratamento médico ao pé da letra? Já tentou de tudo, mas não vê resultados? Então eis o que pode ser uma boa notícia para você: é possível recorrer a uma nova terapia baseada no implante de um eletrodo nos gânglios nervosos —como se fosse um tipo de marcapasso para tratar dores crônicas.

A técnica foi adaptada por Guilherme Lepski, professor livre-docente da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), da Universidade Eberhard Karls (Alemanha) e neurocirurgião do HCor (SP), em parceria com pesquisadores alemães. Um estudo realizado com 62 pacientes demonstrou a eficácia do método.

Estimulação ganglionar - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Estimulação ganglionar para dor crônica
Imagem: Arquivo pessoal

Como funciona?

Basicamente, trata-se de um método definitivo e minimamente invasivo. No procedimento, o médico usa uma agulha e implanta no paciente uma bateria e um fino eletrodo que terá a função de emitir impulsos elétricos para estimular o gânglio das raízes nervosas. Antes, o que se dispunha no país era a técnica de estimulação da medula, não no gânglio —daí a novidade.

"É no gânglio que os impulsos dolorosos começam a ser processados, eles chegam pelos nervos machucados a uma alta frequência e são filtrados para baixa frequência, diminuindo a intensidade da dor", explica Lepski. "A gente enquadra esses tipos de tratamento como neuromodulação, ele modula o sistema nervoso por meio de eletricidade", acrescenta.

Com anestesia local, o procedimento é realizado em até uma hora e o paciente recebe alta no dia seguinte. Após o implante é necessário fazer um acompanhamento de rotina para avaliação do eletrodo uma ou duas vezes ao ano.

Não serve para todos os tipos de dores

O neurocirugião Guilherme Lepski - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O neurocirugião Guilherme Lepski
Imagem: Arquivo pessoal

A terapia é usada especificamente para tratar dores neurológicas, também chamadas de neuropáticas, isto é, causadas por lesões do sistema nervoso. Na prática, trata-se daquela dor que está presente dia e noite, e que quando você vai dormir, ela piora.

Além disso, não melhora com medicamentos, por isso o quadro é mais difícil. Segundo o neurocirurgião, um terço dos doentes não responde a nenhum tratamento.

O método, denominado "estimulação ganglionar para dor crônica" pode tratar todos os tipos de dores que envolvem os nervos. As mais comuns são causadas por:

  • Acidentes em geral - moto/carro/bicicleta que tenha atingido os nervos da perna ou do braço;
  • Fraturas, tiro, facada;
  • Cirurgias em que algum nervo foi lesado - endoscópica do joelho, cirurgia de hérnia abdominal, prótese de quadril, cirurgia de tórax, entre outras;
  • Neuralgia pós-herpética (cobreiro).

"A gente estima que de 7 a 8% da população mundial sofre de dor neuropática. No Brasil, tem um estudo que diz que pode ser até 10% da população, então estimamos que 21 milhões de brasileiros podem sofrer de dor neuropática", diz o especialista.

O CFM (Conselho Federal de Medicina) foi questionado sobre a nova técnica de neuromodulação, porém, como se trata de um novo procedimento, ainda não houve reunião interna para discutir o assunto.

A reportagem também entrou em contato por email e telefone com a SBED (Sociedade Brasileira do Estudo da Dor) para saber a opinião dos especialistas, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

No entanto, o eletrodo usado na técnica está devidamente aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Estudo foi feito com 62 pacientes

Em 2018 foi publicado o estudo realizado com 62 pacientes que possuíam algum tipo de dor crônica neurológica, e que não conseguiam melhorar com os tratamentos convencionais.

Esse grupo foi submetido à técnica em questão e acompanhado por um período de três anos. Durante esse tempo, os especialistas mediram diversos fatores como escala de depressão, intensidade da dor, índice de sofrimento, qualidade de vida do doente, entre outros.

"A gente encontrou uma melhora marcante nos doentes. Cerca de 80% tiveram melhora sustentada da dor, por três anos, que foi o tempo que durou o estudo", comenta o especialista.

De acordo com Lepski, a estimulação do gânglio é superior a medula ou de outras partes do sistema nervoso. Isso significa que os pacientes terão mais chances de melhorar com a estimulação ganglionar, do que com a terapia convencional já utilizada, que é a estimulação medular.

Esse também foi o resultado apontado em um estudo publicado em 2017, em que foi feita uma comparação entre os dois métodos.